Confiança Cega

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Sue voltou para o almoço muito melhor do que saiu. Enquanto eu me trocava ela tratou de lavar e pentear seu cabelo mais uma vez, se olhando no espelho para garantir que ninguém percebesse a crise que acabara de ter. Teve muito sucesso e quando saímos de braços dados do dormitório, a imagem de seu rosto vermelho e inchado era apenas uma lembrança. Uma que eu não esqueceria.

Daphne ainda estava mordiscando uma sobremesa quando chegamos, mas não havia sinal de Parkinson ou Bulstrode. O sexto sentido de Greengrass era afiado demais para se estender apenas em minha direção então, quando Hopkins se sentou, recebeu um olhar pesado e um toque gentil em uma das mãos. Sonserinos não tinham o costume de desabafar, já havia percebido, mas talvez por Daphy ter uma irmã mais nova as coisas ficaram diferentes em sua perspectiva. Ela sempre sabia quando pressionar e quando apenas deixar um lembrete sutil de que estava ali quando o outro estivesse precisasse. A pequena Sue Hopkins deu um sorriso que acendeu novamente seus olhos escuros enquanto apertava a mão de volta – ela sabia.

Ao terminar o almoço de domingo, deixei que minhas companheiras fossem embora sem mim. Elas tinham o dia inteiro para aproveitá-lo como desejar, uma vez que fizeram os deveres comigo no dia anterior, mas ao contrário delas, eu tinha muito o que fazer. Corri meus olhos pela mesa dos professores e soltei o ar ao ver a figura sombria de Snape sentada ali, parcialmente virado em direção a professora Sprout. Ele parecia, ao menos, um mais interessado do que estava na festa do Dia das Bruxas. Herbologia e Poções eram duas matérias com similaridades latentes, afinal, com tanta utilização de ervas em ambas.

Estiquei minha mente até a dele, tocando com a ponta dos dedos a muralha de obsidiana fria que era sua consciência. Um leve espasmo que fez sua sobrancelha ir para cima foi toda a reação física que consegui à chamada, mas ele permaneceu em silêncio enquanto esperava que eu explicasse a razão de ter entrado ali. Respirei outra vez ao levar os dedos até a nuca, massageando o ponto que ameaçava me partir.

Preciso conversar.

Desta vez ganhei mais de sua atenção. Não por muito tempo, mas Severo definitivamente chegou a virar o rosto para mim. Mesmo de tão longe consegui ver com clareza o túnel de seus olhos, a pressão que impunha em sua boca para transformar em algo tão fino. Foi por três segundos, algo que podia ser levado como uma olhada casual pelo ambiente no meio de uma conversa, mas eu estava dentro de sua mente. Eu vi que Dumbledore conversara com ele pois escutava o eco da voz do diretor ressoando com o nome de Colyn Creevey.

Meu escritório. Três horas.

Era uma hora após o horário do almoço terminar, o que significava que não tinha tanto tempo para checar uma outra parte. Me retirei de sua mente e fui em direção a biblioteca. Pince estava lá, como sempre, e me olhou como um falcão assim que pus os pés para dentro do lugar. Sua sobrancelha subia a cada passo que avançava em sua direção, mas se caras feias me impedissem de alguma coisa eu não estaria chamando Snape de Capitão Gancho.

— Boa tarde, Madame Pince — cumprimentei a mulher que tinha um nariz quase tão grande quanto o do meu professor. Fino, mas ainda curvo. A mulher estava empacotada em um vestido verde-musgo com pele no colarinho e nas magas, além do chapéu pontudo de bruxa da mesma cor. Os olhos me observavam através dos óculos quadrados, questionando o que eu teria de tão importante para incomodá-la. — Você poderia me dizer se Hogwarts mantêm registros?

— É claro que sim, srta. Lewis.

— E eles são acessíveis para alunos? — A pergunta era arriscada, mas Pince era menos perigosa do que McGonagall, principalmente após me olhar com tanta intensidade na noite anterior. A bibliotecária deixou o grande pergaminho onde escrevia de lado e se inclinou em minha direção, seus olhos escuros trabalhando para me perfurar.

Corona IIWhere stories live. Discover now