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KATRINA

Desci os degraus com dificuldade, a mala estava pesada, e pra minha surpresa, minha mãe me esperava na sala.

-Pra onde você vai? –Ela perguntou.

-Estou dividindo um apartamento com algumas garotas. –Dei os ombros e me curvei para fechar o zíper da mala que estava aberto.

-E você acha que isso vai dar certo? –Ergui meu rosto e a encarei.

-Não tenho certeza de nada... –Levantei. – Só sei que ninguém vai voltar a mandar em mim. Já passou da hora de ser a protagonista da minha história, saber quem sai e quem entra. Eu sou a minha única dona.

-Parece estar decidida. –Ela falou meio sem jeito. –Sempre foi uma garota indecisa... –Ela colocou a mão em seu queixo e olhou pra baixo, parecendo lembrar de algo. –Sempre quando íamos comprar algo pra você, e alguém colocava mais de uma opção em sua frente, você virava e me encarava, e por fim falava: “Qual eu escolho, mãe?” –Ela levantou o olhar. –Lembra? –Assenti tentando conter as lágrimas, eu não choraria ali, não agora, não em sua frente outra vez.

-Claro que lembro... Lembro também de como a senhora dava os ombros e falava: “Você quem vai usar, Katrina. Escolhe logo!” –Falei e ela sorriu.

-Não é pessoal... Você sabe que eu nunca tive paciência, muito menos com criança. Seu pai morreu muito cedo, e me deixou com uma grande responsabilidade, um fardo p... –A interrompi.

-Um fardo? –Falei sorrindo incrédula. –É serio que você usou a palavra “fardo” para me nomear em nossa despedida? –Balancei a cabeça negativamente. –Adeus, mãe... Boa sorte com sua vida, e minha palavras ditas a minutos atrás, continuam valendo... Mesmo depois desse seu infeliz comentário. –Peguei a alça de minha mala e arrastei pela sala, passando direto pela mulher que deveria me amar incondicionalmente, mas obviamente nunca foi assim. Um peso saiu de minhas costas assim que sai porta a fora, respirei o mais fundo que pude.

Por mais que em minha lista imaginária, o “acerto” com a minha mãe tenha falhado, eu fiz minha parte, fiz o que pude, então a “meta” foi riscada e ponto.

Segundo passo? Quem meta? Quem sabe eu riscaria ainda hoje... Assim que fechei o portão, vi que Pedro estava fora do carro, escorado na porta e mexendo em seu celular, antes que eu pudesse falar algo, fui prensada no muro da casa vizinha com brutalidade, fechei meus olhos e soltei o ar ao sentir minhas costas em atrito com o cimento saliente do muro. Só então vi quem foi o responsável: Pietro!

-O bom filho à casa retorna! –Pietro falou com aquela voz fria e vaga, que causava arrepios em minha espinha, mas antes que eu tentasse me soltar, ou ao menos responder, Pietro foi tirado de minha frente em segundos, foi tão rápido que se eu piscasse, não teria visto! Pedro o tirou de perto de mim, fazendo o mesmo que ele havia feito comigo segundos atrás, o jogou contra a parece com uma força que não imaginei que ele teria.

-Você ficou louco? –Pietro esbravejou tentando se livrar de Pedro. Coloquei a mão em meu ombro e fiz uma careta ao sentir uma ardência. –Me solta! –Pietro rosnou. Olhei em volta, tinha algumas pessoas na rua, mas parece que ninguém havia notado aquela cena.

-Então você é o Pietro? –Pedro falou com um sorriso que ainda não conhecia, e pela primeira vez, tive medo do Pedro, dei alguns passos para trás e observei a cena com certa distância. –Você nem sabe o quanto eu estava ansioso para te conhecer! –Pedro segurava Pietro pelo colarinho da camisa, e usava seu braço para “imobilizá-lo”, pois colocou o mesmo no pescoço de Pietro, fazendo certa pressão, aos poucos vi a cor sumir de sua boca e seu rosto ficar vermelho. Pietro tentava reagir, mas a cada segundo parecia ficar sem forças e sem ar.

-Man-manda ele... El-Ele me-me soltar, Katri-Katrina! –Ele murmurou já sem forças.

Parte de mim queria que Pedro continuasse, que fizesse isso até Pietro dar seu último suspiro, eu continuava a olhar a cena atenta, acho que se eu pudesse me ver naquele momento, diria que haveria um brilho em meu olhar, e até mesmo um sorriso perante aquela situação. Mas antes que eu pudesse... Ou não, falar algo, Pedro soltou meu “meio-irmão”, que escorregou pela parede e começou a tossir sem parar, ele se atrapalhava pois tentava tossir e respirar ao mesmo tempo. Ao ver que uma garota passaria por ali, Pedro curvou-se e colocou a mão sobre o ombro de Pietro, fingindo estar ajudando o mesmo, mas assim que a garota se afastou, Pedro voltou a segurar Pietro pelo colarinho da camisa, agora amarrotada. Pela primeira vez, vi o medo no olhar de Pietro, seus olhos estavam arregalados, sua respiração pra lá de descompassada, e posso jurar que vi sua boca tremer.

-O que foi, cara? –Pedro falou com um tom irônico. –Fiquei sabendo que você gosta de fazer isso com a Katrina... Gosta de bater. Gosta de exercer sua força contra pessoas mais fracas. –Ele inclinou a cabeça para o lado enquanto encarava o Pietro. –Acontece que eu também gosto... Acho que a nossa única diferença, é que eu bato em gente do meu tamanho... Não sou covarde.

-Eu não faço nada. –Pietro falou, em uma tentativa desesperada de ser “homem” perante essa situação, acertou um soco na boca de Pedro, que com o gesto inesperado foi pra trás. Com esse gesto, ganhamos platéia, algumas pessoas da rua já observavam a cena, outras saiam de suas casas para olhar.

Pedro passou o polegar em seu lábio e olhou, vi que tinha sangue, Pedro não demonstrou fraqueza e voltou a atacar Pietro.

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