Capítulo 30 - Afogando (cont...)

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Miguel

Eu odiava esse distanciamento de Bela, a cada casa que avançava retrocedíamos cinco, dez, mil. Eu me sentia triste, impotente e isso me exauria... me irritava. Ouvir seu grito de pânico despertou o pior em mim, minha paciência havia se esgotado, ver o terror em seus olhos me quebrou e perdi todo o controle. Eu pressionei ela, eu não deveria ter feito, isso piorou tudo e ela quebrou, milhões de caquinhos em meus braços, em minha frente e eu não pude fazer nada. Eu queria gritar, sacudi-la, mas eu não podia, eu nunca faria isso. Ela precisava se abrir sozinha, ela tinha que se libertar dessas amarras por sua vontade não por obrigação ou ela nunca se recuperaria.

Eu sabia que não era culpa dela, ela estava se esforçando tanto eu podia ver, mas as vezes era demais e ela se fechava novamente. Eu não quis mas eu me senti ferido, magoado, traído, todo esse tempo juntos, todas as conversas, programas e comidas partilhadas, achei realmente que estávamos criando um laço, que ela estava confiando mais em mim, me deixando entrar, me deixando cara-a-cara com o outro lado, com a verdadeira Bela, mas ali estava ela fechando a porta com força na minha cara novamente.

Doeu! Mas ela não fazia por que queria eu sabia disso, eu senti o mesmo quando perdi meu pai, quando me perdi algumas vezes após fazer o que deveria ser feito em meu trabalho no exercito, essa impotência, esse medo, essa incapacidade de se abrir... como se quisesse gritar aos quatro ventos minha dor mas as palavras não saíssem, estivessem entaladas. Bela era um bichinho acuado, com medo, ferido, pressionar só a faria atacar ou fugir e  mesmo sabendo disso eu fui alem.

De repente o apartamento se tornou pequeno demais, eu precisava sair dali, arejar um pouco a cabeça e tentar descobrir o que diabos estava acontecendo.

Antes que Bela se quer pudesse se lembrar corro até a janela e arranco o maldito papel, colocando-o em um pequeno saco, pediria Erik para verificar mais tarde a evidencia, quem sabe não teríamos sorte pelo menos dessa vez e o desgraçado deixou alguma digital. Quem quer que fosse estava se tornando ousado, chegando muito perto e eu não gostava disso, não mesmo!

Deixo o chá de Bela pronto na cozinha, junto com um bilhete dizendo que voltaria mais tarde e desço ao encontro de Erik, precisávamos ajeitar nosso centro de comando em meu apartamento, transportar todo o material que trouxe e configurar toda a rede para que amanha mesmo ja conseguíssemos operar tudo que fosse necessário e com isso descobrir mais sobre o maldito recorte de jornal que tanto assustou Bela.


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Felizmente ou infelizmente todo a arrumação demorou mais do que o esperado, confesso que por mais que quisesse voltar e ver como Bela estava eu precisava de um tempo para organizar melhor minha mente. Não sabia como seria recebido quando voltasse, ela falaria normalmente comigo? Fingiria que nada aconteceu? Me expulsaria? Brigaríamos de novo?  Ela era uma enorme incógnita, nunca sabia qual seria sua reação, o que pensaria, o que faria... com ela sempre estava as cegas.

As coisas com Bela vinham melhorando a cada dia, era lindo ver o quanto ela realmente estava tentando se soltar, tentando descobrir quem era e tudo isso em tão pouco tempo, mas era frustrante ver o quanto ela ainda se afogava em culpa, medo e insegurança. Como mesmo tentando se permitir ela não conseguia deixar de estar sempre alerta, sempre preparada para tudo, pensando, arquitetando planos... 

Não que esteja errada, não mesmo! Afinal ela estava na mira de não só um maníaco mas dois. E isso me deixava furioso, frustrado e com medo. Todo esse tempo juntos e ela me deixou no escuro, eu estava tão furioso com isso, eu achava que estava tomando conta, protegendo-a mas o modo que a protegia era levanto em conta um abusador, um homem astuto que não se arriscaria em meio a tantas pessoas, um cara estrategista que estava ali a espreita, esperando o momento certo em que Bela ficasse sozinha para atacar.

ConfinadaWhere stories live. Discover now