Capítulo 27 - Arrependimento.

Începe de la început
                                    

— Você acordou cedo. — Carlos iniciou, vendo o solavanco que o amigo deu ao notar sua presença.

Fernando mal encarou-o e recolheu os braços de cima da mesa.

— Desculpa te assustar. — Carlos voltou a dizer, vendo-o arrastar a cadeira para trás no mesmo instante. — Bom dia.

— Bom dia. — O artista cumprimentou-o, o encarando por poucos segundos, parecendo agitado com sua presença.

Fernando colocou o caderno debaixo do braço e com uma das mãos segurava o lápis e a borracha. Com a outra, tentava limpar os farelos de cada vez que apagava os esboços e traços errados. Fez tudo isso com pressa.

— Você não precisa sair da mesa. Eu sei que eu sou estabanado com as coisas, mas juro que não vou derrubar café nos seus desenhos. — Carlos tentou brincar, mas riu sozinho.

— Tudo bem, já estava terminando. — O artista rebateu, tirando o caderno debaixo do braço após limpar a mesa.

Carlos viu o que ele desenhava por um curto intervalo de tempo e quando quis dizer algo, o outro já estava se retirando do cômodo.

— É um desenho bonito... — Acabou dizendo para si mesmo, sem sorriso algum em seu rosto.

Não entendia aquela urgência do amigo em se afastar. Quase quis se revoltar, mas o copo de água sobre a mesa deixou claro que aquilo não se tratava de um simples desentendimento.

Carlos olhava para o cômodo mais do que limpo e organizado. A pia vazia e tudo guardado. Na geladeira, os ovos, queijos, iogurtes e tudo mais que sempre comiam no café, parecia intocado. Até mesmo a comida que tinha embalado para ele no dia anterior ainda estava intacta.

Não sabia se aquilo tudo era um recado que Fernando queria deixar. Mas o amigo parecia temer sua presença e qualquer outro julgamento que pudesse receber. Os comportamentos do artista estavam iguais, senão piores, ao dia em que ele havia chegado em sua casa.

O que Carlos já tinha notado, mas só parecia doer mais agora, era que o amigo não o olhava nos olhos, pelo menos, não por muito tempo. Fernando parecia cada vez mais distante.

Sua fome passou instantaneamente, qualquer apetite que tivesse foi substituído por um gosto amargo na boca. Seu desconforto era tão grande que também queria poder fugir da própria presença. Nesse momento não se sentia bem consigo mesmo e nada parecia promissor para reverter o que havia feito.

Andou poucos passos para o quintal ao ver que a porta estava aberta. Kid parecia feliz perseguindo os pássaros intrusos. E ao ver o dono, correu feliz em sua direção. Carlos conseguiu abrir um sorriso mesmo em meio à imensidão de sentimentos ruins que o dominavam.

Kid lambia seus dedos durante as carícias que recebia e se deliciava do chamego. Carlos se abaixava na altura dele, sentindo todo o amor que o cão demonstrava apenas por vê-lo. Não entendia como um bichinho que o conhecia há tão pouco tempo poderia ter um amor tão incondicional.

— Você é o único que vai me amar mesmo eu sendo um monstro, não é? — Disse baixinho para o cão, com sua voz prejudicada pelo choro que surgia.

♢♦♢

Mesmo com companhia, a casa parecia vazia. Carlos cozinhava em silêncio, apenas ouvindo o barulho da própria bagunça que fazia na cozinha. Não fazia ideia de até quando aquela situação esquisita continuaria e esperava que fosse só uma questão de tempo.

O que o preocupava era: quanto tempo?

Kid aparecia, acompanhado de quem o outro estava sentindo falta. Fernando se servia e bebia apenas um copo d'água com pressa, ao mesmo tempo que ajeitava a mochila nas costas. Tal gesto chamou a atenção de quem cozinhava.

Indigente [COMPLETA]Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum