Capítulo 21 - No limite

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Estranhamente o boato do que havia ocorrido com a pobre garota havia desaparecido tão rápido quanto uma chuva de verão, como se fosse algo tão banal que não valesse mais do que um minuto da atenção de todos.

Como aquilo era possível?

Já haviam se passado dias e me mantinha inconformada com todo o ocorrido e olha que nem se quer conhecia a garota, nem ao menos de vista. Ver o descaso de todos, a falta de qualquer atitude sendo tomada, me fazia ver vermelho, era como se as vidas de todas aquelas mulheres que foram atacadas, não só a dessa garota, mas de todas as que de alguma forma haviam sofrido qualquer abuso ou violência não eram importantes, eram somente mais um número, um buraco no asfalta  que foi visto, intrigou a todos no inicio mas depois foi esquecido, sendo todo dia ignorado e largado ali vendo todos seguindo suas vidas e nada sendo feito para conserta-lo.

Eu estava queimando! Raiva e indignação era pouco comparado ao que sentia.

Era difícil não me simpatizar com a garota, será que ela seria solitária como eu? Não tinha família? Será que não possuía qualquer amizade que realmente se importassem com ela e exigissem justiça? Será que assim como eu...  não tinha nada nem ninguém?

Minha cabeça doía com todos esses pensamento e perguntas, mas me forçava a acreditar que agora possuía pessoas que se importam comigo, que se sumisse de uma hora para outra teria Ana, Pedro e Olivia me procurando, lutando por mim, lutando para que minha morte não saíssem impune, mas... é dificil não querer afasta-los a todo o momento, se soubessem a verdade, se soubessem todo o perigo que correm por somente estarem ao meu redor será que... será que escolheriam continuar ou... me deixariam para trás?

Eu sabia que era uma covarde em esconder isso de todos e sabia que o meu medo era maior por eles me excluirem de suas vidas  do que tentarem alguma besteira para tentar me tirar dessa vida de merda, mas qualquer que fosse o resultado eu não poderia arriscar, não dizem que o que os olhos não veem o coração não sente, pois bem, eu faria de tudo para que eles não sentissem qualquer dano colateral de minha escolha em permanecer em suas vidas. Eu manteria todos a salvo, custe o que custar, o que não seria muito visto que... por mais que tente pareço ser somente uma sombra de existência vagando por ai em busca de uma normalidade inatingível.

_ Terra chamando Bela! - Olivia estala os dedos em frente ao meu rosto me trazendo novamente ao presente.

_ Vamos lá Belz, não vale a pena continuar nessa mal humor infernal. A gente não tem controle sobre tudo nessa vida. Não dizem que o bater das asas de uma borboleta pode causar um terremoto no Japão ou coisa assim?

_ Me poupe Olivia! Nos estamos falando de uma mulher que foi abusada e espancada. Não sobre a porcaria de um bater de asas de borboleta ou uma maldita fofoca de um jogador de futebol metendo o pinto onde não deveria. Isso é serio! Merda! Como vocês podem continuar assim sem fazer nada? Fingindo estarem cegos ao enorme problema que ronda esse maldito lugar! Não foi a primeira vez Olivia, vocês vão deixar isso continuar acontecendo até quando? Até chegar a sua vez? A minha?

_ E o que poderíamos fazer Bela? 

_ Não sei! Talvez exigir mais policiamento, redução do horário de bares, toque de recolher, GPS, uso de apitos anti estupro, sei lá. Só acho que fazer algo é melhor que ficar parado esperando se tornar a próxima vitima.

_ Belz, se acalme ok. O que pode ser feito provavelmente já esta sendo feito, só precisamos nos manter atentas. Não é como se fossemos importantes ao ponto de discutirem abertamente suas medidas de segurança ou coisa e tal. Deixem os poderosos cuidarem disso.

_ Isso é uma enorme montanha de merda, isso sim. Eu não posso aceitar vocês lidando tão facilmente com essa desgraça. Esperar os poderes fazerem algo? Ha! Me poupe! Continuem esperando sentadas.

ConfinadaWhere stories live. Discover now