A Deusa e o Deus

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Malfoy me seguiu sem reclamar ou perguntar, arrastando seus chinelos felpudos atrás de mim em um admirável silencio. De forma irônica, quem teve de se concentrar para não chamar atenção fui eu ao reparar em seu calçado caro e ridículo. Era parecido com uma pantufa, mas não tão cheio e nem com a forma de algum animal. A tira fechada cobria a ponta de seus dedos, mas eu podia ver meias subindo até sumirem dentro das calças. Eram pretos e, eu podia apostar minha varinha, teria o emblema de sua família em algum lugar.

O que, de todas as coisas, não era a mais surpreendente: Daphne, Pansy e Bulstrode também tinham brasões em todo canto – roupas, roupões, baús, malões, diários e até escovas de cabelo.

Imaginei que, dentre todos os lugares, os elfos saberiam onde encontrar o que eu precisava. E a maior concentração de elfos eram nas cozinhas, então foi para lá que o guiei. Em retrospecto, teria sido mais prudente imaginar o impacto da cena antes de torna-la real. Mas dessa forma, provavelmente não seria tão engraçado quanto foi.

Draco, tão ágil até o momento, quase tropeçou quando se viu na cozinha do castelo, rodeado de elfos domésticos. Seus olhos correram pelo ambiente, guardando tudo com rapidez, até caírem em mim outra vez, uma sobrancelha erguida.

— O que estamos fazendo aqui?

— Estou sentindo muito por não ter trazido a minha câmera — torci os lábios em diversão debochada. — Nunca esteve em uma cozinha antes, pequeno lorde?

— É claro que já — o jeito que resmungou, quase chiando entre os dentes, me fez alargar o sorriso. — Temos cozinha em casa, sabia?

— Imagino que sim — ronronei de volta, minha mente vagando para uma cena rápida e desconfortável do pequeno Malfoy entrando de fininho na própria cozinha no meio da noite, e errando o caminho três vezes antes. O garoto pareceu sentir minha falta de fé e vi seu rosto inflar, pronto para defender sua honra, mas se calou ao ver Hoops vindo em nossa direção.

— Senhora Mal, a senhora deseja alguma coisa? — A criatura de grandes olhos cor-de-rosa sorriu para mim, educada e gentil. Já passava muito da hora de comer e, de qualquer forma, alunos não eram permitidos nas cozinhas – a não ser em caso de detenção (Fred e Jorge já me contaram que o banquete perde um pouco a graça quando se limpa as panelas depois). Mesmo assim, ela estava disposta a me fazer um agrado e, por isso, lhe sorri.

— Na verdade, Hoops, eu tenho dois pedidos — mordi os lábios para não rir de Malfoy e sua boca aberta, seu choque chegando até mim e fazendo cosquinhas no meu autocontrole. Quão absurdo era para ele esta cena? Blás não ficou tão estarrecido, mas Zabini tinha seus próprios motivos. Imagino o que o fato de eu saber o nome de um dos elfos e ele falar comigo com naturalidade significava para o lorde loiro. — O primeiro é que se lembre que não sou senhora nenhuma.

— Sim, senhora — ela retrucou em sua voz fina, me fazendo suspirar, mas ainda sorrindo. Elfos domésticos... eu pedia toda vez que parassem com tanta formalidade. Os lembrava que eu era apenas uma aluna encrenqueira que não devia sequer estar ali, para inicio de conversa. Mas eles insistiam em me rodear sempre que entrava, me colocando posições e já havia sido difícil o bastante fazê-los parar com as reverências.

— O segundo — prossegui, reconhecendo a batalha perdida em um movimento de ombros. — É uma dúvida. Você sabe onde são guardadas a lenha do castelo?

— É claro que Hoops sabe — me respondeu. — O senhor Hagrid trás para nós, é ele que corta, entende? E guarda lá atrás, na despensa.

— E poderia me levar até lá? — Arrisquei sua boa vontade, ao que a elfa negou com a cabeça.

— Hoops sente muito, senhora Mal, sente muito mesmo, mas é muito, muito proibido... — a criatura gemeu, quase torturada por não ser capaz de me fazer uma vontade.

Corona IIWhere stories live. Discover now