Fios Soltos

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Fiquei beijando Draco Malfoy por boa parte da noite.

Deixei que as mãos dele corressem pelo meu cabelo, que seu corpo ficasse próximo e esquentasse o meu, que as batidas de seu coração fossem minha trilha sonora. Ele ficou o mais perto de mim que eu poderia conseguir, sentado ao meu lado. Uma de suas mãos nunca largava meu pulso, frequentemente deslizando até poder colocar os dedos entre os meus, apertando minha mão e a segurando antes de soltar de novo, no tempo exato antes que eu a dor me obrigasse a isso. Pegamos no sono em algum momento e, assim como tantos meses atrás, acordamos cedo demais. O relógio marcava quase cinco da manhã, o que já fazia o dia ter começado a nascer na Escócia. Foi a minha vez de acordar primeiro, mas não me mexi em nenhum músculo além dos olhos, continuando a respirar o cheiro do garoto de seu pescoço.

Observei como a escuridão do Lago Negro começava a recuar. Era hoje. Meu último dia. Seis de junho. Amanhã, logo após um café da manhã muito rápido e agitado, embarcaríamos no Expresso de Hogwarts. Ao contrário do ano anterior, eu não atravessaria a passagem da plataforma para entrar em um carro trouxa. Não seria irmã Kate quem estaria me esperando e nem o Santa Maria meu destino final. Eu iria para a casa de Draco. Com seus pais, meus tios. No mundo bruxo. A expectativa de passar as férias inteiras em território mágico me fez sorrir. No orfanato, nunca quis ser adotada. Mas agora que o destino havia feito meu caminho de volta para meu berço, eu estava ansiosa para conhecer minha nova casa. As lembranças que eu tinha de quanto bebê ainda eram muito vagas e rápidas. Será que tinham mesmo um candelabro de diamantes?

— Você acorda cedo demais — Malfoy resmungou, empacotado ao meu lado. Tínhamos dormido muito aconchegados, um ao lado do outro, mas com minhas pernas jogadas por cima de seu colo. Meu rosto estava na curva do seu pescoço e o dele enterrado na lateral do meu, sufocado pelo meu cabelo – não que parecesse reclamar. Um de seus braços estava atravessado por trás da minha nuca e o outro estava relaxado na altura dos meus joelhos, enquanto ambos os meus estavam no meu colo. Franzi as sobrancelhas, uma risada saindo pelo nariz.

— Não consigo dormir em um ambiente novo assim — respondi, pois era verdade. Era o meio da sala comunal. Estávamos expostos, no mínimo. E já dizia muito de como eu me sentia na presença de Draco por ter conseguido dormir, se muito. — Acho que é melhor irmos para cama.

— Não quero ir — ele continuou mal abrindo a boca para falar. — Principalmente se isso for acabar. Como antes.

— Você tem alguma pretensão de ser o mais completo babaca daqui a algumas horas? — Levantei uma sobrancelha, recuando minha cabeça para olhar para ele. Um pouco mais desperto, Malfoy encolheu os ombros.

— Não, mas até aí, também não tinha da outra vez — e estreitou os olhos ainda nublados do sono. — Porque você apareceu com Potter mesmo?

— Foi com Weasley também, se você esqueceu — imitei sua expressão, os olhos estreitos e uma sobrancelha ainda arqueada. — E foi por acaso. Nos esbarramos na enfermaria e fomos juntos para o Salão.

— Enfermaria? O que...?

— Tive minha primeira menstruação naquela manhã — bom, isso serviu para acordá-lo. Os olhos de Draco se arregalaram e a boca abriu e, tenho certeza, se estivesse bebendo ou comendo algo, teria se engasgado. Ele já tinha conseguido tossir com o próprio ar. — Eu não tive uma mãe e as mulheres no orfanato sempre foram muito vagas, então fui atrás de Madame Pomfrey para saber melhor o que fazer.

— Ah — e limpou a garganta, tentando evitar a cor em seu rosto. — Eu... desculpe, eu não sabia.

— É claro que não — desdenhei, jogando minhas pernas para longe, em direção ao chão, e me erguendo do sofá, pronta para ir para meu dormitório. — Seu lema é "ser um imbecil primeiro e perguntar depois".

Corona IIWo Geschichten leben. Entdecke jetzt