Trilha de Estrelas

2.1K 287 855
                                    

Tom Riddle estava mais informal do que algum dia eu já o havia visto.

Estava sem a capa e, consequentemente, sem aquele polido brasão de monitor brilhando em seu peito. A gravata também havia sido tirada e a blusa branca do uniforme havia tido as mangas levantadas até a altura dos cotovelos. Isso me permitiu ver sua pele, branca e lisa, mas não imaculada. Meus olhos travaram no caminho em negro, no desenho perfeito de uma serpente que se enrolava em seu pulso após descer pelo braço, traçando seu caminho sinuoso para cima, desaparecendo e continuando seu caminho dentro de sua blusa. Senti minha própria marca queimar em reflexo, nada comparado ao que já havia doido e ainda doeria – apenas uma pequena lembrança, um rastro de fogo em uma picada rápida, a imagem de uma serpente de chamas cruzando minha mente no mesmo momento em que os olhos negros de Riddle se acendiam, as presas aparecendo quando os cantos dos lábios se ergueram.

— Sabe que não me atrapalha, Mal — ele quase cantou para mim, de muitíssimo bom humor outra vez. Não se parecia com nossa última conversa, com seu rosto galante destruído e olhos predatórios que seu controle perfeito falhou em esconder no último instante. — Na verdade, eu estava mesmo me perguntando quando você viria me ver. Me diga, como vai nosso pequeno projeto?

— Terminei de estudar seu pergaminho no início do mês passado — avancei pela sala, imitando sua postura relaxada, com uma mão no bolso e a outra girando a varinha nas pontas dos dedos com nada menos que displicência, como se não fosse um objetivo tão poderoso e capaz de tantos acidentes desastrosos ao ser tratada com descaso e sim um mero brincando – o que eu não duvidava que era em sua mão. — Não foi fácil.

— Mas você conseguiu — sua cabeça se inclinou, alguma coisa dançando dentro de seus olhos. Orgulho feroz? Satisfação selvagem? Em quê? Em quem? Por que? — Quando planeja executá-lo?

— Quem disse para você que eu planejo? — A frase saiu muito mais petulante do que eu pretendia, mas era apenas uma resposta natural a toda aquela pose. Mesmo com seu cabelo despenteado e com os pés afundados no tapete macio, Riddle ainda tinha a postura reta e os olhos firmes de um predador em posição, sempre se movendo junto comigo a medida que entrava no dormitório particular, a torção gelada no canto de seus lábios nunca desaparecendo completamente. — Posso ter estudado apenas por curiosidade. Posso não ter pressa.

— Oh, mas eu acho que tem — foi a vez dele se mover, se deslocando para a lateral. Curioso a disposição do cômodo em que estávamos. No patamar da entrada havia uma pequena saleta com nada mais que uma lareira, menor do que a da Masmorra ou mesmo do dormitório, e um único sofá comprido, de três ou quatro lugares, onde eu podia ver uma capa e gravata verde e prata dobradas em seu encosto com perfeição. Havia então uma pequena escada em caracol, não mais que três degraus, que levava até o patamar do que deveria ser o escritório: uma grande escrivaninha escura com uma cadeira de respaldo alto, estantes de livros e pergaminhos e até mesmo um grande quadro-negro. Era ali que Tom estava, o que me dizia que devia ter estado sentado à escrivaninha antes da minha chegada. Queria ver o que ele estava trabalhando antes de ser interrompido. Queria ver para onde levava aquele último lance de escadas, bem mais longo. Minhas vontades, porém, foram esquecidas quando Riddle jogou a próxima frase para mim. — Acho que vai usar tudo ao seu alcance para vingar sua amiguinha sangue-ruim.

A força com que a raiva fez do mundo vermelho outra vez foi o bastante para que eu ouvisse o clique da tranca da porta onde a coloquei se romper. Ele também ouviu e a certeza de que naquele momento nada era menos do que planejado me envenenou de dentro para fora, o rastro de dor e fogo se espalhando pelo meu corpo no esforço de controlar meu temperamento. Observei enquanto Riddle continuava ali, os olhos fincados em mim, aguardando, esperando. Um pequeno experimento, um teste. Tom não era muito diferente de uma criança curiosa, brincando com os limites de algo novo. A provocação foi certeira, mirando exatamente em um ponto de pressão que não era difícil de descobrir.

Corona IIजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें