9 - Sentimento de Esperança

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- Hello? André? Yes, quer dizer, sim. Stay here for… Fique um pouco aí com eles e ajude no que puder. Não, não vou precisar. Tchau.

Sentei na cama e sorri para ela.

- Calma, querida. André não pode ver pelo telefone. – rimos - Notícias de Dolores?

- Era com o pai dela. Parece que foi atropelado estava no hospital, mas receberá alta logo. Pedi para que André ficasse com eles. – sentou do outro lado da cama.

- Está com medo de mim?

- Acho que as coisas estão acontecendo rápido demais. Isso me assusta!

"Vai devagar, Emma, vai devagar!"

Reparei em uma bela foto onde ela, talvez com uns 13 anos, se encontrava no meio de um grande campo de girassóis. Estava com os cabelos soltos bagunçados pelo vento e um belíssimo sorriso.

- Que foto linda! Esse é o tal campo de girassóis que sua avó mandou fazer?

- Lembra-se que lhe disse isso? – perguntou surpresa. 

"Não sei porque, mas lembro de cada palavra que já me disse" - Sim eu lembro. É esse?

- Sim, é este. – levantou-se e pegou o porta retratos. - Vovó Granny esteve passeando pela França com meu avô, pouco antes de ele morrer, e ela amou a visão do amarelo sem fim dos girassóis franceses. Daí conversou com minha tia avó, Eva, elas são irmãs, e ambas gostaram da idéia de fazer um campo igual na fazenda. Acho que, no fundo, ela queria manter uma lembrança bonita dos últimos bons momentos passados com meu avô e a irmã fez uma gentileza à ela. Além do mais, o vovô George adorava aquela fazenda e fazia questão de que passássemos os natais sempre lá.

- Esta é a avó que você me falou que freqüentava a igreja contigo e que você gosta muito?

- Sim. Ela é mãe do papai. Ontem mesmo estivemos ao telefone por um bom tempo. Nós nos falamos toda semana. Morri de saudades e coloquei esta foto no porta retratos. Também são belas lembranças para mim.

- Quantos anos tinha? Imaginei uns treze.

- Pois acertou. – sentou-se ao meu lado.

- Seu avô morreu há muito tempo?

- No dia do meu aniversário de onze anos. - vi seu rosto entristecido e me deu vontade de abraçá-la, mas me contive, não queria lhe assustar mais depois do ocorrido entre nós.

- Que chato, Gina! - olhou-me pelo jeito que a chamei. - Como foi isso? Quer dizer, se você quiser tocar no assunto...

- Não tem problema. Foi do coração, que já andava mal. Ele era um homem muito nervoso, ansioso e o trabalho mexia muito com os nervos dele. Durante a era da Dama de Ferro ele vivia chateado com as decisões políticas de nosso país. Dizia que Tatcher estava entregando a Inglaterra para os Estados Unidos e tentava usar de suas influências para convencer outros militares a agir a seu lado. Ele acabou sendo forçado a...a...Deus, eu não sei a como dizer em português. Ele foi... uma pessoa que pára de trabalhar antes da época certa.

- Ele foi forçado a se aposentar. Ir para reserva, já que era militar. 

- Isso! Minha avó inventou a viagem à França para distraí-lo, mas não deu certo. Ficou muito nervoso, agitado, inconformado e daí, seis meses depois, morreu de ataque cardíaco.

- Eu entendo o que ele sentia. Vê este nosso governo brasileiro entreguista? Eu também fico doente! Vira e mexe eu me envolvo nos movimentos estudantis, junto à Ruby, aliás, como aconteceu em 91 e no ano passado. Deprimente é você ver seus representantes políticos entregarem o país nas mãos desses especuladores internacionais. Mas, e qual era a força armada e a patente dele?

Além do TempoWhere stories live. Discover now