70 - Lutar

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Medo. Esse, no momento, era o único sentimento que dominava todo meu ser. A confusão na minha mente não me deixava pensar em nada mais do que tudo o que ouvi, não queria acreditar, queria que fosse apenas um pesadelo na qual eu acordaria a qualquer momento. Mas o aperto mais forte e o soluço sofrido de Regina em meu pescoço me fizeram acordar de meu torpor e ver que não, não era um sonho ruim, era a mais dura das realidades. Para mostrar que estava ali apertei-a ainda mais e beijei sua testa demoradamente e acariciei seus cabelos.

Não deixei mais as lágrimas caírem de meus olhos. Precisava, mais do que nunca, ser forte não só por ela, mas por nós duas. Respirei profundamente e segurei seu queixo erguendo seu rosto e secando-o delicadamente.

- Alguém mais sabe, além de mim? - ela assentiu.

- Mary. Cheguei em casa e como você ainda demoraria a voltar eu precisava desabafar essa dor, contei à ela. - disse hesitante. - Me desculpe por não ter conseguido te esperar… - a interrompi.

- Não, meu amor...não se desculpe. Está tudo bem, ok? - a tranquilizei e ela respirou aliviada. - Agora o que precisamos é nos acalmar e buscar ajuda pra você. O que os médicos disseram?

- Eu preciso passar com especialistas, pois passei apenas com um clínico. Ele me passou um encaminhamento para um oncologista, onde farei exames mais específicos e disseram que lá mesmo, em São Paulo, há um hospital especializado nesses tipos de casos.

- E que hospital é esse? - questionei curiosa.

- Chama-se Sírio Libanês, localizado no centro da Capital. - concluiu.

- Então é pra lá que vamos! Precisamos conversar com mamãe e com o pessoal no trabalho. Não podemos sair e deixar ninguém no escuro. - ela assentiu. - Vamos descansar, e na segunda resolvemos isso com calma tudo bem, meu amor? - selei seus lábios delicadamente.

Deitei-a e fui tomar um banho, debaixo do chuveiro desabei tudo o que não fiz na frente da minha mulher. Não a deixaria me ver assim, ela precisava da minha força e eu iria ser ser sua fortaleza. Chorei, orei a Deus e supliquei mais uma vez pela vida de Regina. Aquela noite não dormi pensando em como seria daqui pra frente, com meu amor totalmente aninhado em meu corpo.

           ☆☆♤☆☆

Levantei assim que o sol deu seus primeiros raios anunciando um novo dia.Saí da cama delicadamente antes de deixar um carinho e um beijo no rosto de minha morena. Passei pelo espelho e encarei minha imagem, as olheiras profundas e olhos inchados pela noite sem dormir mostravam meu abatimento. Suspirei e fui até a cozinha preparar um café bem forte que me despertasse do cansaço em meu corpo.Ouvi passos se aproximando e vi minha mãe entrar atrás de mim. A olhei nos olhos e ela soube ali que eu não estava bem. Abriu os braços e eu praticamente corri em seu encontro e a abracei. As lágrimas já estavam ali, sem ao menos eu perceber.

-  Chore, filha! - afagou minhas costas. - Ponha tudo pra fora, depois das lágrimas vem a força e é dela que vocês vão precisar a partir de agora, meu amor. - chorava copiosamente.

Depois de desabafar com minha mãe tomamos um café e minutos depois Regina apareceu na cozinha, sorriu e se juntou a nós a mesa. Deu-me um selinho e desejou bom dia a Mary.

- Dormiu bem, minha morena? - Perguntei e dei um cheiro em seu pescoço. Ela sorriu e assentiu meio desanimada. Olhou para mim e passou a mão em meu rosto.

- Quem parece não ter dormido nada foi você.

- Não se preocupe, estou bem. - tomei sua mão e beijei. - Você está bem pra irmos a Máxima hoje conversar com o pessoal? - a fitei procurando em seu rosto vestígios de cansaço.Não queria que se esforçasse, pois não sabia exatamente com o que estávamos lidando, mas o cuidado seria dobrado.

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