Capítulo 80 :

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ARTHUR

Observei a Carla sentada em sua mesa toda elegante, conversando ao telefone com outra diretora de moda. As duas pareciam entretidas em uma conversa longa há vários minutos, debatendo as tendências. Terminei de realizar o meu serviço e suspirei encostando-me na cadeira. Observei o relógio e eram três e vinte. Observei Carla. O relógio. Carla. O relógio. Enrolei, mas tomei a decisão. Fiquei de pé sem fazer muito alarde e me aproximei da mesa dela fazendo sinal de que iria sair um pouco. Carla assentiu com a expressão um tanto confusa, pude notar.

Voltei para minha mesa, peguei o papel onde recentemente guardei a pesquisinha que fiz na internet e sai, dirigindo-me para o banheiro masculino. O lugar estava totalmente vazio, por este motivo não houve problemas em falar ao celular sem restrições. Olhei-me no espelho dois segundos, sustentando um papel azul e amassado em uma mão e o celular na outra. Preciso fazer isso! Enquanto não souber a verdade, enquanto não tiver a certeza de que sou o homem que doou esperma para a inseminação de Carla não conseguirei retomar minha rotina e viver novamente! É uma necessidade saber se Maria Clara é ou não minha filha!

Após refletir mentalmente, disquei o número do papel que me levaria à clínica do doutor André Brawn, mesmo lugar onde há sete anos doei material para inseminação. Esperma. Sem delongas fui atendido por uma moça simpática, que me ligou ao doutor Brawn após minhas alegações de urgência.

Brawn: Não posso acreditar... É mesmo você? — parecia rir do outro lado da linha, mas obviamente ironizando — Não acredito.

Arthur: Sim doutor. Sou Arthur Picoli... Nos conhecemos há sete anos, está lembrado? — meu coração estava tão disparado que mal podia me conter. Soava ridículo!

Brawn: Sete anos... — murmurou num suspiro — Pois é... Essa deve ser a idade da sua filha. Lembra-se dela também?

Minha voz faltou. Minha garganta fechou. Fiquei sem ar. Ele disse mesmo filha? Como homem, me envergonhei na hora, entendo suas reais intenções. Jogar tudo na minha cara, e tinha razão sobre isso.

Arthur: É exatamente sobre esse assunto que quero tratar com o senhor. Será que poderia abrir um espaço para mim em sua agenda? — lancei a isca e esperava que me atendesse.

Brawn: Sobre esse assunto? Depois de tantos anos? — pareceu absurdamente desacreditado.

Arthur: Exato. — Anvergonha era enorme, mas nada superava a curiosidade e necessidade de saber a verdade.

Brawn: Por certo... O arrependimento sempre chega, tarda mas não falha. Pode ser daqui a uma hora? Estou disponível.

Arthur: Oh, sinto muito, mas estou no trabalho. Trabalho na Delux e aqui as regras são claras e rígidas quanto a saída. Amanhã é sábado, então... Estou livre — expliquei.

Brawn: Trabalha na Delux? A empresa de moda da Rainha de Gelo? — foi então que ele percebeu... — Pelo jeito essa conversa será longa, senhor Picoli.

Arthur: Será doutor. Desde já, muito obrigado pela atenção.

Brawn: Agradeça mesmo. Depois de tudo o que fez com aquela jovem não merecia nem um pouco de minha credibilidade, senhor Picoli. — nada respondi, fiquei calado apenas digerindo a frase. Mais uma vez ele tinha razão.

Arthur: Então era uma menina? — murmurei quase sem voz, nitidamente emocionado — Como é o nome dela? Da minha filha... — pensei que iria chorar como nunca chorei, pois derramei uma lágrima tão rápido quanto pensei no rostinho de Maria Clara.

Brawn: Conversaremos sobre isso amanhã. Até mais senhor Picoli. — Desligou.

A hora de descobrir toda a verdade estava marcada.

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O Secretário. Where stories live. Discover now