44 - Noite na Boate e Despedida

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Julho começou com Regina fazendo uma prova atrás da outra. Vovó Granny estava cada vez mais adaptada com a cidade e achei incrível como nem mais parecia ser estrangeira, a despeito do tipo físico e da língua nativa.

Trabalhei muito na obra, e não tive problemas. A previsão era de que em agosto nossa parte do trabalho estivesse concluída. Sábado chegou fazendo sol e vovó não pode fugir: passaríamos o dia todo na praia, como eu adorava! Regina ainda tinha duas provas na semana seguinte, mas consegui convencê-la a ficar conosco.

Eram nove horas e aguardávamos vovó vestir o maiô. Estava trancada no banheiro.

- O que houve, vovó? Por que ainda está aí? – Regina perguntou delicadamente.

- Eu acho que estou horrível! Pareço um saco de batatas!.

- Pois eu duvido! – cheguei na porta e respondi sorrindo – Vamos lá, vovó! Vai haver um monte de rapazes solteiros circulando na praia...

- E eu lá posso fazer nada com eles? Foi-se o tempo!

- Venha vovó, não tenha vergonha. Outras vovós estarão lá também! – continuei.

- Brancas como um fantasma? Eu duvido!

- Venha vovó! Eu sou branca igual! Seremos um par de fantasmas então!

- E a minha fantasminha tá uma delícia com esse short jeans desfiado. – posicionei-me por trás de Regina e falei no seu ouvido enquanto apalpava sua bunda.

- Quer deixar de ser tarada? – beliscou levemente minha coxa e sorriu virando-se de frente para mim – Comporte-se! Já bastou aquela sexta quando...

- A gente fez amor gostoso e você mordeu o lençol pra gemer baixinho! – puxei seu corpo de encontro ao meu – Eu agüento que você faça o que for comigo sem fazer grande  alarde. Que tal se a gente essa noite... – mordi sua orelha e ela se esquivou rindo e me dando tapinhas nos braços.

- Safada! Palhaça! – olhou para o banheiro – Vamos, vovó! Emma já está aqui aprontando! – riu.

Vovó Granny abriu a porta e apareceu enrolada na canga.

- Vamos então! A vampira velha chegou!

Vovó perdeu a vergonha no momento em que pisou na areia. Tomou banho, deitou para se bronzear, comeu churrasco no espetinho e ainda comprou pulseiras dos hippies. E eu, novamente, de olho no protetor solar das minhas inglesas.

Almoçamos em um quiosque e continuamos aproveitando o mar. Joguei minha partida de vôlei e apresentei vovó ao pessoal. Ela conversou muito com Nara, que falava inglês fluentemente. E vibrou com cada ponto do meu time.

Voltamos para casa umas seis da tarde, e a velhinha estava com a corda toda.

- Vovó, amanhã você deve descansar em casa. Tem tido uma rotina muito ativa e convém não abusar. – Regina pediu

- Hum tudo bem! Mas na semana que vem eu quero ir em uma discoteca!

Não aguentei e ri com vontade.

- Nós iremos! Regina entra de férias na sexta e podemos ir neste dia mesmo. Vou levá-la para a Gávea. Tem uma discoteca lá que eu adoro. Vou aproveitar e convidar minhas amigas e você conhecerá o meu grupinho.

- Swan, as Feiticeiras e vovó em uma danceteria! – Regina pôs as mãos na cabeça e foi para o banheiro – Oh, my!

               ☆☆☆☆☆☆☆

A semana correu bem. Muito trabalho para mim e muito estudo para Regina, mas como sempre, ela passou bem em todas as matérias. Convidei as meninas para sair conosco e todas aceitaram. Rose disse que o namorado estava viajando e por isso iria sozinha. Ruby não passou em álgebra e física e esperava ver se a faculdade iria mesmo ejubilá-la. Lily havia acabado o namoro com um funkeiro, mas ainda conservava os resquícios do visual de popozuda. Seu estágio no trabalho da mãe estava firme e forte.

Nos encontramos com todas na porta, e elas acharam vovó uma gracinha. A velhinha vestia calça jeans, sandálias baixas, blusa colante com a bandeira do Brasil e casaco jeans dobrado na altura dos cotovelos.

Entramos e o lugar estava cheio. Escolhemos uma mesa e começamos colocando as
novidades em dia. Tinker disse que estava marcado: casamento para janeiro, dia 25. Disse que passaria a lista de convidados por e-mail. O chá de panela seria no final de novembro.

Lilith nos convidou para uma festa que a mãe daria em casa, no começo de agosto. Ruby disse que se fosse ejubilada buscaria fazer um curso de relações diplomáticas. Queria ser embaixatriz e viajar mundo afora.

- Já pensou conhecer homens bonitos do mundo inteiro? Hein, vovó? – ela brincou com vovó Granny.

- É para quem pode, meu amor. Eu já enverguei a espinha e outras coisas mais! - todas rimos.

Dançamos bastante e foi uma noite divertidíssima. Minha morena também adorou.


Passamos o sábado em Petrópolis e vovó Granny adorou o Museu Imperial, o Palácio de Cristal e a Catedral. Comprou várias lembranças e doces. Ela já estava no vigésimo rolo de filme. No domingo passeamos por Niterói e ela adorou a travessia na barca. Ficou impressionada com a ponte e quis pegar ônibus só para passar por ela.

Descemos no Galeão, porque ela quis acertar seu retorno para dia 16 de julho, e assim foi. Ela teve de comprar uma mala nova por conta das mil coisas que comprou. Regina ajudou a arrumar. Esse dia caiu numa quarta, e eu saí do canteiro direto para o aeroporto. Saí um pouco mais cedo e consegui ainda falar com ela antes de embarcar. Encontrei-a abraçada com Regina, as duas chorando de emoção.

- Que medo! Pensei que não fosse conseguir! - cheguei correndo – O táxi pareceu levar tanto tempo, embora estivesse tão perto! – abracei as duas.

- Eu sabia que você viria! – disse emocionada – E queria agradecer por tudo! Você foi minha guia, minha amiga, minha neta e ainda me sustentou! – passou a mão no meu rosto. - Não sabe o quanto esses dias aqui me fizeram bem.

- Nós também adoramos ter você aqui. – olhei para ela e Regina, que confirmou balançando a cabeça – Pena que vai embora agora.

- Meu anjo, ouça. – segurou meu rosto com as duas mãos – Você não é um atraso ou um mal na vida de minha neta. Do contrário, você é uma bênção que só faz bem a ela e a todos a sua volta. Regina te ama, você é muito boa para ela e eu te amo também. - Essas palavras me tocaram verdadeiramente e meus olhos marejaram instantaneamente. As palavras engasgaram na garganta e eu não soube o que dizer. - Eu sei o que você diria, mas a emoção te calou. Não se preocupe, eu sei!

- Eu também a amo, vovó! – foi só o que consegui falar.

- Cuide bem do meu bebê! – olhou para a neta – E você cuide bem dela!

- Eu irei! – abraçou a avó novamente.

Vovó Granny teve que ir e nós a vimos sumir em meio aos outros. Esperamos seu avião levantar voo, e ficamos abraçadas assistindo a aeronave sumir no céu escurecido pela noite.

No aeroporto Regina disse que a velhinha pediu os dados de nossa conta conjunta e disse que passaria a depositar o dinheiro nela. Voltamos para casa caladas, ambas emocionadas, e pouco depois de chegarmos fizemos amor delicadamente até que o sono nos envolvesse em seus braços poderosos.

                   

Além do TempoWhere stories live. Discover now