Direitos e Deveres

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Eu estava sentada na cama ao lado da de Hermione, minhas mãos fincadas no colchão ao lado do meu corpo. Pomfrey sequer tentou me convencer a afastar ou ir embora, como fez com todos os outros professores até que restasse apenas McGonagall e o diretor – trabalhou como se eu não estivesse ali enquanto examinava as duas garotas. Não havia nada de novo para ver, no entanto. Petrificadas como a gata do zelador, como Colin Creevey, como Justino e como Nick. Elas ficariam assim até as mandrágoras estarem prontas, em mais ou menos mês.

Eu ouvi quando Dumbledore disse para Minerva ir cancelar o jogo e chamar Weasley e Potter para receberem a notícia. Me lembro de ficar confusa. O jogo já não havia acabado? Me parecia ter passado horas desde que tomei café ao lado de Harry, desde que corri atrás de Granger e deixei os garotos para trás, onde provavelmente haviam decidido apenas continuar caminho em direção ao campo de quadribol. Mas, pelo contrário, não havia se passado nem mesmo uma hora completa. Foi tudo tão rápido...

— Gostaria que me encontrasse na minha sala quando tiver a chance, Mal — todo meu reconhecimento ao pedido suave do diretor foi uma inclinação de cabeça. Ele saiu depois disso, acompanhado de McGonagall, e eu fiquei sozinha na ala hospitalar com minha amiga petrificada e Pomfrey.

— Tem certeza que está bem, Mal? — A curandeira me perguntou, os olhos pesados em mim. Eu ainda tinha meus olhos vermelhos quando passei pelas portas e tinha certeza que, agora que não estava ocupada avaliando seus novos pacientes, logo iria ouvir o que aconteceu na porta da biblioteca. Apertei os lábios um no outro, meus dedos se fincando com mais força no colchão apenas para me dar a sensação de me segurar em algo que me impedisse de cair no abismo outra vez. Ao menos agora. — Você tem alguns cortes...

— Eu estou bem, Papoula — a cortei, sua preocupação queimando minha pele. Eu não a merecia. Não quando aquilo... tudo aquilo era culpa minha. Mas a ferida que causei na mulher pela minha rispidez também me atingiu e fechei meus olhos por um instante, me perguntando quando eu pararia de destruir tudo que tocava. — Eu digo se precisar de sua ajuda, Poppy, só por favor...

Ela entendeu, se afastando à passos pesados. Não sei quanto tempo mais fiquei parada, sentindo o vazio dentro de mim aumentar, meu monstro se tornando um verme gigante abrindo um buraco nas minhas entranhas como minhocas fazem com a terra. Algumas horas atrás eu estava feliz com o clima, com esperança de gastar algumas horas (ou minutos, que seja) no alto da arquibancada, sentindo o sol esquentar minha pele e meu sangue abaixo dela. Agora eu não podia sequer sentir o raio que batia diretamente na lateral do meu rosto, pois também batia no rosto de Hermione, seus olhos congelados sem reagir ou piscar para a luminosidade.

— Vai ser um pouco chocante para vocês — consegui ouvir a voz de Minerva no inicio do corredor, seu tom inflexível se tornando notoriamente suave e gentil. Mais uma aluna da sua casa atacada, mais um leão abatido. — Houve mais um ataque... mais um ataque duplo.

Senti o nervosismo de Potter revirando suas entranhas antes mesmo que as portas se abrissem, assim como a ansiedade que faria as mãos de Weasley suarem. Foi apenas um segundo antes que McGonagall abrisse as portas outra vez, deixando a visão dos garotos livre para as novas camas ocupadas na ala hospitalar. Os olhos verdes de Harry foram primeiro na cama mais próxima, na garota da Corvinal, uma lembrança rápida passando em sua memória. Ele a conhecia. Tinha a visto nas masmorras, no dia do interrogatório de Malfoy – ela saia de uma das câmeras com um sorriso suave e bochechas coradas. Agora não havia cor alguma em seu rosto, congelado em seu no tom adoçado de marrom.

Então foram para o lado.

Mione! — Ronald gemeu como se tivessem lhe dado um chute no estomago, correndo em passos quase trôpegos em direção a amiga imóvel e de olhar vidrado na minha frente. Potter arrastou a atenção de Hermione em minha direção e juro que senti a espuma do colchão em meus dedos com a força que os apertei nele. Não, não esses olhos. Verdes, vivos, Sonserina. Não me olhe assim, Potter, não se atreva a perguntar se eu estou bem, não se atreva a ser bom. Não comigo.

Corona IIOù les histoires vivent. Découvrez maintenant