Corona II

Coração de Pedra

Na hora do jantar, Madame Pomfrey nos acordou pela última vez. Estávamos sob seus cuidados a quase 48h e ela sabia que não poderia nos segurar mais. A festa de comemoração pelo fim dos empecilhos estaria para acontecer agora e, sem sombra de dúvida, nossa presença era requisitada. Era o grande final que todos estavam esperando, o fechamento de um ano sombrio e sangrento, com seus últimos restos gelados sendo varridos de Hogwarts com uma longa noite de dança, comida e confraternização... com as duas pessoas que mais tiveram a ver com o fato de uma ter algo a se celebrar bem no centro de tudo. Seria grande. E, em tempos normais, eu não estaria ansiosa para me jogar em um ambiente como esse, onde com certeza eu seria soterrada de toneladas de emoções diferentes, com as pessoas muito pouco preocupadas em ter algum controle sobre sua própria felicidade, permitindo que risadas explodissem e a alegria do momento explodisse como um vulcão em erupção. Seria desgastante e me sobrecarregaria.

Não hoje.

Depois da conversa com os Malfoy, retornei para meu leito. Potter me esperava, tendo resistido bravamente as tentativas de Papoula de o sedar logo depois de comer, apenas para fazer me lançar um sorriso que acentuou o verde único de seus olhos Sonserina, um gracejo para me tirar um sorriso.

— Então, eles saíram vivos e inteiros? Sinceramente, Mal, você está perdendo seu toque.

O movimento dos meus lábios ao se abrirem desprendeu tantas coisas dentro de mim que apenas puro alivio poderia ser descrevido. Não importava. Eu lidaria com os Malfoy, poderia lidar. Não seria a coisa mais difícil ou complicada que eu já tinha feito. Sim, eu tinha menos de uma semana antes que o mundo explodisse na minha cara. Eu iria morar com os Malfoy e eu não tinha qualquer esperança de isso (e tudo mais que implicava) permaneceria um segredo por muito mais tempo, mas o que importava era que ainda era um. E isso eu iria aproveitar. Talvez pela última vez, talvez pela última noite, apesar das minhas considerações após a última fala de Lucius, eu ainda poderia ser a Mal. Só mais um pouco. Só mais uns dias. Era justo, eu merecia isso, depois de tudo.

Então era por isso que eu estava ali agora, uma energia nervosa correndo pelo meu corpo enquanto me trocava atrás das divisórias que Pomfrey rodeou a cama. Haviam sido tragos peças limpas do meu baú e as vesti com alegria, sabendo muito bem que as que com que desci na câmara haviam se perdido para sempre. Felizmente, ainda havia uma jeans calça utilizável, apesar de seus rasgos, e uma blusa estilo regata que era sempre minha última opção, mas acredito que era o caso. De qualquer forma, eu não teria qualquer problema com minhas cicatrizes, velhas ou novas, pois também haviam me deixado a jaqueta de couro e minhas luvas. Era como vestir uma velha armadura e eu me sentia tão pronta quanto estaria em qualquer dia para enfrentar Hogwarts em peso focada em mim.

Quando sai das divisórias, vi que Potter também havia saído da dele. Ele estava olhando para baixo, ocupada em dar uma terceira volta no cinto que seguraria as calças que poderiam caber dois de si. A visão era tão contraditória ao herói épico que carregou com um braço meu corpo por quilômetros em cima de um centauro, com uma espada milenar empunhada na outra, que soltei uma risada baixa. Isso atraiu sua atenção e Harry também sorriu para mim, terminando de ajeitar o cinto sem olhar. Magrelo e pequeno, as roupas enormes o faziam parecer ainda mais novo. Mas seus olhos tinham o brilho único que eu só encontrava ali – a mistura única de gentileza pura e curiosidade maliciosa, mas nunca perversa.

— Agora escutem, os dois — Pomfrey veio para perto, as mãos firmes em frente ao corpo. A mulher havia passado a primeira hora quando nos acordou analisando-nos da ponta dos dedos dos pés até o último fio de cabelo. Teve que admitir que estávamos melhor do que ontem. Ainda precisaríamos de algumas semanas de boas refeições frequentes para ganhar peso, mas já estávamos tão descansados como poderíamos ficar. — Se sentirem qualquer coisa, voltem para cá imediatamente. A menor indisposição, entenderam?