Capitulo 7 | A despedida

248 44 158
                                    


Perdida e totalmente incerta do que fazer ou se quer para onde ir, caminho sem rumo por uma cidade que ao mesmo tempo me é conhecida e desconhecida. 

Papai não nos permitia sair de casa a não ser que fosse para nossa compra mensal que obvio era sempre sob sua supervisão e na maioria das vezes nunca acaba bem. Papai se alterava por qualquer coisa dentro do supermercado, cada coisa que mamãe colocava no carrinho de sua pequena lista era alvo de criticas e humilhações. Mamãe se mantinha de cabeça baixa, nunca o confrontando pois sabia que se abrisse a boca a humilhação não seria somente a dele mas a de seu grande show para os presentes no estabelecimento.

Fazíamos nossas compras de cabeça baixa, pegando sempre as marcas mais baratas e o que era estritamente necessário, papai nunca nos permitia um agrado. Tudo era devidamente contado e ai se o preço aumentasse.

Muitas vezes mamãe saia da nossa pequena excursão com os olhos lagrimejando, se segurando para não desabar na minha frente ou da frente do demônio que era aquele homem que se dizia meu pai.

Sinto meu corpo se enrijecer ao lembrar de uma das inúmeras vezes em que fomos no mercado quando era criança, acho que deveria ter uns quatro ou cinco anos, não me lembro bem. Lembro-me que estava andando ao lado de mamãe, quietinha como ela sempre me fizera prometer, até que passamos pela sessão dos biscoitos. Meus olhos brilhavam com todas aquelas embalagens coloridas, em algum momento minha pequena mãozinha capturou uma daquelas embalagens colocando-a no carrinho para que mamãe e papai comprassem para mim. Uma, somente uma embalagem de biscoito tornou-se uma guerra,. Papai me viu colocando a pequena embalagem dentro do carrinho e no mesmo momento bateu em minha pequena mãozinha com força me assustando tanto que acabei caindo de bunda no chão. Sem entender nada olhei dele para mamãe, me segurando para não chorar, pois mamãe sempre dizia que mocinhas não choravam, mocinhas como eu eram fortes e somente choravam sozinhas ou com suas mamães, então me mantive firme olhando assustada sem entender ou se quer saber o que fazer.

Papai gritava furioso no corredor do supermercado, mamãe tentava faze-lo se acalmar dizendo que isso era coisa de criança, que somente deveria conversar comigo e me fazer entender que infelizmente não poderíamos comprar o  biscoitinho. Mas papai em sua fúria não ouvia nada, quando ele avançou pronto para me bater mamãe entrou na frente levando o tapa que era dirigido a mim o barulho foi tão forte que me encolhi inteira, fechando meus olhos, cravei com força as unhas em minha mãozinhas para não chorar.

Quando mãos me seguraram pulei com o susto, sentindo meu corpo inteiro tremer de medo, mas mamãe em sua voz doce me fez abrir os olhos e me sentir segura novamente. Sem dizer uma palavra mamãe me pegou no colo e saiu andando atras de papai com as compras. Enquanto vamos embora pude notar o olhar de todos sobre nós, não entendia na época mas hoje consigo identificar os vários olhares de pena e julgamento que recebi aquele dia.

Sentia o corpo de mamãe tremer, se segurando para não chorar, sabia que papai havia feito um dodói nela, por isso fiquei quietinha em seu colo, fazendo um leve carinho em seu rosto e dando um leve beijo para sarar o dodói igual ela fazia comigo. Pude sentir seu sorriso e isso me confortou, sempre me alegrava quando conseguia fazer mamãe sorrir, queria que ela sorrisse mais vezes porem sabia que sempre que papai estava por perto ela nunca fazia isso, seus sorrisos eram só meus, um segredinho nosso.

Saio da minha pequena e dolorosa viagem ao tempo e me vejo perdida, olho ao redor sem saber onde estou até que me vejo em frente a uma pequena porem bela igreja. Algo nela me atrai, me fazendo ir em  sua direção. Penso em entrar, pedir ao padre que reze uma pequena e simbólica oração em homenagem a mamãe, mas como será que funciona? Será que era somente achar o padre responsável pela igreja e pedir ou será que seria necessário pagar algo para que isso acontecesse? 

ConfinadaWhere stories live. Discover now