64 - Acasos não são Acasos - part 1

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No dia seguinte decidimos visitar a famosíssima Baía do Sancho. Insisti para que Regina dirigisse, pois quando estava comigo ela raramente fazia isso. Viajei com a mão em sua coxa.

Chegamos no ponto onde começava a caminhada e deixamos o buggy junto de outros iguais. Descemos pela escada instalada na fenda entre os morros e a visão é simplesmente indescritível: uma praia selvagem, de águas transparentes e cercada por uma falésia coberta de verde. Apesar da dificuldade no acesso, havia um bom número de pessoas. Dizem que a razão para isso, além do visual, é o belíssimo mar calmo de areias brancas.

Durante essa época do ano, as tartarugas marinhas estão em desova e então é proibido ficar nas praias entre 18 e 6h. Por isso costumávamos sair das praias um pouco antes do horário limite.

Fizemos depois a trilha do Capim Açu, que dura o dia inteiro, e em outro dia o famoso passeio de barco pelas praias do Mar de Dentro, e com isso percorre-se, na face da ilha voltada para o continente, praticamente o litoral todo de norte a sul. Há uma parada na Baía dos Golfinhos, para que possamos ver estes animais, e uma parada na Baía do Sancho.

Havia um coroa insuportável no barco e ele cismou com a minha cara. Quando embarcamos a praga já estava sentada lá, esparracada como um sapo boi de pernas arreganhadas.

- Ê meu Pai Celeste... - olhou-me de cima a baixo coçando o saco - Tanta carne boa no mundo e eu comendo peixe... - abriu um sorriso nojento.

"Só faltava essa! O sapo boi foi cismar justo comigo!"

O homem sempre tinha uma piadinha ou um comentário ridículo para me cantar e eu já estava a ponto de jogá-lo na água. Regina se divertia com isso.

- Estou com medo, Emmy! - disse baixinho para mim.

- Do que? - olhei para ela desconfiada.

- De você querer me deixar por conta desse coroa sedutor do ventre avantajado. - riu.

- Ah! - bati nas pernas - Eu já tô a ponto de jogar esse troço dentro d'água!

- Controle-se, amor! - esfregou meu braço - Além do mais não se faz assim com um apaixonado! - riu.

- Humpf!

No extremo sul, da onde o barco retorna para o porto, no norte, há um local chamado Ponta da Sapata. Passando por lá, o cara dirige-se a mim e fala:

- Isso não é lugar pra gente nem pensar em passar. Ponta da Sapata? Coisa boa pra sapatão! - passou a mão na imensa barriga cabeluda e gargalhou com vontade.

- Ah, se o nome é por isso então eu to no lugar certo. - sorri debochada - É nesse lugar que a gente pode jogar o excesso de contingente na água. - olhei bem para ele e me levantei - Afinal os pobres tubarões precisam se alimentar... - trancei os dedos e forcei para que estalassem.

Ele sorriu desconfiado e sem graça.

- Emma! - Regina levantou-se preocupada e me segurou pelo braço colando o queixo nele - Você não pode jogar ele na água. Dá até processo uma coisa assim! - olhava tensa para ele e eu.

- É que eu tô no limite da minha paciência... - olhei para ela e em seguida para o homem, que estava começando a acreditar na possibilidade de ser lançado ao mar.

Depois disso acabaram-se os galanteios e piadas sem graça.

Ao final do passeio, pegamos nosso bugue e circulamos pela BR por toda a ilha, dentro das possibilidades de acesso. Passamos na Vila dos Remédios e visitamos a igreja que há lá.

Além do TempoWhere stories live. Discover now