A Canção do Leão Dourado e da Serpente Negra

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Que noite miserável, maravilhosa, horrível, linda e assustadora – mágica, no final de todas as conclusões. E como geralmente acontecia, ninguém no antigo e silencioso castelo de Hogwarts tinha qualquer pista do que estaria acontecendo em suas entranhas. Como poderia saber que, bem fundo, muitos e muitos quilômetros abaixo de qualquer sinal de sol ou vida, em uma antiga câmara de pedra, a magia antiga cantava e rugia, pulsando através do sangue e do sacrifício que absorvia? Tanto se perdeu naquelas profundezas, tanto se ganhou. O bastante para mudar a própria magia. O bastante para mudar o mundo, quem pode saber? Perguntas demais, futuro de menos e ao menos uma mentira em tudo isso.

Havia uma pessoa que percebeu o que acontecia.

Draco Malfoy não dormiu direito àquela noite. Se deitou cedo, sem sono, inquieto com a ausência da garota na Masmorra. Ninguém havia a visto o dia inteiro, ficou sabendo. Malorie Lewis apenas pulou de seu lugar no meio da aula e desapareceu pelo castelo. Havia alguma conversa entre a Corte da Sonserina sobre o dever de avisar Snape ou não sobre o assunto. Para manter a honestidade, ninguém se importou muito até um pouco depois que o almoço havia sido servido na sala comunal, quando Snape entrou pela porta secreta, a capa negra farfalhando atrás de si. A história que contou fez todos os alunos largarem os pratos: alguns por choque, outros por náusea e alguns ainda por medo. Uma aluna havia sido levada pelo monstro do herdeiro para a Câmara Secreta, ele anunciou.

Não disse quem, ou de qual casa, e não estava interessado em confortar ou explicar muita coisa para ninguém. O máximo que se dignou a entender o aviso de que o Expresso de Hogwarts estava vindo e que todos deviam arrumar suas malas: estavam indo embora na manhã seguinte. Não foi uma tarde agradável. E Draco se lembrava, no momento em que Severo desaparecia outra vez pela porta, Sue Hopkins perguntar em um tom um pouco agudo, um pouco histérico:

— Alguém viu a Mal?

Ninguém havia visto. Não desde seu rompante no meio da aula. Teorias foram criadas e discutidas de forma abafada na roda de crianças ricas e poderosas: ela devia estar bem, repetiam. Na Floresta, muito provável. Ou entocada de forma clandestina na Torre da Grifinória, pois a maior aposta era que a aluna levada era de lá – o herdeiro parecia estar mirando em leões com uma determinação de caçador desde o início. Ela devia estar lá, concluíram, consolando seus amiguinhos dourados. Sim, claro, era a coisa mais provável. De nenhum jeito e em nenhuma circunstancia Malorie Lewis teria sido levada. Apesar de órfã, todos concordavam, o sangue da garota era antigo e poderoso demais para cair na mira de quem, ou do que, estava fazendo isso.

Doce período da infância, trágicas crianças crescidas. Lidavam com tantos assuntos que não deviam, mas ainda guardavam a capacidade infantil de se convencer de coisas fantásticas apenas para seu bel prazer. Sorriram, gracejaram e debocharam: tudo para esconder ombros tensos e olhares ansiosos em direção à porta. Onde ela estava? Ela estava bem? Ela ao menos sabia o que havia acontecido? Deviam dizer alguma coisa, afinal? O diretor da Sonserina não parecia ter notado sua ausência e se ela estivesse na floresta, fazer alarde só causaria uma situação muito desnecessária – especialmente com todo o resto. O corpo docente de Hogwarts já tinha muito nas mãos, lidando com uma aluna morta (não haviam dúvidas, em qualquer roda que se discutia, o destino da aluna arrastada para a toca do monstro). Eles não precisavam de outra desaparecida. Ainda mais se ela havia feito por vontade própria.

O sol ainda estava se pondo quando o menino Malfoy cansou de fingir despreocupação. Se despediu dos amigos e levou o corpo até seu dormitório, tomando um longo banho frio antes de se deitar. Não se sentia bem. Um desconforto que parecia muito com um severo mal estar que crescia a cada hora. Na altura que se enrolou debaixo das cobertas (calor nunca era um real problema ali, entre as pedras úmidas, que aplacavam com facilidade qualquer desconforto da primavera e do verão), estava convencido que ficara doente. Seus membros doíam nas articulações, sua pele estava quente e havia um peso afiado em seu âmago, como um grande gancho de carne, puxando seu estomago e o deixando enjoado.

Corona IIWhere stories live. Discover now