Capítulo 65 :

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ARTHUR

Não parecia ser real. Ficamos na areia tomando champanhe e rindo das coisas que falávamos, com cuidado para não ficarmos muito bêbados. Eu principalmente, que ia dirigir de volta. Me  acostumar a poder beijá-la em qualquer momento, em ter a liberdade de me aproximar e senti-la perto era surreal, quase perfeito demais.

Carla: Você não chega e diz eu te amo pra qualquer uma, né? — continuava bebericando a taça enquanto olhávamos o mar. Deveria ser tarde, mais de meia noite, mas o tempo não parecia passar. Nossas roupas estavam molhadíssimas, por isso as estendemos no carro e ficamos de roupa de banho mesmo.

Arthur: Nunca disse, só pra você — bati levemente em seu cotovelo e ela sorriu, tocando meu braço também.

Carla: Quanto tempo vai levar para dizer pra outra? — virou a taça totalmente, e naquele momento percebi que eu estava preocupado em não ficar bêbado, já ela... Parecia nem se importar.

Arthur: A próxima que ouvir isso de mim vai te chamar de mamãe — abaixei a taça e a encarei, percebendo que estava surpresa com minha frase. Tocou a taça na minha e piscou.

Carla: Essa foi boa — tirei a taça de sua mão sutilmente para que não bebesse mais. Ela pareceu nem perceber — Mas não rola. Não terei mais filhos. Maria Clara é única.

Arthur: Por que não? — cheguei mais perto dela abraçando seu corpo perto do meu — Eu sou louco pra ser pai, confesso.

Carla: Sinto muito, mas não posso sabe? — soou convincente, porém estranho. Seria aquele o momento para tirar minhas dúvidas sobre seu passado? Com ela tão vulnerável? — Tenho problemas em relação a como os bebês são feitos.

Problemas em como os bebês são feitos. Aquela frase me arrepiou o corpo todo, me fez abaixar o olhar e suspirar. Seu rosto estava sereno, tranquilo, doce... Apreciava o mar como se fosse a coisa mais linda, mais perfeita que existia.

Arthur: Problemas? Que tipo de problemas? — por mais que no fundo não quisesse perguntar, quisesse manter o assunto totalmente dela, as palavras vieram e tive de questionar para acabar de vez com minha preocupação. Ela apenas me olhou e assentiu.

Carla: A única vez que isso quase aconteceu foi terrível pra mim... — encostou a cabeça em meu ombro, abraçando-me — Foi... Horrível. Não gosto nem de lembrar o que aquele... Aquele desprezível queria fazer comigo — um nó se fez em minha garganta, me impedindo de dizer algo.

Única vez? Quase aconteceu? Se houve apenas uma vez e mesmo assim não aconteceu, como Carla ficou grávida? A cada segundo minha mente trabalhava em busca de uma resposta, de um encaixe para o quebra cabeça sem fim, mas era impossível chegar ao censo comum. Uma gravidez sem sexo? Estupro quase consumado? O que estava havendo nessa história? O que era a vida da Carla?

Arthur: Carla... Como assim? Eu não entendo... — olhei para ela novamente após minha reflexão silenciosa de dez minutos e a vi dormindo em meu ombro. Abraçada a mim, parecia a coisa mais delicada e apertável do mundo.

Não tive coragem de despertá-la, de tirá-la do estado de sonolência bêbada que se encontrava. Delicadamente a peguei em meu colo e a deitei no banco de trás do carro, procurando um calçado no porta malas para eu poder dirigir. Beijei sua testa, cobri seu corpo com seu vestido já seco e a deixei dormindo.

[...]

Dirigi para casa com a cabeça a mil, querendo sempre achar uma resposta, mas nada se esclarecia. A única certeza que tinha era de que Carla Diaz e eu estávamos num relacionamento que iria dar certo. Pelo que parecia nos sentíamos da mesma maneira em relação ao outro, tínhamos o objetivo de ter uma família estável e se ela não queria ter mais filhos... Maria Clara estava bom. Tudo por ela, para que se sentisse segura.

Carla: Estraguei o passeio, né? — ouvi sua voz arrastada no banco traseiro e a olhei rapidamente. Estava deitada no banco com a mão na testa, os olhos fechados — Sou uma idiota.

Arthur: Você não estragou nada, cachaceira — Ela gargalhou levemente — Já está tarde, na hora de duas pessoas que trabalham amanhã estarem em casa.

Carla: Não tente encobrir os meus erros com desculpinhas — sentou-se com certa dificuldade.

Arthur: Jamais faria isso... Aponto seus erros bobos e dou risada deles. Assim como você é especialista em fazer comigo — assentiu se apoiando entre os dois bancos.

Carla: Isso é verdade... — mordeu os lábios e suspirou — Minha cabeça está doendo e dizendo... — fechou os olhos — Você falou besteira Carla, você falou besteira, Carla. Eu falei besteira?

Arthur: Besteira... Não. Está tudo bem — se ela não se lembrava, então resolvi deixar em off. No meio da estrada e com Carla meio bêbada não era o momento exato para discutir algo tão sério.

Carla: Ainda estamos namorando, certo? — sorriu e ironizou.

Arthur: Claro! Não vai se livrar de mim tão rápido assim querida... — assentiu e suspirou, apoiando a cabeça na mão.

Carla: Vou sentar ai com você... — fez uma manobra até se sentar ao meu lado e ficamos rindo disso — Põe uma música se não vou dormir.

Liguei o rádio na primeira estação que vi e estava tocando Kelly Carlkson. A musica era velha demais, mas quando ameacei tirar Carla segurou meu pulso.

Embarquei tanto na música que quando acabou não acreditei que Carla estava chorando. Parecia querer esconder de mim, pois estava com o rosto em direção à janela, mas vi perfeitamente uma lágrima deslizar por sua bochecha e rolar até pingar. Sem saber o que fazer, comecei com o óbvio. Atento a direção, estiquei uma das mãos até pegar a dela em seu colo. Comecei a cantar a mesma música e, meio hesitante, Carla me seguiu. Essa era minha intenção. Libertar-me. Libertá-la. Nos libertar daquele passado que nos comprometia e nos prendia a lembranças ruins.

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