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KATRINA

Não tive o que responder pois não sabia as palavras certas para serem usadas naquele momento.

-E a Ester também tenta agradá-lo de todas as formas, pede para que eu faça os doces que o Matheus gosta desde menino... –Ela fez uma careta. –Como se eu precisasse da permissão e dos conselhos dela para cuidar do meu menino. –Sorri em resposta. –Se deixar ele vive de restaurantes, e fast-food. –Assenti.

-Homens comem qualquer coisa. –Ela assentiu e abriu uma das travessas de vidro.

-Esse é o doce favorito do Matheus. –Me debrucei sobre a bancada e olhei atentamente ao conteúdo, parecia ser uma torta.

-Torta? –Perguntei ainda olhando para o doce.

-Sim... É de chocolate e nozes, ele simplesmente ama! –Ela falou completamente sorridente.

-Parece ser boa. –Falei sorrindo.

-Quer experimentar? –Ela perguntou.

-Adoraria. –Falei. Ela abriu um dos armários e pegou uma tigela daquelas de sobremesa e uma colher.

-Você parece ser bem novinha. –Ela me olhou rapidamente enquanto pegava a torta pra mim.

-Tenho dezoito anos, dona Elena. –Falei. –Daqui há alguns meses faço aniversário, mas vai demorar um pouquinho.

-Aqui. –Ela me entregou a tigela de vidro. –É uma jovem muito bonita.

-Obrigada. –Sorri sem jeito.

-São somente amigos mesmo? –Ela perguntou com um olhar cúmplice.

Dei os ombros e peguei uma colherada da torta.

-É o que parece. –Falei.

-Você gosta dele? –Acho que devo ter corado com essa pergunta. –Nem precisa responder... –Ela falou enquanto ria baixinho.

Ela não perguntou nada após esse questionamento vergonhoso, eu comi minha torta em silêncio enquanto assistia ela arrumar a cozinha e passar pra lá e pra cá com as roupas do Matheus.

Ela parecia ter seus sessenta anos, pele bem tratada e cabelos grisalhos presos cautelosamente em um coque bem feito, vestia um conjunto preto bem passado e cheirava a perfume caro. Tinha um sorriso doce e alegre, um olhar marcado pelas marcas de expressão, mas não deixava de ter sua beleza.

Quase duas horas depois, ela despediu-se e disse que voltaria na manhã seguinte e eu voltei a ficar sozinha naquela casa imensa.

O dia praticamente se arrastou, assisti quase dois filmes e um episódio de uma série que nem sabia que existia.

Engordei diversas calorias e vasculhei aquela casa de cima a baixo. Estava tudo muito entediante!

Quando estava perto das 19h, resolvi tomar um banho já que Matheus ainda não havia dado sinal de vida.

Então assim fiz, tomei um longo banho e “me arrumei”, como podia, pois foram poucas as peças que eu trouxe, peguei uma regata branca e um short de cintura alta escuro. Penteei meus cabelos e fui até o quarto do Matheus, abri seu guarda-roupa com cautela e não achei o que eu procurava, então fui até o seu banheiro e bingo! Na grande pia de mármore, tinha alguns perfumes, embalagens de vidros escuros e alguns claros, perfumes importados e alguns que eu nem sabia que existiam, ali também tinha loções daquelas de barbear, espuma e aquelas coisas de homens... Depois de espirrar uns três perfumes na toalha de banho do Matheus, achei o que eu procurava. Um frasco pequeno e azul, era o perfume que ele usava em seu cotidiano, o cheiro que eu tanto amava.

Sem poder me conter, borrifei duas vezes em meu corpo e sorri assim que o cheiro forte se instalou no ar.

Agora eu tinha seu cheiro em meu corpo, não como das outras vezes, não como eu queria, mas de certa forma tinha.

Ouvi o barulho do portão eletrônico e corri para o meu quarto apressadamente, puxei minha cortina e me debrucei sobre a janela para vê-lo entrar, mas pra minha surpresa, ao invés dele entrar com seu carro, ele entrou acompanhado de um homem, pareciam conversar pois gesticulavam muito, então fechei a janela e resolvi descer, as vozes dos dois já ecoavam pela enorme sala do Matheus.

Eu havia deixado praticamente todas as luzes ligadas lá embaixo, então ouvi perfeitamente quando o outro homem perguntou.

-Visita em casa? –Perguntou.

-Sim. –Matheus respondeu. –KATRINA? –Matheus me chamou.

Desci as escadas devagar e sorri de maneira simpática para Matheus e para seu amigo, que até o momento estava de costas para mim, mexendo em seu celular.

-Boa noite. –Falei ainda sorrindo.

O homem então virou fazendo com que meu sorriso sumisse, assim como os meus batimentos. O homem do outro lado da sala era um dos meus clientes, ele pareceu surpreso por alguns segundos, mas em seguida distribuiu um largo sorriso.

-Boa noite. –Ele falou ainda sorrindo, mas seu sorriso já não era tão inocente assim.

Eu fiquei imóvel. Matheus parecia estar alheio a situação, talvez não entendesse que já nos conhecíamos, mas percebeu a postura um tanto quando “estranha” de seu “amigo”.

-Vamos terminar logo aqueles cálculos, Lucas. –Matheus falou de maneira grossa ganhando a atenção do amigo.

EVAWhere stories live. Discover now