Armadilha para abelhas

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A final da Algarve Cup contra a Alemanha terminara em 2 a 0 para as eterianas, com gols de Castaspella de falta, e Mermista, em jogada com Lonnie. No dia anterior, Adora e várias das outras garotas do time haviam assistido a partida do Brasil contra a Noruega, na disputa pelo terceiro lugar, que terminara com vitória do Brasil por 2 a 1, com dois gols de Marta. Catra entraria no segundo tempo, quando o placar estava em 1 a 1, e embora parecesse um tanto desmotivada e apagada no jogo, foi quem deu o passe para o segundo gol de Marta: um belo passe de efeito que passou por um milímetro acima da cabeça da zagueira norueguesa para a rainha matar no peito e finalizar com um voleio de dentro da grande área.

É dia 28 de março, quase onze horas da noite, o último dia de Adora em Portugal neste ano. Adora passara as últimas horas com as suas companheiras no hotel onde estavam hospedadas, se entupindo de pizza e chocolate (algumas das suas companheiras também estavam enchendo a cara de álcool, mas Adora preferiu evitar), jogando videogames e ouvindo as garotas musicistas do time tocarem um rock improvisado para comemorar – Adora não quer nem pensar quantas horas extras de academia vai ter que fazer durante a semana para compensar os exageros de hoje. E então, quis sair. Dar uma volta sozinha por aí, aproveitar suas últimas horas nesse país que provavelmente só verá de novo no próximo ano.

O sentimento de satisfação lhe traz paz ao coração. No ano anterior, haviam perdido a Algarve Cup na final contra a Noruega, e alguns meses depois, chegaram às semifinais da Copa do Mundo só para ser eliminadas pelos Estados Unidos, de virada, por 2 a 1. As estadunidenses se sagrariam campeãs na final, enquanto as eterianas conquistariam seu prêmio de consolação derrotando a França na disputa pelo terceiro lugar. O título desse ano lhes dá mais moral para as Olimpíadas em Tóquio. Muitos são os que chamam a geração atual das meninas eteriana de "a melhor desde os tempos de Mara". Claro, elas nunca serão como a seleção eteriana dos anos 90, mas não significa que não podem trazer glória ao país mais uma vez.

A ideia que podem ser as primeiras em 20 anos a ganhar um título importante por Etéria é assombrosa.

Enquanto anda pela noite, ela se lembra daquela praia isolada onde esteve em seu primeiro dia, quando chegou em Algarve. Aquela onde passara uma tarde divertida com Catra e suas companheiras da seleção eteriana, além daquela garota portuguesa que estava com Catra.

Adora sente vontade de ir se despedir daquele lugar, já pensando que deveria ir lá de novo no próximo ano, caso Etéria continue sua tradição de sempre participar da Algarve Cup.

Ela usa a luz do celular para se guiar no escuro, sentindo a areia entre os dedos e segurando seus sapatos com a outra mão. Sente a brisa vinda do oceano brincar com seus cabelos, se lembrando da casa onde cresceu em Bright Moon, tão perto da praia – nada como seu atual apartamento no centro, longe do mar. Se lembra dos parabéns emocionados de sua mãe pelo Messenger mais cedo, logo após o término do jogo contra a Alemanha. Lembrar faz Adora rir: como uma mulher bicampeã do mundo, campeã olímpica, uma das maiores lendas esportivas da história de Etéria, poderia estar tão genuinamente emocionada por um título de campeonato amistoso?

Caminhando pela orla da praia, Adora localiza uma figura sentada na areia, envolta pela escuridão. Curiosa, Adora se aproxima um pouco mais.
- Catra? – chama, surpresa. A brasileira vira aqueles olhos bicolores para ela, aquela sua expressão dura usual.
- Hey, Adora – ela responde, logo tornando o olhar para o horizonte novamente, usando aquele R latino que envia frissons pelo corpo da loira. Tentando conter o sorriso, ela vai se sentar ao lado da outra, que não lhe dá atenção.
- Como você tá? – indaga Adora, oferecendo um sorriso gentil. Catra suspira. Tenta encontrar as palavras em inglês. Se ao menos tivesse com internet agora, para apelar ao google tradutor...
- Cansada – ela acaba por responder uma meia-verdade, mais por falta de vocabulário que qualquer outra coisa. Por outro lado, não se sente tão confortável em despejar seu sentimento de fracasso na outra assim.
- E aí, como foi sua primeira experiência na seleção?

Gringa Grudenta - (Catradora)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora