Primeiros contatos

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É quando Eternia se destaca da multidão.
- Eterianos, vede isto! Observai vossa situação! – ela levanta o braço amarrado de um dos soldados rebeldes, silenciando os seus próprios homens. Os rebeldes esperam que a governadora comece a debochar deles por sua captura, como demonstra um rápido diálogo entre dois deles, que é encenado como se Eternia e os lealistas não pudessem ouvi-los. Ao terminar o diálogo, a governadora continua – refleti sobre a barbárie que vivenciamos: eterianos matando eterianos, e para quê? Que razão temos para lutar? Não somos todos de carne e osso? Não temos todos entes queridos em casa, filhos, maridos, esposas, pais que lamentariam nossas mortes? O que toda essa violência nos trará?! Nada, eu vos digo, além de dor e desgraça!

Rebeldes e lealistas ambos ficam em silêncio, e Eternia se volta aos prisioneiros.
- Por favor, respondei-me! O que a morte de tantos, pais, maridos, filhos, ganhará a Etéria? Vossa própria vida vale menos do que a vossa causa? Como justificar-se-á o sangue em vossas mãos!?

O soldado rebelde desvia o olhar em vergonha.
- É claro que tu dirias isto!­ – outro soldado rebelde grita – és a governadora, a mulher mais poderosa de Etéria! Sabes o destino que te aguarda quando a revolução triunfar! Teus discursos bonitos não nos enganam, Eternia Grayskull: nós sabemos que és exatamente como todos os reais britânicos, ricos, envoltos em conforto a um mundo de distância daqui, que pensam ter o direito de tirar nossas riquezas e chamá-las de obrigação cidadã!

Eternia caminha lentamente até o homem e fixa seus olhos nos dele. Mesmo à distância, mesmo sendo só uma peça de teatro, Catra consegue ler aqueles olhares, aquelas expressões corporais, como se estivesse presenciando a cena ao vivo, lá em 1700 e alguma coisa. O homem mantém-se altivo, recusa-se a baixar o olhar, orgulhoso, enquanto Eternia o analisa profundamente, e lentamente se torna um olhar de admiração.
- Como te chamas, meu bom senhor?
- Capitão Harold Prime.
- Capitão Prime, eu compreendo tudo o que dizes e no que acredita. Compreendo tua lógica e as tuas razões. Porém eu acredito que é possível chegarmos a um acordo de forma pacífica. Acredito que é possível que os dois lados discutam seus pontos de vista e encontrem um meio-termo. Não importa o que dizes, é simplesmente impossível me convencer que as vidas de tantos eterianos precise encontrar um fim brutal pela ponta de um mosquete para que cheguemos a uma conclusão.
- És a governadora, sra. Grayskull. Nunca pegastes num rifle, numa espada, ou mesmo numa enxada. Não sabes o quão trabalhador o povo eteriano é, ou o quão importante é garantirmos o nosso futuro. Podemos até morrer por isso. É impossível que uma mulher de poder como a senhora entenda, mas para alguns de nós, a vida não é tão querida assim. Ela é dura, e todos os dias são de batalhas.
- Porém, queres de fato morrer por isso? Se eu mandasse aos meus soldados que te executassem, aqui e agora, não sentirias medo? Não terias arrependimentos? Caso tenhas uma família, não desejarias vê-los uma última vez? Não te preocuparias com como eles ficariam depois que partires deste mundo?

O homem abaixa a cabeça pela primeira vez.
- Tens razão. Eu não sou uma guerreira ou uma camponesa. Nasci e fui criada numa família de burocratas e comerciantes, e para isso estudei e trabalhei desde que me lembro. Isso não torna meus sentimentos quanto a esta triste guerra menos válidos, no entanto. É por isso que, independente do resultado, eu gostaria de conversar com as lideranças rebeldes para que cheguemos a um acordo, de forma pacífica. Eu me comprometo a ouvi-los, seja o que for que tenham a dizer.

Eternia volta-se aos seus soldados.
- Libertem os prisioneiros – ela comanda.
- Senhora! – um dos soldados britânicos se exaspera – não podemos deixá-los à solta. Eles retornarão, e podem matar mais dos nossos homens!

Eternia gira sobre os pés mais uma vez, encarando o capitão Prime.
- Eu gostaria que pedisseis aos vossos líderes que comparecessem na capital, daqui sete dias, para discussões oficiais e, caso seja possível, um fim à guerra.
- Uma armadilha óbvia –
zomba Prime.
- Não é uma armadilha – ela garante – trazei quantos homens quereis, armai-vos como quereis. Enquanto mantiverdes a vossa palavra e honrardes a trégua, nada tereis a temer, mas se trairdes a nossa confiança, o povo de Etéria não mais confiará em vós. A escolha está em vossas mãos.

Gringa Grudenta - (Catradora)Where stories live. Discover now