Capítulo 49 - Que diabos esta acontecendo? Cont...

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Bela

— Por mim tudo bem, vou tomar um banho enquanto isso — digo já me retirando da sala. Me dirijo até o quarto, pego uma nova muda de roupa e sigo até o banheiro. Deixo tudo em cima da pia e abro a água, enquanto espero a banheira encher me olho no espelho, realmente me vendo. Nunca me permiti analisar bastante meu rosto, não quando ele parecia ser o causador de todos os meus problemas.

Sabia que não era feia, mas nunca vi nada extraordinário em mim mesma. Eu era mais alta do que a maioria das mulheres que conheço, por volta de um metro e setenta ou um pouco mais, talvez, vai saber. Meus longos cabelos negros iam até minha lombar, eles eram o amor e orgulho de mamãe, uma coisa que tínhamos igual, mas ela sempre os mantinha curtos apensar de amar o quão longo os meus ficavam a cada dia, parando para pensar... agora entendo o por que. Com cabelos curtos era mais difícil aquele mostro a prender e imobilizar, enquanto acertava golpe após golpe nela, ou pior. Me estremeço só em pensar nisso.
Meus olhos castanho eram normais, nada extraordinário, para mim pareciam sempre sem vida, sem graça, assim como minha pele branca demais junto de um corpo tão magro quanto. Era difícil engordar quando se trabalhava tanto, recebia pouco e comia menos ainda, era um dos sacrifícios para se manter um teto. Podia ter gastado toda a herança de mamãe, mas não podia, por que aquele dinheiro ia ser usado para meus estudos, para nosso sonho de ter uma vida melhor e assim o fiz.

Eu não era curvilínea como Olivia, não possui se quer uma bunda ou peito dignos de uma segunda olhada, então que merda viam em mim? Por que era um conjunto bem insignificante de qualidades e se a pessoa olhasse mais atentamente perceberia ainda mais imperfeições. 

Se realmente olhassem para mim veriam a leve cicatriz em minha bochecha de um tapa na cara que meu pai havia me dado, veriam as cicatrizes em meu pescoço de quando tentei separa-lo de mamãe e fui empurrada escada abaixo, sofrendo um enorme corte na garganta, nada muito serio, mas assustou o inferno em minha mãe a quantidade de sangue que saia do ferimento, o mesmo aconteceu nas três outras cicatrizes, essas mais escondidas perto do couro cabeludo, uma em que tive minha cabeça arremessada na mesa de jantar, outra quando ele me empurrou com força na quina de uma mesa e a ultima foi de um atropelamento enquanto fugia daquela maldito policial. E bem... haviam inúmeras outras espalhadas por todo meu corpo, mas essas...  me viro, balançando ligeiramente a cabeça, tentando afastar cada maldita memória que vinha com cada uma.

Encaro a banheira quase completa e me dispo, me recusando a notar mais qualquer coisa em mim, em meu corpo, para ser sincera em minha vida. Precisava desse silencio, desse vaco em minha mente, onde meus pensamentos eram nada mais que um grande vazio, o que era raro, por que sempre havia tanta coisa ali, tantas vozes, pensamentos, sentimentos, que em algumas vezes se tornava ensurdecedor. 

Desligo a água rapidamente quando a banheira enche e entro, a água quente vai pouco a pouco soltando meus músculos, encosto minha cabeça na beirada da banheira, fecho os olhos e me permito relaxar, permito que toda aquela água quente liberte meu corpo e com ela me proporcione um pequeno instante de paz, onde eu possa ser somente uma pessoa normal, com problemas normais, aproveitando um bom e relaxante banho.

Quando a água começa a ficar gelada, suspiro cansada e me sento, fico ali parada, as pernas dobradas, os braços ao redor delas em um leve abraço, descansando minha cabeça em meu joelhos, olhando para o nada lutando internamente entre o certo e o errado, o coração e a maldita razão.

— Bella? — Miguel chama da porta me fazendo pular ligeiramente de susto. — Tudo bem ai? — penso em ignorar, mas depois de uma longa inspiração, expiro e decido responder.

— O que você quer Miguel?

— Será que a gente pode conversar?

— Agora?

ConfinadaWhere stories live. Discover now