The First Ones

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A Seleção Feminina de Etéria foi a primeira a vencer uma Copa do Mundo de futebol feminino, em 1991.

A primeira vez que futebol feminino foi disputado nas Olimpíadas, em 1996, mais uma vez as eterianas foram as primeiras a levar a medalha de ouro para casa.

Terem sido as primeiras a vencer os dois títulos mais importantes do futebol feminino conferiu às garotas de branco um apelido pelo qual elas são conhecidas até hoje: "The First Ones". "As Primeiras".

E há apenas alguns minutos, Etéria se tornou a primeira finalista das Olimpíadas, após derrotar a Austrália por 2 a 0. Agora, as atletas eterianas se amontoam no vestiário em volta do celular de Scorpia, muitas com suas toalhas enroladas no corpo ou penduradas nos ombros, nenhuma tendo ido tomar banho. Elas assistem a prorrogação do jogo entre Brasil e Estados Unidos na outra semifinal.

No tempo normal, acabara em 1 a 1. Logo, Adora começara a puxar uma torcida intensa a favor do Brasil, imitando o canto da torcida brasileira.
- BRASIL! – palmas rápidas – BRASIL! – palmas rápidas. Elas cantam e torcem como se elas mesmas fossem brasileiras, e Netossa observa toda a situação com surpresa no rosto, achando graça.

Logo depois da prorrogação começar, no entanto, a atacante dos Estados Unidos marcara o segundo gol delas, conquistando a vantagem no placar: 2 a 1. Isso não é nem de longe suficiente para acabar com a animação das jogadoras eterianas, que logo começam a inventar seus próprios cantos.

A lateral brasileira divide a bola pela direita, toca para a volante que substituíra Formiga. Ela troca passe com a outra volante e lança Marta na corrida com a zagueira. A brasileira pedala, finta pra dentro, driblando a rival, e parte pra cima.
- VAI, BRASIL! VAI, BRASIL! – Adora deixa escapar gritinhos agudos, ciente da chance de ouro. Marta chuta forte de esquerda, e... a goleira espalma pra linha de fundo com a pontinha dos dedos. As eterianas lamentam.

Do outro lado do mundo, naquele mesmo momento, uma outra brasileira quase surta diante da televisão, gritando feito uma condenada em desespero com a chance perdida, enquanto sua mãe acha que ela está reagindo de forma exagerada e Luana assiste à partida quieta, com olhos concentrados.

A juíza apita o final do primeiro tempo da prorrogação.

Os Estados Unidos estavam sendo imparáveis até então: num grupo forte, com Suécia e Canadá, terminaram com três vitórias em três jogos, a única equipe com 100% de aproveitamento da primeira fase, além do melhor ataque, com 8 gols marcados. Nas quartas de finais, venceram a também poderosa Holanda, por 2 a 0. O Brasil da semifinal é quem chegou mais perto de pará-las até então.

Mesmo sendo um intervalo rápido, Adora sente a ansiedade corroer seu coração. É como estar de novo no passado, na sua infância, vendo as partidas da Royal Grayskull no sofá da sala, sem poder fazer nada para ajudá-las a vencer, exceto gritar pelas atletas o mais alto possível.

Quando o jogo volta, o Brasil parte com tudo para o ataque. As duas meio-campistas abertas, Debinha e Ludmila, correm feito o cão encarnado. As volantes chegam com tudo em todas as divididas. As laterais agem quase como pontas, e uma das zagueiras está sempre dando apoio ao ataque. Adora puxa o canto e os gritos de suas companheiras, sem ao menos perceber o quão histérica parece.
- BRA-SIL! BRA-SIL! VAI BRASIL! – ela grita, pulando na cadeira como se seus gritos pudessem transmitir sua energia às atletas sul-americanas.

São dez minutos da prorrogação quando Debinha escapa da lateral norte-americana, invade a área pela lateral e cruza de pé esquerdo. Cristiane chega por trás, de peixinho, e cabeceia com força no contra-pé da goleira.
- Gol! É um belo gol do Brasil! – comemora o narrador – Cristiane, camisa número 9!
- GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! – Adora é quem mais grita, mais até do que Netossa, que vê sua segunda casa jogar, mas não há uma eteriana no vestiário que não esteja comemorando.

Gringa Grudenta - (Catradora)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora