Barreiras da língua (NÃO ESSA LÍNGUA)

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- Adora? Royal Grayskull Adora?! – a loira assente – puta que pariu, cê é a vadia que me quebrou!
- Catra?!

As duas ficam se encarando intensamente por um tempo como se tivessem visto um poltergeist, enquanto o resto do grupo olha na direção delas, curiosos.
- She-Ra? Algum problema? – pergunta Tallstar, chamando a atenção das duas. Adora engole em seco.
- É a... Catra... – ela murmura – a menina que eu quase quebrei o tornozelo! – Adora torna a olhar para Catra e, ciente da dificuldade da outra com inglês, fala tão pausadamente quanto possível, apontando para o seu tornozelo – você, está, melhor?

Catra gira lentamente o pescoço de volta de Tallstar para Adora e a encara com os olhos questionadores.
- Que bérer o quê, a mina tá doida – ela reclama – I'm Catra, not Bérer – ela diz. Adora encara a garota sem entender, enquanto os outros riem da confusão. Bow intervém.
- Ela está perguntando se você está SE SENTINDO melhor – ele explica lentamente, num tom gentil, e repete – você, está, se sentindo, melhor?

Catra reconhece a palavra "feeling". Tem quase certeza do significado. "Obrigada por mais essa, Hayley Kyioko", ela agradece em pensamento.
- What the porra is bérer? – ela pergunta.
- Acho que ela está perguntando o que significa "better" – alguém sugere.
- Hã, erm...

Bow e Adora tentam explicar, até perceberem que Catra não está mais os ouvindo e em vez disso, tem os olhos fixos na televisão. Assim, desistem de tentar esclarecer as coisas. O jogo já começara há algum tempo, e as Salineas Sharks estão dominando. A empolgação de Catra com a habilidade e liderança da camisa 11 do time de azul é crescente, enquanto a explicação dos dois estrangeiros era confusa e vaga, e por isso aos poucos ela se esqueceu de continuar fingindo que estava ouvindo. O estilo dessa camisa 11 não é o que Catra costuma admirar, mas a sua fluidez faz ela sentir um frio na barriga. Ela desliza como água entre as jogadoras adversárias com seu posicionamento e controle de bola. "Ela é o tipo de centroavante que eu adoraria fazer dupla", a brasileira pensa, com um sorrisinho besta.

Não demora muito para as Salineas Sharks marcarem o primeiro gol, num lance onde Mermista passa entre duas zagueiras e toca colocado na saída da goleira. A bola ainda toca na trave antes de entrar.
- CARALHO QUE GOLAÇO! Boa! – Catra comemora o gol levantando os dois braços e atrai vários olhares da própria mesa e das mesas ao redor, mas ela nem repara. Em vez disso, toma mais uma golada do copo de refrigerante e se recosta à cadeira, relaxando com um sorrisão no rosto, assistindo às garotas do time de azul comemorando na lateral do campo, carregando sua artilheira com um sorrisinho presunçoso de canto de boca no rosto.
- Então, você torce para as Salineas Sharks? – pergunta Adora. Catra não percebe que a mensagem é direcionada a ela e por isso não dá atenção alguma, continuando com os olhos concentrados na televisão, enquanto Adora encolhe os ombros envergonhada e abaixa os olhos. Bow, percebendo a interação, toca os ombros da amiga, chamando sua atenção.
- Ei, não se preocupe tanto com isso – ele diz, e indica as batatinhas no centro da mesa com a cabeça, estimulando à amiga que pegue um pouco mais. Suspirando, Adora segue o conselho do amigo e torna a comer das batatinhas, espiando a estrangeira vez ou outra. Ela engole em seco se lembrando daquele olhar intenso que trocavam, antes de se reconhecerem. O que será que Catra estava pensando naquele momento?

É quando Adora percebe que a brasileira não pegou nenhuma batatinha ainda. Ela pega uma das últimas na vasilha já quase no fim e a oferece à brasileira com um gesto. Catra nega gesticulando com a mão, mas Adora insiste. Revirando os olhos, Catra toma a batatinha da mão dela e enfia na boca, fazendo em seguida a mesma careta que fizera durante o jogo para Adora, com os olhos cruzados e a língua de fora. Assim como durante o jogo, Adora ri baixinho.
- Tonta – murmura Catra, tornando a olhar para a tevê. Pelo canto dos olhos, ela flagra Adora se tornando para encará-la várias vezes. "Mano, na moral que essa mina quer dar uns pega ni mim, né nem zoeira", pensa.

Gringa Grudenta - (Catradora)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora