111

1.7K 152 26
                                    

Maratona 7/7

KATRINA

Boa parte da nossa tarde foi nesse ritmo, entrando aqui e ali, comprando e saindo. Matheus não disse nada, só que eu conseguia entender seu olhar de impaciência. Parecia estar aborrecido com tudo isso.

Depois que comprei uma calça jeans em uma loja do segundo piso, vi que Matheus me aguardava sentado em um dos bancos, fui até ele e sentei ao seu lado, ele apenas me olhou e continuou em silêncio, fiz o mesmo que ele.

Ficamos assim por uns dez minutos, aquela situação era insustentável.

-Podemos ir? –Ele perguntou sem me olhar após um longo silêncio.

-Podemos. –Falei pegando duas sacolas que estavam aos meus pés. Matheus fez menção de pegá-las, mas eu apenas recuei e balancei a cabeça. –Não precisa. –Falei enquanto olhava em volta disfarçando.

-Eu já volto. –Ele falou e saiu.

Voltei a me sentar, enquanto isso abri uma das sacolas e conferi o que tinha dentro, fiquei nessa tédio por vinte longos minutos, estava quase indo atrás dele, mas eu não sabia onde ele estava então por onde começar em um shopping com dois pisos e centenas de lojas? O jeito era esperar mesmo.

Dez minutos depois Matheus apareceu segurando uma sacola preta nas mãos, minha curiosidade foi atiçada e eu estiquei o pescoço para tentar ver do que se tratava, mas infelizmente, não consegui.
Balancei a cabeça e peguei as sacolas, e fui ao encontro dele.

-Pronto? –Falei com tédio. –Demorou muito! –O repreendi.

-Fiquei a tarde inteira com você aqui, posso dizer que estamos parcialmente quites. –Ele falou tomando as sacolas das minhas mãos e sorrindo com deboche.

-Blá-blá-blá. –Retruquei enquanto revirava os olhos. –Você fala muito.

-Digo o mesmo. –Ele respondeu. O olhei e fiz uma careta, Matheus balançou a cabeça e foi na frente, até a cabine onde se pagava pelo ticket do estacionamento. O esperei, foi rápido, e logo saímos do shopping, confesso que até eu estava exausta e pude respirar de alívio. Matheus parecia tão, ou até mais aliviado que eu. –Está com fome? –Ele perguntou assim que entrou no carro. Estava faminta!

-Morrendo! –Falei e ele sorriu brevemente, assentindo em seguida enquanto saia enfim daquele shopping que tomou nossas últimas horas.

Matheus seguiu com o carro até o que parecia ser um restaurante, ficava no centro da cidade, eu nem ao menos sabia da existência daquele lugar, já Matheus, parecia estar familiarizado ao ambiente. Assim que descemos, Matheus se apressou para ficar do meu lado, o olhei com estranheza, e ele percebeu, pois até se afastou um pouco.

Era um lugar bacana, pouca luz, moveis de madeira e o cheiro era incrivelmente chamativo. Era evidente que não era o habittat natural do Matheus, mas como ele mesmo havia dito, eu não estava vestida para ir ao “um bom lugar”.

Sorri ao olhar minha roupa que claramente era bem “ralé” ao compará-la com as outras garotas que ali estavam.

-Já decidiram o que vão pedir? –Um jovem rapaz com a camisa com o emblema da loja apareceu em nosso lado segurando um bloco de notas. Olhei para o Matheus, que ainda verificava o cardápio como se fosse uma prova. Revirei os olhos e voltei a minha atenção para o menino.

-Sim. –Sorri. –Esse lanche aqui... –Apontei para o cardápio.

-Acompanha a porção?

-Por favor. E um copo gigante de refrigerante e... –Olhei novamente para o cardápio. –Para a sobremesa eu vou querer um milkshake grande de chocolate. –Falei e sorri em agradecimento. Olhei para o Matheus que parecia estar abismado com tamanha fome, mas acabou rindo e balançando a cabeça.

-Quero o mesmo que ela. –Ele falou sem olhar para o atendente. Dei os ombros e fiquei mexendo no porta toalha que ficava no centro da mesa, estava tentando a todo custo não olhar para o Matheus, só que foi quase impossível quando ele segurou meu pulso cautelosamente, ergui minha cabeça e novamente ele ganhou minha atenção.

-O que foi agora, Matheus? –Falei em um tom exausto, tentando puxar meu pulso.

-Com você não tem meio termo. –Ele falou meio irritado. Fiz uma careta enquanto o encarava.

-O que foi agora, Matheus? –Perguntei novamente. E do nada, uma pulseira surgiu na mão direita do Matheus, ele a segurava enquanto me encarava de volta. Ele demorou alguns segundos para enfim colocar a pulseira em meu braço, e quando terminou, sorriu satisfeito. Ergui meu braço e o trouxe mais próximo de mim, observei a pulseira que balançava em meu braço, eu nunca entendi de jóias, na realidade, tive poucas e de valores baixíssimos.

Como toda adolescente com uma vida “normal”, o que eu tinha de monte eram bijouterias.

Tinha uma pedra verde no centro da pulseira, era delicada, o restante parecia ser de ouro, e obviamente bem cara. Fiquei encarando aquele adereço em meu braço por longos minutos, até que cai em si e voltei a encarar Matheus, que retribuía com um olhar ansioso.

–O que é isso? –Perguntei.

-Uma pulseira. –Ele falou. Balancei a cabeça e suspirei.

-Rei do descobrimento... –Retruquei impaciente. –Ao que se deve esse presente? –Seus lábios se moveram duas vezes, antes de enfim responder a minha pergunta.

-É um presente. Um recomeço, por... –Antes que ele pudesse falar algo, o garçom o interrompeu trazendo nossos pedidos, Matheus o olhava impaciente, tanto que o garoto percebeu e se apressou para sair dali.

-Um recomeço? –Perguntei sem demonstrar reação.

-Sim. Podemos até dizer, que é o nosso futuro, uma trégua. –Ele falou sorrindo. Olhei para a pulseira e depois para ele. Depois de um longo suspiro, relaxei meu corpo e abri o fecho da pulseira, a tirando e entregando para o Matheus.

-Não podemos ter um futuro, quando você discrimina meu passado, e vive reclamando sobre o nosso presente. –Falei e recolhi minha mão vazia.

O encarei e ele me encarou de volta, ele parecia não acreditar em minhas palavras, segurava a pulseira na mão e hora ou outra seu olhar se distanciava.

Contei até dez mentalmente enquanto puxava uma toalha e começava a comer.

EVAWhere stories live. Discover now