Corte Reunida

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Os meninos nos esperavam na Sala Comunal. E quando digo meninos, quero dizer todos eles e só posso imaginar que tenha sido resultado de algum efeito dominó, pois Nott estava ali mais por Hopkins do que por Daphne, tinha certeza. E Blás tinha certo entendimento com a aniversariante, certa afinidade, mas não os chamaria de amigos e sim colegas com bom relacionamento – ele havia sido atraído com a promessa de festa e para me ajudar. E Zabini era um ponto muito importante, pois a presença dele representou a presença de Malfoy que, por sua vez, trouxera a tiracolo Vincent e Gregory.

Nada disso impediu que a satisfação de ver tantas pessoas a parabenizando naquele dia brilhassem nos olhos de Greengrass.

Fazia muito tempo que o segundo ano da Sonserina se reunia desta forma. Logo no inicio do ano, depois que acertei a cabeça de Draco, meninas e meninas se separaram. E, logo depois, Parkinson também foi embora, levando Bulstrode consigo. Era a primeira vez em muito tempo que estávamos todos juntos outra vez e me apaguei aquilo, registrando os ombros relaxados e as risadas despojadas para quando precisasse, pois iria. Por isso havia trago minha câmera, guardada até o momento, e não poupei ninguém dos flashes.

Capturei ao longo do dia momentos que montanhas de galeões ainda não poderiam comprar. Tantos pequenos senhores e senhoras, tão bem construídos para serem nada além do que seu sobrenome carregava, nem mesmo as riquezas de cada um juntas poderia sobrepujar as preciosidades registradas. Rostos tão duros, ombros tão retos, olhos tão frios – que prazer foi ver que não precisavam ser sempre assim, que ainda podiam se lembrar de serem crianças. Lembrar de rir alto, de correr, de sentir a vida pulsando ao redor, pois todos ainda eram tão, tão jovens e era mágico que lembrassem disso, mesmo que de vez em nunca.

No final do dia, bem depois do jantar e do toque de recolher, me esgueirei para fora das masmorras em direção a cozinha, como já tinha feito vezes o suficiente para nem mesmo precisar me concentrar em ser discreta ou não esbarrar nas armaduras pelo caminho. O problema era Zabini, que com certeza nunca havia ido surrupiar nada de madrugada e olhava ansioso por cima do ombro enquanto subíamos o andar.

— Blás, não tem ninguém por aqui — sussurrei para sua figura tensa ao meu lado. — Se quer prestar atenção em algo, preste em seus pés.

— Meus pés? — Uma sobrancelha bem-feita se ergueu ao passo que os olhos escuros desciam. — O que tem eles?

— Parecem pesar duas toneladas — alfinetei com um sorriso, ganhando seu rosto quase corado em resposta. Seu sorriso se abriu, mais afetado do que sugestivo, e seus ombros retos foram forçados a encolher.

— Peço perdão por não ter tanta experiencia em perambular pelo castelo depois do toque de recolher — seu tom de sarcasmo tão pouco usado me fez sorrir, mas era pedir demais ficar batendo papo no meio do corredor. Para o crédito de Blásio, seus passos se tornaram consideravelmente mais controlados ao recomeçar a andar em silêncio logo atrás de mim.

A cozinha, como já havia notado várias vezes, não se importava com o alto horário: mesmo tarde da noite era abarrotada de elfos domésticos indo de lá para cá e me perguntei se aquelas pequenas e gentis criaturas dormiam em algum momento. A questão, porém, foi esquecida e afogada em olhos grandes e curiosos nos cercando com donos fazendo reverencias tão profundas que os narizes pontudos e cumpridos roçavam no chão.

— Nunca vi tantos em um só lugar — Zabini comentou olhando em volta, os olhos escuros muito atentos e absortos pelo novo cenário. Ele nunca havia estado na cozinha da escola e nunca havia tido contato com seus funcionários invisíveis. — Mamãe tem dois elfos fêmea e vários dos maridos dela também já tiveram, mas isso é quase um exército.

— Não achou que fosse, de fato, Filch que mantinha esse castelo limpo, ou achou? — Devolvi em um sorriso e tive a resposta em uma torção involuntária. Assim como muitos, talvez quase a totalidade dos alunos que pisam, já pisaram e ainda pisarão em Hogwarts, ele nunca havia se dado ao trabalho de pensar no assunto, de dedicar seu tempo a reconhecer a existência de quem ou de que arrumava sua cama e trocava seus lençóis, recolhia sua roupa suja e devolvia bem passada e engomada, que esfregava sua banheira e limpava sua privada e recolhiam almofadas e sumiam com nojeiras em Salas Comunais. — Boa noite, eu fiz uma encomenda para hoje, será que...

Corona IIOnde histórias criam vida. Descubra agora