Canção de Ninar

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Em Hogwarts, o horário de almoço era maior do que o do café da manhã e até mesmo do jantar. De meio dia até duas da tarde, os alunos tinham tempo de fazer sua refeição, conversar, esticar as pernas, consultar a biblioteca ou até mesmo tirar um cochilo antes das aulas da tarde – isso sem contar os quarenta e cinco minutos que haviam entre a última aula da manhã e o momento em que as travessas se enchessem de comida. Foi este momento que escolhi para falar com Fred Weasley, pois o garoto merecia mais do que uma conversa apressada a caminho da classe.

Pedi, logo de manhã, que ele me encontrasse na arquibancada do campo de quadribol por motivo nenhum além do ser reservado e quieto. Porém, uma vez mais, o garoto deu seu jeito de quebrar as regras.

— Exagerei? — Era difícil olhar feio para o sorriso duvidoso do garoto, mesmo que aquilo não estivesse nos planos. Weasley estava sentado em um banco, o corpo virado para ficar de pernas cruzadas e de frente para mim, com o almoço na frente dele. Dois pratos e dois cálices já estavam servidos com um cozido de batatas, legumes e bacon, além de suco. Havia até mesmo um pequeno pote ao lado, recheado com bolo galês. A minha sobrancelha levantada, seus lábios se torceram e ainda mais. — Depois que eu disse que era para você, eles se empolgaram.

— Nota-se — havia graça na minha voz, uma leveza de piada que fez seus olhos se acenderem ainda mais, um chocolate torrado. Esses olhos me acompanharam enquanto eu me sentava na sua frente da melhor forma que podia por causa da saia do uniforme. — O bolo...?

— Bolo? — Suas sobrancelhas se ergueram. — Estava falando do suco. É de maçã. Eles gostam mesmo de você.

— Por falar em gostar...

— Eu encarecidamente peço que se for quebrar meu coração, faça isso depois de comermos — a frase chegou em um sorriso suave, tranquilo, apesar da apreensão que abria um buraco em seu centro, chegando até mim. — Estou com fome.

Eu estava sorrindo quando mordi os lábios, meus olhos guardando o rosto gentil do leão. Grifinórios eram exatamente o que pareciam ser e, com isso, Fred Weasley não tinha muitos segredos. Ali estava um garoto acostumado a levar a vida com a leveza de uma grande aventura, de uma longa piada. Mesmo se eu partisse seu coração, eu tinha certeza de que ele iria rir e fazer alguma piada a respeito..., ao menos aqui. Pois eu estava muito acostumada com o outro lado, o das máscaras e disfarces, para não imaginar que ele não se permitiria chorar na minha frente.

— Seu coração está seguro, Weasley — soprei para ele, parando para firmar meu olhar no castanho traiçoeiro na minha frente. — Eu só preciso..., quero dizer, você precisa entender que eu... — eu podia sentir a decepção de Lagrum dentro de mim e respirei fundo, organizando a frase pela última vez. Levou um pouco mais do que eu gostaria, mas Fred permaneceu em silêncio, um sorriso ameaçando rasgar as bochechas depois da primeira sentença. — Eu não quero namorar ninguém. Nunca tive um namorado e, não sei se sabe, mas fui criada em um orfanato feminino, então não subestime minha ignorância sobre como tudo... isso, funciona — encolhi os ombros, flexionando os dedos para tentar tirar minha tensão. — De qualquer forma, não é nem uma coisa que eu queria descobrir. Não agora, ao menos.

— Então... — a forma que o garoto inclinou a cabeça com os lábios torcidos quase fez sangue se concentrar em meu rosto. — Você está dizendo que não quer nada agora..., mas no futuro...?

— Podemos chegar lá — balancei a cabeça. — Um dia, talvez, se você estiver disposto a pagar para ver.

De repente, o sorriso de Fred se tornou muito mais tenro e muito menos perverso – mesmo que ainda houvesse algo de traquinagem em seus olhos, mas isso era apenas sua natureza. O gêmeo estendeu as mãos na minha direção, deixando-as a meio caminho, dando-me a escolha. Depois de um momento trabalhei para relaxar meus dedos congelados e contraídos, estendendo minhas mãos para as dele. Quando senti seus dedos fortes se enroscarem em meus pulsos ao invés de se aventurarem em minhas palmas não pude evitar a onda de calor que me atravessou, se concentrando meu coração gelado.

Corona IIOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz