49 - Recatada e do Lar

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Encerrada a etapa em Volta Redonda fomos para Belo Horizonte. Ficamos no bairro da Pampulha e dessa vez em um apart hotel de qualidade. Trabalhávamos como duas loucas e nos divertíamos conhecendo a cidade. A arquitetura de lá nos impressionava. Chegamos a conhecer as famosas grutas de Maquine, Lapinha e Rei do Mato, localizadas em cidades vizinhas.
Em junho fomos para Ipatinga, e pegamos uns dias bem frios. Eu continuava morrendo de saudade do mar, embora sempre encontrássemos alguma cachoeira. Ficávamos indo e vindo entre Ipatinga e Timóteo, e foi a fase mais cansativa do trabalho. Quando esse translado era necessário nós alugávamos um carro.

Uma vez eu voltava de Timóteo sozinha e já perto do hotel vi que Regina estava andando na rua. Cheguei com o carro mais para perto do meio fio, abaixei o vidro e disse:

- Hum, mas que princesa, hein? Quer uma carona, linda? – inclinei a cabeça para vê-la melhor – Tá tarde pra ficar andando sozinha por aí.

Ela estava com um vestido de comprimento médio, casaco e botas de salto. Sorriu, continuou caminhando e sem olhar para mim respondeu:

- Não, obrigada. Eu sou uma mulher casada e nem um pouco desfrutável. – fingia estar séria.

- Casada, é? E quem é a criatura que deixa uma gata dessas sozinha numa sexta, à essa hora? Quase às sete da noite? – olhei para o relógio.

- Ela está trabalhando em uma cidade vizinha daqui. – continuou com o jogo.

- E você aí sozinha?? Ah não! Entra no carro, vai? Te dou uma carona, a gente sai pra bater um papo, comer alguma coisa e depois eu te deixo em casa ou onde você quiser. Numa boa!

Ela parou, pôs as mãos na cintura e disse:

- Você é muito confiante, viu? Além de tudo, daqui a pouco vai começar a atrapalhar o trânsito!

- Atrapalhar o trânsito? Nessa rua aqui nem tá passando carro praticamente...

- Hum! – voltou a caminhar – Segue seu rumo e me deixe, porque sou mulher muito séria para ficar de conversa fiada com gente estranha.

- Olha, eu nem conheço muito essa cidade, pra falar a verdade, e tô meio perdida. Vim de Timóteo agora. Por que você não entra, a gente bate um papo, como eu já falei, e você me ajuda a me localizar melhor na cidade?

Ela riu e respondeu:

- Você tem uma lábia tão fraca... – balançou a cabeça negativamente.

- Ah, é que eu sou nova nisso! Além do mais sou uma pessoa muito recatada e do lar, não costumo chegar assim nas mulheres. – olhei-a de cima a baixo – Só em casos muitíssimo especiais!

- Recatada?? – riu – Do lar? Sei...

- Entra, vai gatinha? Não acredito que vai se recusar a ajudar uma mulher, peão de obra, perdida na cidade. E tá tarde pra uma gata andar sozinha por aí. Vem?

Ela parou, cruzou os braços e olhou para mim seriamente.

- Tudo bem, eu vou com você. Mas sem gracinhas, ouviu?

- Claro! – sorri e me estiquei para abrir a porta do carro – Entra aí...

Ela contornou o carro e entrou. Colocou o cinto.

- Tem algum barzinho maneiro que você gosta? – olhei para ela.

- Hum... Podemos ir no Bar do Cupim que é aqui perto.

Estávamos sentadas em uma mesa e bebendo suco. Havia muita gente no bar, a maioria bebendo muito e comendo o famoso petisco de cupim, especialidade do lugar. Regina e eu continuamos o nosso joguinho.

Além do TempoWhere stories live. Discover now