6 - Sentimento de Mudança

363 37 21
                                    

No dia seguinte, encontrei Regina, por acaso, no banheiro do bloco D. Ela estava passando batom e se olhando no espelho. Linda, usando um vestido vermelho todo trançado nas costas.

- Bom dia? Chegou bem em casa ontem? Pensei em ligar, mas o orelhão tava depenado. - parei ao seu lado.

- Cheguei sim. - sorriu e guardou o batom na bolsa - Espero não ter dado muito trabalho... - virou-se de frente para mim

- Você? Claro que não. Espero é que você tenha gostado; apesar das grandes diferenças entre os nossos mundos... - abaixei a cabeça e apoiei a mão no mármore da pia

- Foi um dia maravilhoso. E mesmo com as grandes diferenças, eu não acho que tenhamos que viver em mundos diferentes. São apenas condições sociais, Emma...e só. - sua voz era suave como se me acariciasse.

Olhei para ela e não soube o que dizer. Apenas sorri e fiquei presa no sorriso que recebi de volta. Era incrível como facilmente ela me deixava daquele jeito: fascinada, sem palavras. Esqueci completamente dos motivos que me levaram ao banheiro e, repentinamente, interrompi o momento.

- Eu... Eu tenho uma aula agora. É melhor ir. Tchau, provavelmente, até sábado.

- Até lá então.
Saí do banheiro quase que correndo.

☆☆☆☆☆☆☆

Chegou o sábado e eu não me aguentava de ansiedade. Regina era o assunto que mais ocupava minha mente. Não estava conseguindo me entender. Subi no elevador impaciente e, ao chegar, encontrei Dolores na pose de sempre. Ao entrar na sala levei um impacto: lá estava uma mulher de cabelos levemente ruivos presos num coque chique, sentada, impecavelmente ereta, na poltrona lendo uma revista de moda. Vestia um hobbie de seda preto. Pude notar a grande semelhança entre Regina e ela. Os traços marcantes, a cor dos olhos...tava tudo ali, me lembrando a moreninha menor! A coroa tinha uma beleza impressionante. "Meu Deus, é a tal da Madame!"

- Bom dia. - disse saindo de meus pensamentos. Ela se deu conta de minha presença, posicionou os óculos na ponta do nariz e me avaliou de cima a baixo.

- Emma Swan?

- Sim. E a senhora com certeza é a mãe de Regina

- Não me chame de senhora. Isto é para os empregados. Pode chamar-me por meu nome.Cora.

- Ah sim. - estendi a mão direita - Tudo bem?

Ela olhou bem para minha mão e não retribuiu o gesto.

- Precisa cuidar melhor de suas mãos. Nem parece mão de mulher.

Recolhi a mão e fiquei sem graça. Não sabia o que dizer.

- Bom dia! Vejo que já conheceu minha mãe. - Era a voz de Regina. Ela acabava de chegar na sala.

- Bom dia. - respondi aliviada - É, conheci. E então? Pronta pra mais um dia?

- Claro! Vamos?

- Vamos. Com licença. - saí apressadamente.

Estudamos bastante e, vez ou outra, ouvi os gritos de Cora pela casa dando ordens para Dolores e o motorista. Era uma frescura só. Perto da hora do almoço Regina perguntou:

- Minha mãe disse algo que a perturbou?

- Falou que tenho de cuidar melhor de minhas mãos. - abri as duas mãos e as posicionei diante de mim. - Minhas mãos são feias há muito tempo; escrotas, cheias de cicatrizes pequenas.

- São mãos de quem trabalha duro. - segurou as duas - Gosto delas. - entrelaçamos os dedos e nos olhamos. Senti seu perfume me invadindo e lutei contra uma vontade urgente de beijá-la. Levantei-me rapidamente desmanchando o contato entre nossas mãos. Nesse momento Dolores bate na porta chamando para o almoço.

Além do TempoWhere stories live. Discover now