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KATRINA

Fiquei parada diante da “fogueira”, que Kenedy havia acabado de fazer... Assistindo cada coisa que já me pertenceu ser queimada.

-Agora vem! –Ele ordenou do outro lado.

Continuei no mesmo lugar. Kenedy então soltou alguns palavrões e tornou a me chamar.

–Katrina, vem aqui! –Ergui meu olhar e o encarei.

-Você acha mesmo que vai conseguir respeito dessa maneira? –Perguntei. –A única coisa que receberá de mim é desprezo... –Falei. –E o único sentimento ou sensação vai ser repulsa... Nojo! –Completei. –Pois é isso que eu sinto por você: Repulsa!

-É melhor você calar a boca antes que...

-Antes que o que? –Desafiei. –Antes que você venha aqui e me puxe pelos cabelos outra vez? –Dei os ombros. –Aguentei coisa bem pior por quase cinco anos... –Voltei a encarar o fogo. –E outra... –Balancei a cabeça e respirei fundo. –É muito fácil, não é? –Ao ver seu silêncio continuei. –É fácil bater em mim, ou em qualquer pessoa inferior a você. Você se acha o dono do mundo, mas não passa de um grande covarde... –O encarei outra vez. –Um covarde que se acha grande coisa... –Sorri. –Agora vem, acaba comigo... Mostre seu melhor, mostre como você impõe e ganha respeito, senhor covarde. –Ok... Perdi o único juízo que existia em minha cabeça? Não, a resposta é não! Não se perde algo que você nunca teve.

Eu estava mais lúcida do que nunca! E o que ele poderia fazer comigo? Bater em mim até dizer chega? Vivi minha vida inteira lidando com abusos diários, agressão agora não parecia ser diferente ou coisa maior.

-Você se acha superior a tudo isso? –Kenedy falou. –Você é tão baixa quanto eu... Tão ferrada quanto eu, Katrina... –Ele sorriu com desdém. –O que você acha? Que ele vai te tirar daqui, dar uma aliança te pedir em casamento? Te apresentar pra mãe dele? –Ele falou com sarcasmo. –E depois? Deixa eu adivinhar... Vão casar, ter uma casa, dois filhos e um cachorro? –Ele balançou a cabeça sorrindo. –Pessoas como você, nunca são felizes... Nasceram em meio ao caos, e vão permanecer assim pra sempre. Você vai ficar aqui até eu enjoar, mas te garanto... A última coisa que você vai querer é que eu enjoe de você, Katrina... –Ele desviou do fogo e veio até mim, segurou meu rosto com brutalidade e fez com que eu o encarasse. –Você não teve estar ligando muito pra sua vida, mas aposto que liga pra vida daquele otário, não é? –Fiquei em silêncio. –Pois é... Se quiser que ele continue vivo e com aquela carinha que você tanto gosta, é melhor me obedecer. Entendeu? –Ele usou ainda mais força em meu rosto.

Eu apenas balancei a cabeça, e sorri, sorri com toda graça que existia em mim, Kenedy lançou-me um olhar furioso, mas eu não parei.

-Você é um covarde mesmo. –Falei. –E isso é algo que jamais você vai conseguir mudar. –E é claro, tive minha resposta de maneira nada agradável.

Fazia algumas horas que Kenedy havia me trancado em seu quarto.

Meu rosto ainda ardia por conta dos diversos tapas que Kenedy me ofereceu por tê-lo chamado de covarde, isso fora os diversos hematomas em meu braço, que mais parecia uma peleta de cores, tons roxos se destacavam em minha pele, mas eu não me arrependia, até sentia minha alma lavada por conta das verdades ditas.

Já estava escurecendo, Kenedy e Pedro haviam discutido. Pois Pedro não concordava com sua atitude, mas lógico, o “dono do mundo”, não se deixou levar, ouvi perfeitamente quando disparou centenas de xingamos e saiu porta a fora dizendo que iria pra boate.

Uma a uma as meninas iam se arrumando para seu trabalho nada convencional, Pedro as levaria.

-Katrina? –Ouvi um sussurro do outro lado da porta. –Katrina? –Insistiu. Levantei da cama e fui até a porta, apoiei meu corpo na porta e fechei os olhos.

-O quê? –Falei.

-Está tudo bem? –A voz perguntou. Era o Pedro.

-O que você acha, Pedro? –Respondi mal humorada. –Estou presa. Kenedy queimou minhas coisas, e estou com zero de otimismo... As coisas são vão piorar. –Ouvi ele bufar do outro lado da porta.

-Relaxa, loira... Logo Kenedy abre essa porta e... –O interrompi.

-E o que? –Perguntei irritada. –Kenedy é um doente... Não há nada que você possa fazer contra isso. –A tendência será a decadência. –Ouvi o riso do Pedro.

-Poeta? –Perguntou e eu não pude deixar de sorrir.

-Bobo... –Falei. –Quero sair daqui, Pedro... –Falei tristemente.

-Eu vou levar as meninas, e depois disso vou direto pra boate, vou tentar convencê-lo. –Ele falou.

-Não sei se você é muito otimista ou apenas iludido. –Falei e virei, apoiando minha cabeça na porta e olhando para o chão. –Kenedy vai me deixar aqui por um bom tempo...

-Você o chamou de covarde, Katrina... –Pedro falou. –Vi Kenedy fazer coisa muito pior com pessoas que disseram coisas mais irrelevantes pra ele.

-Não me arrependo. –Falei.

-Eu sei. –Pedro falou, mesmo não podendo vê-lo, sabia que estava sorrindo. –Você é pessoa de um metro e meio mais corajosa ou burra que já conheci... –Pedro falou e eu sorri. –Eu tenho que ir, Valentina e Morgana desceram... –Ele se afastou da porta, mas logo ouvi seus passos. –De qualquer maneira, eu volto mais tarde e conversamos mais com essa porta aqui como empecilho. –Sorri novamente.

-Então tchau... –Ouvi o riso de Pedro.

-Até. –Ele falou e segundos depois, ouvi a porta da frente ser trancada.

Ótimo! Agora eu ficaria sozinha, trancada e frustrada.

EVAWhere stories live. Discover now