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KATRINA

Demorou cerca de quarenta minutos para chegarmos em uma enorme casa, ou melhor, mansão! Era incrivelmente grande! Olhei para aquela construção totalmente admirada.

Matheus desligou o carro, virei para tirar meu cinto e vi o quanto ele estava mal com aquela situação. Ele encarava o volante com uma expressão vazia. Parecia perdido em suas próprias lembranças.

-Matheus? –Toquei sem ombro. –Está tudo bem? –Perguntei quando não obtive resposta. Ele assentiu. Era a primeira vez que presenciava Matheus assim, quer dizer... Vulnerável. Ele estava muito vulnerável. Não era o meu Matheus. –Se quiser podemos ir... Podemos ir embora. –Falei. Ao ver o quão abalado ele estava, toquei seu rosto e fiz com que ele me olhasse. –Olha pra mim. –Pedi. Ele não fez. –Matheus, olha pra mim... Por favor. –Depois de um longo silêncio, finalmente ganhei o olhar azul do Matheus. –Podemos ir embora se você quiser. –Falei. –Não precisamos entrar. –Insisti.

-Vamos entrar. –Ele falou, mas eu não conseguia ver certeza em sua postura. Era como se o modo automático tivesse tomado conta dele. –Eu estou bem, Katrina. –Ele falou. "Não. Você não está bem!"

-Tem certeza? –Perguntei.

-É claro! –Ele colocou a mão por cima da minha, segurando a mesma e dando um beijo em seguida. Sorri com sua atitude. –Vamos entrar logo, pra irmos embora logo. –Ele sorriu brevemente, apenas assenti e me inclinei para beijá-lo, Matheus selou nossos lábios.

-Eu te amo. –Murmurei ainda próxima de seus lábios. Presenciei o seu sorriso com minha declaração.

-Você adora falar isso. –Ele falou. –E eu adoro escutar. –Ele afirmou, deixando-me surpresa. Pois era isso, viver com Matheus, era viver cercada de surpresas.

-Vamos logo. –Eu disse. Matheus afastou-se de mim e saiu do carro, imitei seu gesto. Ele circulou o carro e parou ao meu lado, estendendo sua mão para mim. A segurei com forma, queria passar segurança para ele. Era irônico pensar nisso, afinal, Matheus era um homem de quase dois metros, não aparentava ter medo de nada. Ou melhor, quase nada... Seu passado o amedrontava de uma forma maçante, era notável.

Caminhamos de mãos dadas até a enorme porta, Matheus tocou a campainha e bufou exausto.

–Eu cuido de você! –Falei em um tom bem humorado, o imitando como daquela vez, como havia falado para mim quando contei meus traumas.

-E eu de você. –Matheus me ofereceu aquele sorriso que eu tanto amava. Mas logo fomos interrompidos por Elena, a mãe postiça de Matheus.

-Finalmente chegou! –Ela falou animada enquanto o abraçava. Quando o soltou, me olhou surpresa, ela certamente não  esperava me ver ali.

-Oi, Elena. –Falei envergonhada por sua reação.

-Olá, Katrina. –Ela sorriu. –Vamos, entrem... –Ela falou dando passagem, antes de entrarmos, ela entrou uma pequena caixa para Matheus, lançando um olhar cúmplice, Matheus encarou o embrulho frustrado e resmungou algo para a sua quase mãe. –Não reclame! Apenas entregue a ela. –Ela o repreendeu. Matheus concordou contrariado.

Quando enfim entramos na sala, ganhamos os olhares de todos que ali estavam presentes. De imediato reconheci três pessoas que digamos assim... Não estavam na minha lista de melhores amigos: Henrique, Melinda e Pietro. Todos estavam surpresos por nossa presença.

-Filho! –Uma mulher loira de aparentemente cinqüenta anos exclamou. Era ela. Ester. A mãe negligente de Matheus.

-Oi mãe. –Matheus falou. Apertei sua mão, tentando passar confiança, tentando passar a mensagem de que ele não estava sozinho naquele momento, mesmo eu estando completamente ameaçada pela presença de Pietro.

Matheus estava indo em direção a mãe, até que pareceu notar as pessoas em volta, ele travou de imediato.

-O que esse cara está fazendo aqui? –A voz raivosa de Matheus encheu o ambiente, ele apontou agressivamente para o Pietro, fazendo com que os outros poucos convidados que ali estavam olhassem para ele.

-O Pietro? Filho... –Ester falou constrangida enquanto sorria sem graça e se aproximava do filho. –Pietro é o melhor amigo do seu irmão, quer dizer... Você nunca se importou com a presença dele aqui... –Matheus não sabia dele, o que sabe agora. Sua fúria irradiava ao seu redor, causando certo receio em mim.

-Matheus... –Pedi.

-No telefone você disse estava doente, nem iria sair da cama e... –Ele olhou para os lados sorrindo de maneira debochada. –Pra uma enferma, você está muito bem, Ester. –Matheus falou de uma forma tão dura, que o sorriso de sua mãe sumiu de imediato.

-Pietro é da família, Matheus. –Henrique falou, olhamos para ele, que sorria de maneira provocativa... Com certeza ele estava querendo começar uma briga. –Quase um irmão pra mim. –Ele sorriu para o “amigo” sentando ao seu lado, que observava a situação calado e com um sorriso nos lábios. Doente! São dois doentes! –Além disso, Pietro é meu padrinho de casamento, achei a situação propicia para conversar sobre os detalhes da cerimônia. –Ele continuou, sua voz era tão ofensiva quanto o resto dele. Aquilo era um ninho de cobras. Cobras prontas para dar o bote.

Como um milagre, Sophia chegou na sala trazendo com ela uma bandeja cheia de coisas, assim que nos viu tratou de sorrir.

-Vocês chegaram! –Ela falou animada, mas ao perceber o clima tenso do local, deixou a bandeja sobre a grande mesa e se aproximou de nos ainda sorrindo. –Você trouxe um presente para a mã... –Matheus a interrompeu.

-Elena quem comprou. –Matheus falou. –Na realidade nem sei o que é. –Olhei para ele e tive que conter o riso. Matheus estava sobrevivendo a situação da maneira que mais se encaixava: Sendo o homem hostil de sempre.

-Tenho certeza que vou gostar filho. Fico feliz que tenha vindo, fiquei agoniada pensando que não vi... –Matheus tornou interromper.

-Eu não queria vir. –Ele falou, ganhando o olhar de reprovação de Sophia.

-Mesmo assim fico feliz em saber que mudou de idéia. –Mesmo diante do grande fiasco, Ester tentou a atenção do filho. –Ganho um abraço pelo menos? –Ela o encarou esperançosa. Matheus continuou parado como um pedra ao meu lado. O silêncio se instalou na sala de uma maneira esmagadora.

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