Capítulo 95 :

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ARTHUR

Há muitos anos eu não bebia como bebi essa noite. Gustavo me enquadrou no corredor da Delux antes de sair para minha reunião e me intimou a dar uma saída com ele e alguns caras. Recusei na hora, é claro, mas ele insistiu...

Gustavo: Está todo mundo vendo que você está na fossa por alguma coisa, cara. Não custa nada dar uma espairecida... — bateu em meu ombro amigavelmente.

Aceitei, afinal... Porque ela podia sumir quando quisesse e eu não? Ela podia me deixar e eu ainda teria que curtir a fossa sozinho? Saí da reunião às sete horas da noite, fui para casa, tomei um banho e saí novamente com os caras. O barzinho em que fomos era até que comportado, se meu humor não fosse tão arriscado, diria que agradável. Sentei com Gustavo em uma mesa, mas decidi remoer meus problemas calado. Carla não gostava de divulgar sua vida com o pessoal da Delux.

Bebi um Martini. Dois. Três. Uma cerveja. Duas cervejas. Quando percebi, estava quase tonto demais. Gustavo me ajudou a chegar em casa por volta da meia-noite daquela segunda. Subi tropeçando em tudo e me joguei no sofá. Coloquei uma música ridícula pra tocar e fiquei curtindo sozinho, afinal, minha fossa. A música era daquelas mais bregas que se pode imaginar... Até que começou My Heart Will Go On e tudo piorou. Droga. Titanic? O filme mais romântico do mundo? Amor. Pelo menos a história de Jack e Rose não era real. A minha era e muito!

Estiquei-me e peguei o celular em minha jaqueta caída no chão ao lado do sofá. Comecei a digitar uma mensagem, mesmo bêbado igual a um idiota. Mandei também um pedaço da música.

Arthur: Como eu disse: sem você nada tem sentido. Não quero mais viver.
Love can touch us one time and last for a lifetime
And never let go till we're gone"

Não demorou e ela me respondeu.

Carla: "Você não vai viver sem mim."

Respirei fundo e notei o que quis dizer. Inverter os sentidos.

Arthur: "Sabe do que eu falo. Apenas sua presença não é o suficiente."

Carla: "Divertiu-se com seus amigos na zona hoje?"

Arthur: "Não."

Arthur: "Está se divertindo longe de mim?"

Carla: "Não."

Arthur: "E o que isso significa?"

Carla: "Love was when I loved you, one true time I hold to
In my life we'll always go on"

Acordei com a maior ressaca do mundo. Saí de casa arrumado como toda manhã, terno, gravata, pasta, sapatos caros, porém cansado e com a maior dor de cabeça do mundo. Coloquei em uma rádio calma enquanto dirigia, mas tudo apenas piorava minha fossa. Cheguei à Delux um pouco tarde, para ser exato, meia hora mais tarde.

Thaís: Bom dia senhor party everluar. — ironizou quando me viu, sentada em sua mesa perto do elevador. Assim que a vi usando um vestido rosa claro, me lembrei de que Carla tinha um igualzinho em um tom mais escuro. Apenas serviu para me deprimir — Quer um café?

Arthur: Pode deixar que pego, Thaís. — assenti sem querer atrapalhá-la. Tentei sorrir — Alguém me ligou?

Thaís: Não... Quer dizer, sim. — Nem dei importância, apenas assinei o ponto em cima de sua mesa. Enquanto escrevia, fui pego de surpresa pelo que disse — A madame fatal te ligou ontem.

Arthur: Carla? — ergui os olhos rapidamente e quase deixei que tudo caísse. Thaís assentiu positivamente — O que ela queria?

Thaís: Aparentemente queria saber como vai seu desempenho. Porém, lá no fundo, acredito que queria mesmo era falar com você. — deu de ombros — Realmente acho que vocês devem se acertar. Só acho!

Arthur: Ótimo... — suspirei recordando as mensagens da noite anterior. Eu poderia estender a conversa, mas de nada serviria — Vou pegar meu café ok? Um bom dia! — saí de lá com uma das mãos na testa e entrei em minha sala, que sempre dividi com Carla. Ver sua cadeira solitária me fez lembrar de que era assim que eu me sentia. Solitário. Sempre sozinho.

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