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KATRINA

-E o Matheus? –Perguntei.

-Ela não o levou... –Ela falou tristemente. –O deixou na casa com meu pai.

-Por que? –Perguntei.

-Acho que no fundo ela gostava do meu pai, e não suportaria viver com a lembrança dele na casa nova, pois Matheus sempre pareceu muito com meu pai, como já te disse. E isso seria demais pra ela. –Olhei pra baixo, imaginando um menino de quatro anos vivendo tal situação, a mãe o abandonou com o pai enfermo... –Meu pai ficou furioso e a processou por abandono de lar e veio a ganhar a causa, a deixando sem direitos, sem direito a herança. –Assenti. –Minha mãe claro, ficou abismada, e irritada, pois julgava ter direito. Tentou recorrer, mas de nada adiantou. –Ela suspirou. –Meu pai não durou muito, dois meses depois acabou falecendo, e mesmo com tal situação, minha mãe não se fragilizou... Matheus deixava viva a imagem do meu pai, e minha mãe estava irritada demais para “suportá-lo” agora. –Falou.

-E o que aconteceu com o Matheus? –Perguntei perplexa.

-Matheus foi morar com nossa avó materna. –Ela falou. –E então, minha mãe fez a vida dela novamente, casou-se com o pai do Henrique, o meu padrasto.

-Ah... Então Matheus e Henrique são “meio-irmãos”? Assim como você? –Perguntei.

-Exatamente. –Falou. –Matheus viveu doze anos com a minha avó, que infelizmente veio a falecer. Como a guarda dele estava com a minha avó, ela o emancipou um pouco antes de falecer, e com dezesseis anos ele já era independente. Uns dois anos antes disso, o Miguel, meu padrasto morreu, e com isso veio as lamentações, minha mãe acabou tendo um surto de arrependimentos, e com isso tentou o perdão do Matheus, que nunca veio, claro... Não tiro a sua razão, pois desde muito novo, lidou com a rejeição e com o abandono dela, que mal telefonava em seus aniversários ou dadas especiais... Foi muita coisa para uma criança vivenciar. –Ela falou. –O Miguel deixou minha mãe com uma vida confortável, ela vive mais do que bem, mas mesmo assim não consegue o que tanto deseja... O perdão do Matheus. Que continua irredutível. Não o julgo, até o compreendo. –Ela continuou. –Matheus e ele nunca tiveram um relacionamento bom, até tentaram, mas...

-O quê? O quê houve? –Perguntei.

Sophia então, pegou o álbum e abriu na mesma foto que havia tentado esconder de mim minutos atrás, a foto do Matheus com a tal menina.

-Essa é a Melinda... –Ela apontou para a menina.

-Sim... O que tem haver tudo isso? –Perguntei sem entender.

-Matheus e ela namoravam há pouco mais de dois anos, já planejam até casar no ano seguinte, mas ela o traiu. –Franzi meu cenho e balancei a cabeça.

-Sério? –Ela assentiu. –Com que? –Ela me lançou um olhar que já disse tudo sem ao menos uma palavra sair de sua boca. –Henrique... –Falei pasma com tal revelação.

-E pra piorar, ainda estão juntos. –Falou. –São noivos. –Sophia falou. –Desde então, Matheus já não é o mesmo.

De repente, tudo parecia ser obvio. O comportamento do Matheus, a birra que tinha com Henrique, seu isolamento...

Ele sabia perfeitamente o que eu estava passando, sabia o que era viver sem a figura materna ao lado, sem a proteção, sem o afeto! Ele foi negligenciado desde muito novo.

Por isso sua revolta com a minha mãe, ele talvez pensasse que tudo isso era sua culpa, pois se ela estivesse fazendo sua função que é ser “mãe”, isso jamais teria acontecido, o que não deixa de ser verdade, pois quem sabe, se ela tivesse mais zelo por isso, toda essa desgraça poderia ter sido evitada.

-Matheus a amava, era louco por Melinda... Faria qualquer coisa por ela. –Sophia continuou. –Ela o deixou vivo novamente, era sua salvação, mas mostrou que tudo isso era ilusão do meu irmão. Matheus ficou transtornado, e mesmo perante a tudo isso, minha mãe ficou a favor do Henrique, como sempre fez... –Sophia falou amargurada. –Eu amo meus irmãos, não faço distinção, mas meu carinho sempre vai reinar pelo Matheus, pois eu o admiro, ele foi forte, mas de um jeito errado. Ele se tornou desse jeito, amargurado, incapaz de amar novamente... Quer dizer, até você aparecer. –Sorri e balancei a cabeça.

-Eu? –Falei. –Obviamente você está cega... Matheus não gosta de mim, são só as circunstancias que nos aproximaram.

-Pode não amar tanto quanto amou Melinda, mas é muito cedo para fazer tal comparação... No entanto, qualquer um pode ver o quanto você mexe com ele, existe um sentimento... E posso dizer que é recíproco. –Ela falou sorrindo. –Posso ver que você também gosta dele. –Meu sorriso se desfez, e meu rosto queimou, devo ter ruborizado.

-Eu não... –Falei tentando disfarçar.

-Matheus é muito cabeça dura pra entender esse carinho que nutre por você, mas no fundo você já sabe o quanto gosta dele... –Ela falou. –Talvez ele estivesse enganado. –Sophia falou.

-Enganado? –Perguntei e ela assentiu. –Como assim?

-A salvação dele nunca foi, Melinda... –Ela sorriu. –Talvez a redenção dele seja você, desde o princípio. –Sophia falou.

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