Predadora

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Até hoje não sei como, exatamente, consegui voltar para o dormitório.

Acho que Lagrum me emprestou um pouco da sua força, pois tudo que eu tinha rapidamente foi drenado em alguns passos. Acontece que mesmo que minha magia tivesse se mostrado mais que capaz, meu corpo ainda era o de uma criança de doze anos. Eu não me lembro do caminho até minha cama e sequer fui capaz de abrir os olhos na manhã seguinte, meu corpo exigindo descanso absoluto depois do estresse mágico que o fiz passar. Foi só na hora do almoço, depois de ter perdido todas as aulas da manhã de quarta-feira (o que não era tão ruim assim, visto que dois dos três horários eram com Lockhart, mas era uma pena ter perdido Herbologia), que me arrastei para fora da cama.

Olhando os lençóis sujos de terra e do sangue que não estava tão seco assim quando cheguei, imaginei o que as outras teriam pensado e fiquei feliz de terem me deixado em paz. Um bom banho depois, vesti minhas roupas trouxas e apanhei minha mochila, Lagrum ainda ressoando em seu formato de anel – mesmo como joia, ele ainda era uma criatura essencialmente noturna. Era sempre interessante observar os olhos vidrados da maioria dos outros alunos para minhas calças jeans e blusa comum, coberta pela jaqueta reluzente e bonita, mas hoje não. Então me mantive longe do Grande Salão e fui direto para a biblioteca, estudar por minha conta a manhã perdida.

Estava apoiada em uma estante de Herbologia, folheando um enorme volume de classificação de plantas, quando um livro caiu bem em cima da minha cabeça. Chiei mais pelo susto do que pela dor, enquanto escutava uma voz familiar do outro lado:

— Ai, caramba! — E Neville Longbottom trotou para meu campo de visão, o rosto redondo vermelho de vergonha e então parou por um momento, olhos crescendo ao ver quem tinha acertado. — Mal! Oh Merlin... desculpe, foi sem querer, eu juro!

— Se acalme, Neville — murmurei passando os dedos pelo topo da minha cabeça, Lagrum vibrando ao ser despertado de seu sono pelo melhor motivo: rir da minha cara. — Foi só justiça poética.

— O quê?

— Nada — balancei a cabeça, um pequeno sorriso torcendo meus lábios com a lembrando antes de concentrar no garoto outra vez. — O que está fazendo?

— Eu estava devolvendo um livro para a estante — e agora ele estava envergonhado de novo, mas não por ter jogado um livro na minha cabeça. — Era uma estante alta e geralmente eu entrego para Madame Pince guardar, mas... eu disse para mim mesmo que conseguia.

— Tecnicamente, conseguiu — arrisquei para seu rosto desanimado, recebendo um pequeno sorrisinho de volta. — Isso te conseguiria um Aceitável nas provas finais, talvez?

— Talvez — Neville gemeu, a derrota fazendo seus ombros caírem e seu rosto se torcer em algo parecido com um choro. — Estou em apuros, Mal, apuros mesmo! Os exames são em duas semanas e a única matéria que não me preocupa é Herbologia! Por isso estava devolvendo o livro, sabe, tentando me fazer tomar vergonha na cara e ir estudar o que realmente preciso.

— É um bom plano — concordei com uma sobrancelha levantada para seu nervosismo. Era quente e sufocante, como estar do lado de uma fornalha em sua capacidade máxima. Com um movimento de dedos, fiz tal livro sair do chão e ir até minha mão, estendendo para ele. — Como tem ido?

— Um desastre — Longbottom conseguiu responder, os olhos vidrados na forma simples e natural que eu fazia magia, a mão se estendendo no automático para segurar o livro outra vez. — Não sou como você, Mal. As coisas são mais difíceis para mim.

— Você é um bruxo, Neville — rebati com uma sobrancelha arqueada, controlando o suspiro para autodepreciação do garoto. — Até onde me lembro, é tão capaz de magia quanto eu. Só está nervoso, outra vez. Já disse que tudo que você precisa fazer é relaxar e deixar a magia fazer o trabalho dela. Sua cabeça fica tão cheia com o medo de fracassar que não se concentra no que deve.

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora