O Deus e a Deusa Se Cativam - Draco

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Eu fiquei naquela poltrona a noite toda, encarando as chamas verdes da lareira, até meu traseiro nobre estar honestamente quadrado. O banquete dos feriados de Hogwarts tinha sido majestoso como sempre, mas meu estômago estava se revirando demais pra que eu pudesse aproveitar. Então comera somente o necessário, e viera para a sala comunal, preparar logo aquilo que me deixava tão ansioso. Não que eu tivesse quaisquer dúvidas a respeito do presente ser o certo. Eu conhecia o suficiente dela para saber que aquilo seria sua segunda pele. Apropriada, diga-se de passagem. Combinava com as presas, a armadura e o veneno.

Admito que quase vomitei meu próprio coração quando sem querer deixei a caixa esbarrar na porta enquanto a levitava, ouvi certa movimentação estranha no dormitório. A única pessoa que poderia estar ali era ela. Mas após congelar o corpo e prender a respiração, deixei a caixa pousasse com cuidado, e me afastei. Pouco depois, Crabble e Goyle retornaram do banquete, depois de provavelmente comerem a mesa. Tivemos uma conversa bizarra, mas como eu poderia saber o que havia de errado? O cérebro deles certamente funcionava de uma maneira peculiar.

Quando já sentia as pernas dormentes, ela chegou. Atravessou o salão com os olhos grudados nos meus, e por um segundo eu temi que ela tivesse descoberto, de alguma maneira. Eu fora terrivelmente cuidadoso. Nem mesmo Blás sabia. Mamãe ficara... Intrigada. Mas não questionou quando pedi que enviasse um presente a mais. Algo específico, que eu vira numa vitrine, antes das aulas começarem. Acho que o modo como eu havia sido forçado a ficar em Hogwarts amolecera qualquer questionamento que ela pudesse fazer. Mas se Mal sabia de algo, não demonstrou. Seguiu seu caminho, me resignando a mais espera ansiosa.

Tentei desistir da maldita garota. Me levantei, fui para o dormitório, vesti minhas roupas de dormir, e cheguei a deitar. Mas só conseguia encarar o dossel escuro da cama. O silêncio do quarto era ofensivo. A calmaria do ambiente não combinava com meu coração palpitante, como se tivesse tomado uma porrada, sensação que graças a Malorie, eu conhecia. E por fim... Desisti de desistir. Voltei para a poltrona. E esperei. Viesse ela ou não, eu estaria ali, assistindo o fogo, me afastando do frio de dezembro. Parte de mim desejava estar em casa. Me sentia melancólico e mamãe fazia falta. Mas outra parte... Estava bem ali. Esperando. Sabendo que a víborazinha estava ali, escadaria abaixo. Que, com sorte e uma quantidade razoável de galeões... Ela talvez entendesse que eu tinha me arrependido. Eu me lembrava do estalo do dedo de Pansy, e dos olhos de Malorie reluzindo para aquela mesma lareira. Me lembrava de sua voz, tão clara, em minha mente. Precisava fazer algo a respeito, e essa era a tentativa.

Um arrepio eriçou os pelos da minha nuca.

― Santidade sempre ganha ― Ela disse, e um sorrisinho cresceu no meu rosto, enquanto virava o rosto para vê-la. Uma parte de mim acreditava que ela estaria usando sua nova jaqueta de couro de dragão, mas embora detestasse aquele suéter vermelho, fazia sentido. Era Mal. Aquilo era uma reafirmação de que ela não deixaria de usá-lo, mesmo que tivesse adorado o presente. E eu sabia que havia adorado, porque seus olhos escuros brilhavam, e isso nada tinha a ver com as chamas esverdeadas da lareira. ― Não sabia que sua família era religiosa, Draco.

Sorri mais, porque ela entendia muito bem que o brasão bordado em meu pijama significava que nós Malfoy éramos puros até a última gota de sangue. Por um segundo, a expressão de Mal congelara. Seus olhos esquadrinharam meu rosto, como se estivesse olhando para algo... Único. Se aquilo não era uma raridade, eu não sabia mais como reconhecer uma. E diga-se de passagem, fora do oficial, porquê eu não admitiria isso a mais ninguém: Agradeci pelo brilho verde da lareira ser efetivo em corrigir o tom rosado que meu rosto com certeza tomou. Desviei os olhos para o fogo, com esforço.

― E não sabia que você lia latim assim, tão bem ― Respondi, levantando uma sobrancelha ao voltar a olhar para ela, com mais controle sobre minhas emoções. Ela ainda me olhava com aquela expressão preciosa, mas eu não podia continuar corando feito um Weasley. ― Mais um pedaço obscuro do seu passado?

Corona IIWhere stories live. Discover now