—E aí tem conserto? —Sheilla riu, voltando à sacada com um vinho, enquanto a loira, sentada com as pernas dobradas, tentava afinar um maltratado violão.
—Senta aqui pouquinho, senta She.—Mari sinalizou carinhosamente para seu colo sorrindo, tirou o violão, e puxou a morena para baixo pelos quadris.
—Hum... é sério? Parecia seduzida pelo violão. —Sheilla se senta.
—E sou, eu amo um violão. —Mari sorria, enquanto contornava a cintura de Sheilla. —você é um violão, olha isso, amo corpo assim.
—Marianne, Marianne.
—O quê?
As duas deram risadas.
—So falta ter ciúme de você mesma precisa parar com isso, foi só jeito de dizer She.
—Eu vou parar, Mar.
—Você é tão cheirosa, She.—Mari afastou o cabelo de Sheilla do pescoço, beijou-a, mordiscando de leve.
Sheilla jogou a cabeça para trás, apoiada nos ombros de Mari. Totalmente entregue a aquele chameguinho. Bebiam na mesma taça. Mari provocava-a com a boca, falando "coisas" ao seu ouvido.
—Não ache que serei fácil agora, Marianne. Exijo uma serenata, e das boas! "Solos de guitarra não vão me conquistar" —Sheilla cantou.
—Na verdade, solos de violão me conquistaram sim! E eu quero você, como eu quero!—A morena riu.
—Sabia que essa música fala de uma relação altamente tóxica, She?
—Sério? Poxa, cortou meu barato hein solzinho?
—Sim, foi escrita como um "toque" para o guitarrista que era manipulado pela então namorada. Ela queria controlar ele. A maldita. —A loira riu.
Mari tocou um trechinho de Como eu quero, puta com o violão ainda desafinado, sobre o colo de Sheilla. As duas cantaram.
🎶(...)Tramas do sucesso
Mundo particular
Solos de guitarra
Não vão me conquistar
Uh eu quero você
Como eu quero
Uh eu quero você
Como eu quero
O que você precisa
É de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho
Em arte final
Agora não tem jeito
'Cê tá numa cilada
É cada um por si
Você por mim e mais nada.
Será se eu sou tóxica com a Mari? Fabi dizia isso de mim sempre. O ciúme maldito é toxicidade? —Sheilla pensou rapidamente.
—Mar de Deus, estamos magras demais, olha isso! você toca o violão comigo aqui no colo confortavelmente.
—Estamos só ossos. Zé vai te matar em Saquarema. —Mari riu. —Bom, senta aqui do lado. Preciso providenciar essa serenata. Tenho interesses numa certa conquista.—Ela riu torto para Sheilla. —Tem coragem aqui na sacada?
—Você quer ir presa é? Fosse no Brasil eu arriscaria.
—Cobrarei. —Mari deu risada.
—Bom, mas então She, está desafinado à beça. "Anginho" não merece esse brinquedinho.
Mari tinha encontrado o violão de Angelo num canto da sacada, quando, com Sheilla, minutos antes, olhavam a iluminada noite dos últimos dias em Istambul.
A loira recomeça a afiná-lo aos poucos, enquanto as duas conversam. Conversavam sobre o clima, os sons da cidade, as luzes e as impressões de ambas dali. Depois de um breve silêncio a expressão de Mari já indicava que os acordes estavam melhores.
Sheilla gostava de observar Mari concentrada em instrumentos. Eles faziam, enfim, ela parar um pouco.
—Mar?
—Oi princesa...
—Ta aonde?
—Aqui com você...
—Aqui agora. E quanto ao futuro??
—She...
—Responda por favor, aos pouquinhos estamos conversando.
Sheilla beijou Mari com carinho. Mari retribuiu ainda centrada no violão.
Falar o que Sheilla? Eu senti tanta dor.
Eu tenho medo de sofrer de novo...
As dores sentidas, das palavras não ditas.
Mari não falou de sua dor e medo.
A loira olhou a morena. Ainda que confusa, ela responderia.
—Aqui e agora Sheilla. O amanhã eu não sei, não sabemos. E o passado, bom, sem palavras! me entende?
—Entendi sim. Me deixará tentar construir um caminho novo para nós duas? Se você achar que o meu amor precisa ser novo também, eu tento te conquistar de novo. Do zero.
—Sheilla beijou Mari devagar, apaixonada.
—Acho que não é um bom momento para firmar promessas Sheilla.
—Como assim Mar?
—Você conhece a natureza jurídica do seu casamento She? —Mari recentemente tinha passado a conhecer algumas coisas.
—Sim! Quer dizer, eu acho, sei lá.
—Não, não conhece. Olha Sheilla, Eu nunca pedirei que deixe seu casamento. Entrou nele sozinha.—Sheilla engoliu em seco.
—Por favor, não condicione suas decisões a nada que envolva minha pessoa. Não pense que é simples como se uma troca de casa, de cama. Desse lado de fora das redes sociais a VIDA É REAL e ela é difícil She.
Mari era doce e meiga enquanto dizia. Segurou o queixo de Sheilla e deu um suave beijo.
—Você não é mais a jovem Sheilla e nem eu a jovem Mari, como já te disse. Tem um hiato imenso em nossos caminhos She. Éramos uma só. Hoje há diferentes caminhos e planos bifurcados para nós. E eu olho, olho e não consigo ver um palmo adiante sobre a gente.
—Tudo bem não sermos as mesmas Mar. Tem coisas positivas nisso...Eu era louca. —Sheilla falou convicta.
—Há um hiato que eu quero fechar Marianne, se você deixar.
Mari, e se após a Olimpíada, a gente ficar a próxima temporada fora, na Itália, ou onde você quiser meu solzinho só nós duas. O que acha? Fomos, e estamos tão felizes fora do Brasil. Pensei que podia dar certo. Descansar, recomeçar. Longe de tudo.
Marianne não quis tocar mais no assunto jurídico do casamento de Sheilla com medo de expor a si própria e à sua fonte. Mas tinha dado um toque.
—Minha prioridade absoluta agora é a minha mãe, She. Nesse restante de temporada, ficarei com ela. Talvez eu feche com algum clube perto dela depois.
Fora do Brasil não sei se jogo mais, por mamãe também. Paraplégica, idosa e Viúva precisando de mim por perto.
Tem sido uma decisão tão difícil, abrir mão do vôlei internacional sabe, mas perdi meu pai e isso pesou muito. Mas, é certo que eu também quero viajar pelo mundo, descansar, conhecer países sem aquilo de apenas de clubes, ginásios para hotéis como sempre foi.
E não teria companhia melhor que a sua She. Mas eu não posso de me iludir a seu respeito...de novo. Então, Não sei o que dizer diante de tudo.
Era o mais franco desabafo que Mari conseguia verbalizar sem mexer nas antigas feridas que talvez a levassem a magoar Sheilla profundamente colocando para fora suas mágoas.
Sheilla olha Mari calada. Mari a considerava uma desilusão. E ela foi sim. Quase chorou. Mas julgou que nem esse direito tinha.
—E se a gente ir para o vôlei de Praia juntas Mar? Imagina aí Shari de volta na areia.
Sheilla sorriu feliz.—No Brasil mesmo e Fodam-se todos!
—Shari de novo e na praia semi-nuas? Os fãs morreriam. —Mari Sorri, fazendo menção a dupla que eram e a multidão de fãs que arrastavam para vê-las juntas. —É uma ideia. Penso na praia sim.
Para a oposta, Mari parecia evasiva nas respostas. Sheilla ficava mal.
O que Sheilla não via era que Mari queria tanto que pudessem estar juntas. Mas tinha feridas demais para acreditar em promessas frágeis.
Mari Olhou um pouco o céu escuro de Istambul. Era o último dia delas ali. Olhava também para o seu céu moreno ali diante dela, cujos olhos brilhantes eram suas estrelas preferidas.
A ponteira não deixava transparecer, mas, a cada plano de Sheilla, a loira buscava no céu alguma estrelinha cadente em trânsito para pedir reforço para que o que Sheilla prometia se realizasse e elas fossem felizes.
A oposta ia tecendo planos que só o futuro atestaria a veracidade daquilo. Princesas sem príncipes, conto de fadas de fato, castelo: Rocha ou areia? O futuro diria.
—Mari, nunca saiu da minha cabeça quando me pediu para deixá-la em paz naquela noite maldita! Eu hoje aqui, não sei como explicar, tô sentindo tanta coisa, não sei te dizer, eu queria saber expressar, Me questiono se te sufoquei correndo atrás de você todo esse tempo, talvez você nem me queira mais.
Mas é que sem você eu vivo sem paz, sem amor entende? Cê teve paz Mar? Esse tempo todo?
Mari ouviu a pergunta de Sheilla, refletiu um pouco, e com som já adequado do violão, ela resolve responder Sheilla tocando e cantando.
"(...)
Paz, é tudo que eu venho tentando encontrar
Mas, me vem a saudade fazendo lembrar
Tentei evitar
Tentei esquecer tudo o que me lembra você
Tentei não te amar
Mas olho no espelho e nada de me reconhecer
Só vejo você
Se bate um desespero
No mesmo instante o que eu quero é você
Pra me abraçar
Já não importa o tempo
Não tenho medo de me arrepender
Não vou controlar...
(Alerta: o abominável aparece no vídeo)

—Como não te querer Sheilla? Eu te amo.
Elas ficaram abraçadas um longo tempo na sacada, se curtindo. Mari tocava, as duas cantavam.
No quarto, as malas de Sheilla estavam prontas, anunciando que o retiro de amor chegava ao fim.
—Você está pensando fechar com qual clube Mar?
—She, eu vou parar uns 5 meses. Cuidarei de uma obra em Rolândia, e resolverei algumas pendências de investimentos, sabe? Mas o Bauru tem avançado mais no meu quesito de interesse.
—Eu sinto falta, de ler seus contratos, as campanhas, autorizar entrevistas e emissoras. Ficar no estúdio te acompanhando sem ninguém ver...saber sua agenda, discutir nossos investimentos. É tão estranho não saber tudo que te envolve. —Sheilla riu triste.
—Faz falta sim She, era tudo junto, quase tudo igual.
—Talvez, eu consiga ainda, dividir a vida com você. —Sheilla falou baixinho.
Sheilla não aguentou mais a superficialidade da loira.
—Mari, Às vezes tenho a sensação que você não acredita em nada do que eu falo. Parece que cai ao vento, todo o amor que declaro. —Sheilla suspirou. —Tem alguma outra pessoa Má?
Eu estou certa em sentir isso Mar?
—Eu tenho medo Sheilla. Estou com muito medo.
O olho de Mari se encheu d'água.
—Eu tenho medo também, de te decepcionar de novo , medo de mim, medo de fazer mais burradas, e te perder de novo sem nem ter te reconquistado Mar.
Mari não conseguia se abrir como Sheilla. Falar claramente seus medos era doloroso para a loira. A nuvem carregada de dor do passado certamente apertava sua garganta.
Elas se olharam demoradamente. Medo. Distintos medos, mas ambas tinham medo. Elas se abraçaram.
—Só depende da gente Marianne.
—Não Sheilla, não é.
E você, o que pretende fazer? —Mari mudou o foco.
—Bom, ganhar a Rio 2016. Resolver umas coisas com o...você sabe. Deixar a seleção, tirar férias, correr atrás de uma loira aí...
—Uma loira é? Que interessante.
—Uma gostosa de olhos azuis, que é a dona do meu coração. E depois, quando ela me der uma chance, eu serei muito feliz, e quem sabe a gente tenha nossa sonhada loirinha de olhinhos azuis como a mãe dela.
—Mas não era essa tal loira que queria uma filha moreninha como a mãe? —Mari entrou na brincadeira.
As duas jogadoras sorriram.
—Eu poderei ir à Rolândia nesses 5 meses Mar?
—Por que não poderia She? Todo mundo lá ama você.
Sheilla sorriu contente. De repente seu rosto se entristece.
—Com certeza me receberá como amiga lá não é? Rolândia das visitas amigas...Levou muitas lá depois de mim?
—She, penso que esse tipo de conversa não vai nos ajudar.
—É claro. Me desculpe. Mar, se importa que eu retorne a ligação? —Sheilla se dirigiu ao celular que parava de tocar.
—Claro que não She.
Mari percebeu Sheilla triste depois que falou de Rolândia.
Sheilla voltou ao quarto e ligou. Da sacada, Mari deduziu ser para Breno. Embora quem tenha atendido inicialmente foi "Anginho".
Sheilla conversou pacificamente com o marido, prestando as informações que ele havia solicitado por mensagem, já que ela não tinha o atendido, por motivos de estar ouvindo a loira gemer ao seu ouvido mais cedo.
A única coisa pessoal da ligação, foi perguntar pelo resultado do último jogo de basquete e desejar bom jogo. Mas isso Sheilla faria até para a Gamova, sua grande inimiga em quadra.
Mari disfarçava o seu ouvido atento, mexendo no celular. Não percebeu afetividade na conversa dos Blassioli. Temia "um beijo, te amo", quando foi surpreendida por uma mensagem curta no seu telefone:
Anginho 🏐🇮🇹
Pega leve aí filha da puta rsrs...Te amo loirão, sdds.
—Puta que o pariu—Marianne pensou e sorriu.
—Mar? —Sheilla chamou.
Mari se assustou com Sheilla e quase derrubou o celular do prédio.
—Meu Deus, estava distraída, que susto. Que foi She? Aconteceu alguma coisa?
—Sim...
Será que quem não estava faltando estava vindo para a Turquia? Mari pensou.
—O que foi?
—Estou já com saudades de você. Insegura e com medo do Brasil. Precisamos mesmo voltar agora Mar?
—Bom, nesse momento sua viagem é ao paraíso. O resto a gente vê depois.
Mari pegou Sheilla no colo.

💕Notas da autora💕
Hoje saindo capítulo mais cedo!!!
Como estão todas? E aí os planos da Sheshe, castelos de pedra ou de areia!?
Na Real Life, Marianne hoje cortou de novo a lateral do cabelo 🤣🤣🤣 Sheilla que lute, já que ela já deixou claro que não gosta que Mari corta assim.