Capítulo 76 :

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ARTHUR

De repente o mundo caiu. De repente toda a história linda e construída com respeito e amor entre mim e Carla desmoronou, desfazendo-se em pedacinhos à minha frente. Tive vontade de gritar, de fugir, de sumir... Desejei nunca ter existido para não precisar ouvir mais nada sobre isso. O ódio que senti de mim mesmo ao ouvir cada linha da história me despedaçou, dilacerou meu coração e toda a felicidade.

Por um lado, tudo fez sentido. Por outro, a dor de saber que decepcionei as duas pessoas que mais amo no mundo era impossível de ser suportada. Como pude ser tão horrível? Lá estava a vida me respondendo todas as perguntas quando sai da cama, deixando Carla sozinha e sem entender nada. Talvez aquela atitude me condenasse, mas como se faz para pensar na hora em que se descobre que tudo o que pensava existir era uma farsa? Quando fica ciente de que não se é o mocinho, mas sim o vilão da história?

Comecei a andar de um lado pro outro no quarto, impaciente, sem aguentar encarar os olhos de Carla por um segundo que fosse. A culpa pesava mais, a tristeza, a dor no coração que jamais senti... A história de Carla era minha história também. Estavam interligadas, linhas que viajam juntas e enfim se cruzaram. A resposta para tudo estava ali, na minha frente, exposta e frágil, incapaz de se fazer verdadeira aos meus olhos. Por minha culpa, única e exclusivamente, estava tudo acabado. Meus sonhos, planos, amores... Minha vida em geral.

Carla: Arthur... Eu... — Ela suspirou. Abaixei os olhos para o chão e levei às mãos a nuca sem forças — Sei que é difícil, mas não precisa ficar assim. Tudo bem. Acabou. Estamos bem! — seu tom de voz otimista me corroía o peito — Maria Clara e eu temos você agora... Não precisamos de mais nada.

Arthur: Não Carla, não... — respirei fundo sem ter aquela coragem que precisava — As coisas não são assim e... — antes de prosseguir me virei em sua direção e observei a forma como me olhava.

Estava segurando a ponta do lençol branco contra o peito, nua, os cabelos desalinhados e a pele avermelhada. Tinha um brilho tão mágico nos olhos... O brilho que só aparecia após uma noite de amor... Do verdadeiro amor. Por um segundo fiquei sem palavras, sem poder expressar tudo o que se passava em meu peito. O misto de sentimentos me colocava em dúvida entre soltar tudo precipitadamente ou esperar para ter certeza se minhas suspeitas eram reais. Claro, tudo indicava que sim, mas perder um só segundo com ela após um acontecimento tão lindo para nós dois não valeria esse possível sofrimento.

Carla: Por favor... Não fica assim — suplicou evitando soluçar, mas vi algumas lágrimas se formando em seus olhos aos poucos — Tudo o que menos quero é que você me veja com pena... De você não posso suportar isso, Arthur. De você não.

Algo me levou a caminhar de volta para a cama e me sentar em frente a ela. Fixei o olhar em seus olhos lindos e toquei sua bochecha, colando a testa dela com a minha. Respirei fundo tentando ser forte... Mentir não era o meu forte, mas apenas se pode mentir quando se tem certeza. Eu não tinha certeza de nada, mas meu coração dizia sim.

Arthur: Eu não tenho pena de você, ok? — especifiquei fazendo-a me olhar — Tenho pena das pessoas que te fizeram sofrer — de mim mesmo.

Carla: Mas já acabou — Ela tocou minha mão sobre seu rosto — Não me importo mais... — deu de ombros e sorriu — Isso... Isso já nem dói. Eu te amo, Maria Clara te ama... Estamos juntos, queremos que dê certo! Sinto-me melhor agora que me conhece de verdade e entende meus medos e comportamento. Isso é maravilhoso... — abaixou os olhos.

Sem dizer nada, afastei o lençol e me deitei ao lado dela na cama. Seu corpo sob o meu, os olhos nos meus olhos. Observei sua face por alguns segundos e percebi toda a confiança que tinha em mim naquele olhar... Era tão serena e diferente da mulher que um dia conheci... Mal existiam palavras para o presente momento. Toquei seus lábios brevemente com a ponta dos dedos, passando pelo pescoço até alcançar o topo de seu seio... O fechei em minha mão e observei seus olhos.

Arthur: A essa altura, não sei o que faria se perdesse você... — quando percebi, estava falando o que pensava em voz alta, mas nada pareceu surpreendê-la. Seu rosto estava absurdamente vermelho com as carícias que minhas mãos proporcionavam, mas não cogitei parar... Apenas avancei mais, roçando sua delicadeza contra a rigidez de minha pele cada segundo com maior intensidade.

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O Secretário. Where stories live. Discover now