26 - Dores e Conquistas

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A festa no laboratório foi animada, se estendendo até às 15:00h. Todos os que assistiram a defesa participaram, com exceção dos dois convidados de fora. Parecia que era uma espécie de feriado e as pessoas queriam comemorar. Vovó estava nas nuvens, Regina felicíssima, e eu me vi colhendo os frutos de anos de dificuldades e dedicação. Era como um sonho. Por volta das 15:30h Kristin veio com um rapaz em uma espécie de micro-ônibus e disse que levaria a todos para comemorar. Lilith, Ruby, Rose, Regina, vovó e eu fomos com eles até o Porcão da Barra.

- É tudo por minha conta! – disse ela.

- Ai eu vou morrer de tanto comer! – disse Tinker com um brilho nos olhos.”Fominha”, sorri.

Lilith só podia ingerir líquidos e comida pastosa e nem sei de onde apareceu comida só para ela. Houve muita conversa, brincadeiras e até um discurso por parte de Tinker. Regina sentou-se ao meu lado e não me largava por um minuto sequer, claro que eu estou amando isso . Vovó estava feliz, como nunca havia visto em toda a vida. O prêmio do concurso era pago ao aluno e ao laboratório ao qual se vinculava. O laboratório ganharia recursos financeiros, dos quais deveria prestar contas, e o aluno um prêmio em dinheiro. Eram quinze mil reais em dinheiro, e eu deveria informar minha conta no banco para depósito.

Não sei explicar a felicidade que senti, não só pelo prêmio, mas por tudo que o dinheiro não compra, como a vitória honesta, o sucesso, a amizade e mais que tudo, o amor sincero das pessoas de nossa vida. Senti como que um facho de luz se acender em meu coração e acreditei que fosse Deus me dizendo que, apesar de eu não saber, Ele sempre esteve do meu lado. 

Combinei com Regina que no domingo eu seria toda dela, mas o sábado seria para dona Ruth e eu. Desde que começamos a nos aproximar, vovó e eu tínhamos nossos programas juntas, e eram coisas simples, mas bem legais para nós. Naquele dia o combinado era que iríamos para o Centro da cidade comprar roupas e sapatos para minha formatura, além da festa de premiação no Rio Centro.

Conversamos sobre isso e combinamos que nossos convidados da formatura seriam seu Neneco e o filho, dona Maria e a filha, as Feiticeiras com Kristin, e, claro, Regina. Encerramos o dia tomando sorvete e fazendo uma caminhada, descalça, na areia da praia.

- Acho que tudo o que passei valeu só para que eu vivesse o dia de ontem e o dia de hoje. Me sinto feliz como há anos não me sentia. Uma sensação de dever cumprido.

- Ah, mas vem mais coisa boa por aí, vó. Eu vou procurar aquele empreiteiro e arrumar um emprego com ele. Aí o dinheiro vai começar a entrar. O tal prêmio mesmo! Vou procurar um lugar pra gente morar e ter mais conforto. A senhora, Regina e eu!

- Não sei se eu vou viver isso.

- Como não, vó? Não estamos aqui agora? O futuro taí, não vai demorar nem um ano, se Deus quiser. 

                 ☆☆☆☆☆☆☆

"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu."

Amanheceu o domingo e na hora do café reparei que as dispensas estavam praticamente vazias. "Melhor fazer umas comprinhas antes de sair com Regina. Vovó pode precisar de alguma coisa!"

- Ei, vó, que tal a gente descer pro supermercado e fazer umas comprinhas? Tá faltando coisa a beça.

Vovó estava ajoelhada no quarto de frente para a santa.

- Não, minha filha, eu vou ficar aqui. Vou até aproveitar que você vai sair pra agradecer a Deus e a Nossa Senhora por tudo. Eu tenho que pagar minhas promessas.

- Tá bom. Daqui a pouco eu tô aí.

                 ♧♧☆♧♧

Na volta do supermercado eu subi as escadas carregando um monte de bolsas. Cansei e parei no seu Neneco, aproveitando para beber um guaraná. De repente um movimento me chamou a atenção e ouvi tiros e gritos vindos de lá de cima. Corri para a porta e vi a polícia subindo com fuzis em punho. Pessoas corriam apavoradas e algumas choravam. Meu coração se desesperou.

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