Capítulo 30 - Afogando

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Ando de um lado ao outro do apartamento, ficando cada vez mais agoniada, não conseguia ficar parada, alguma coisa ruim estava para acontecer, todos os meus instintos gritavam mas...  com quem? onde? quando? 

Eu estava em casa, não poderia ser nada comigo, poderia? Saio andando pelo apartamento, abrindo todas as cortinas que Miguel havia colocado, afinal se algo fosse acontecer ali só poderia vir através das janelas ou porta de entrada. Decidida sigo ate a entrada, porta devidamente trancada, me direciono as janelas e assim que abro uma das cortinas da sala um grito irrompe de mim, quase caio, tropeçando, tentando me afastar da janela, tentando me afastar do que havia ali, colado, bem grande, para que eu não perdesse cada detalhe.

A porta se aberta em um rompante, fazendo um enorme estrondo ao bater na parede. Miguel entra correndo me chamando,  mas não me viro, não consigo me mexer, não consigo fazer nada, alem de ficar ali, olhando aquela imagem, meu pior pesadelo...

Nem os mortos são perdoados. Tumulo é depredado em cemitério, corpo continua desaparecido. Policia não possui quaisquer suspeitas sobre o criminoso.  

Logo abaixo da enorme manchete a foto dos túmulos de mamãe e meu pai em foco, em frente a lapide que eu havia depredado com enorme prazer jazia um enorme buraco e uma tampa de caixão quebrada jogada ao lado. Se isso já não me assustasse o bastante ainda tinha um pequeno detalhe, que com certeza passou desapercebido por todos, o pequeno inscrito preto na lapide imaculada de mamãe "Minha".

Eu não conseguia respirar, meus pulmões haviam esquecido como se trabalhar, meu corpo inteiro tremia, tudo estava começando a ficar negro nas bordas de minha visão. Senti Miguel ao meu lado, seus braços me rodeando, seu rosto tão próximo ao meu, eu queria gritar, queria falar, mas nada saia, nada.

_ Bela! Por Deus mulher, o que houve? 

_ Migue...  olha a janela. - uma voz profunda diz bem atras de nós, provavelmente seu amigo Erik que havia chegado.

_ Você pode... 

_ Ja estou nisso! - Ouço passos pela casa e uma porta se fechando. No mesmo instante Miguel me pega no colo, correndo comigo para algum lugar, eu não sabia o que fazer, meu corpo parecia ficar mole a cada minuto e o ar não vinha, por mais que o puxasse.

_ Só se acalma princesa, respira bem devagar. - diz calmo mas posso sentir seu corpo tremendo tanto quanto o meu. De repente uma água gelada cai sobre nós, tento me afastar de todas as formas possíveis mas seu aperto é firme ao meu redor.

_Eu sei o quanto é horrível, mas preciso que confie em mim - sussurra carinhosamente, como se qualquer elevar de suas palavras pudesse piorar tudo - Você esta começando um ataque da pânico Bela, seu coração esta disparado e a água gelada vai ajudar a acalmar e regularizar seus batimentos cardíacos. Só tenta respirar bem devagar. Eu to aqui com você, você ta segura. Eu prometo! - Miguel diz suavemente me embalando em seus braços embaixo do chuveiro gelado. Fecho meus olhos e me agarro a seu corpo, sentindo todo o meu corpo tremer, protestar. Ele permanece ali comigo, me apertando firmemente contra ele, a todo momento tentando me tranquilizar, mas aquela imagem, aquela mensagem... não saiam de minha mente.


Minha respiração finalmente começava a se acalmar, mas eu não conseguia me desgrudar de Miguel, ele estava começando a tremer tanto quanto eu, nos precisávamos sair dali e de preferencia tomar um banho quente ou um chá talvez, não podíamos nos dar o prazer de adoecer nesse momento. Não agora. 

_Melhor? - Miguel pergunta preocupado.

_ Si... sim! - digo tremendo - Ja... ja podemos sair. - Ele desliga o chuveiro, tomando cuidado para não me derrubar. Tento sair do seu colo mas ele me segura. - Nada disso! Fica quietinha ai. - Decido obedecer dessa vez, verdade seja dita não sabia se poderia confiar em minhas próprias pernas. Ele sai delicadamente de dentro da banheira, me colocando sentada sob o vaso sanitário. Abrindo o pequeno movel ele pega duas toalhas, abre uma imediatamente e enrola ao meu redor, tento pegar e me enxugar eu mesma mas ele me olha irritado, então fico ali, sentindo as malditas borboletas novamente em meu estômago. Fecho os olhos tentando controlar toda a confusão de sentimentos dentro de mim. Lembranças de mamãe fazendo o mesmo comigo enchem minha mente e de repente sinto uma lagrima escapulir dos meus olhos. Era bom ser cuidada por alguém novamente, sentir o carinho, a preocupação de alguém, não que Ana, Pedro e até Olivia não mostrassem isso, por que mostravam e muito, mas com Miguel era diferente. Essa sensação família, quentinha, agradável, era um bálsamo as vezes, era como se as pequenas luzinhas de mamãe que tanto achei terem se apagado em mim reconhecessem nele um semelhante, um igual. Era lindo e aterrorizaste ao mesmo tempo.

ConfinadaWhere stories live. Discover now