58 - Desencontros

115 14 7
                                    



"- Filha, você precisa ir falar com ela! - vovó me dizia aflitivamente.

- Mas vó, eu não sei o que dizer! – esfregava o rosto com as mãos.

- Então não diga nada! Apenas ouça.

- Vó... – passei as mãos nos cabelos e entrelacei os dedos por trás do pescoço.

- Emma, há coisas que nunca passam! – seu olhar era firme sobre mim.

E vi minha mãe que chegava com o corpo de um menino nos braços.

- Ele se foi, ele foi... – chorava soluçando."

- Aaaaahhhh!! – sentei na cama num salto. Estava suada e meu corpo tremia.

- O que foi, meu bem? – Regina sentou-se do meu lado acariciando meu braço – Você está toda suada... – passou a mão na minha testa – O que houve?

- Minha mãe! – olhei para ela atordoada. – Acho que meu irmão morreu! – passei a mão no rosto – Vovó quer que eu a procure. – respirei fundo – Tenho sonhado sempre com isso.

- Então faça isso! – beijou meu ombro – Amanhã é sábado, podemos ir no tal Afogados sem problemas...

- Regina, não é tão fácil! – levantei da cama.

- E qual o maior problema, amor? – continuou sentada.

- Não sei se quero ouvir ela dizer que me deixou e não se arrepende. Que eu fui um erro, um plano que foi por água abaixo. – passei a mão nos cabelos – Não sei se quero ter uma recepção fria ou receber um olhar de poucos amigos. – pausei – É rejeição demais pra eu trabalhar...

- Já pensou que não pode ser nada disso? Se não se arriscar nunca saberá e vai se arrepender depois. – levantou-se e chegou me abraçando por trás – Eu irei com você, amor! – beijou minhas costas – Eu irei com você.

Fechei os olhos, respirei fundo e disse:

- Me perdoa, amor, mas isso é uma coisa que eu tenho que fazer sozinha!

            ☆☆☆♤☆☆☆

E o sábado amanheceu chuvoso, como quase todos os dias daquele início de agosto. Um dia abafado, polvilhado por gotas finas de chuva insistente. Fui para o Afogados da mesma forma como havia ido da primeira vez. Antes de sair, Regina havia me dito palavras doces; ela também estava ansiosa, embora disfarçasse.

E novamente aquela casa ali, na minha frente. Tomei coragem e bati palmas chamando por Mary Margaret, mas nenhuma movimentação vinha da casa. Insisti ainda umas três vezes e então um homem do casebre ao lado abriu a "porta" e me disse:

- Ô moça, ela num tá aí não!

Fechei os olhos e passei as duas mãos no rosto.

"Mas é muito azar!"

- E o senhor sabe quando ela volta?

- Sei não... – estava desconfiado.

- Eu sou conhecida dela. – pausei – Queria saber do Diego... Ele melhorou?

O homem ficou sem graça e respondeu:

- Ele morreu, moça! – baixou os olhos – Tem mais di mês...

"Então o sonho era verdade..."

Senti muita pena do meu irmão. Ele e minha mãe viviam muito pior que nós no Cantagalo.

Além do TempoWhere stories live. Discover now