63 -Você é Minha Luz

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Nos despedimos de Dn. Marinalva e Assis, assim como de todos os velhinhos e fomos embora. O caminho de volta para casa de Sandra foi feito em silêncio, minha mãe não dizia nada. Via pelo retrovisor ela olhando para fora. Sua mente estava em algum lugar perdido no passado. Eu também não estava diferente, saber mais da história de minha família estava me deixando atordoada. Mas precisava saber mais. E foi assim, até chegar em casa.

- Filha? - ela chamou, me arrancando do torpor. - Podemos conversar? - perguntou.

Seus olhos estavam meio avermelhados pelas lágrimas que derramou enquanto eu conversava com sua madrinha. 

- Claro. - respondi baixo.

Regina beijou meu rosto, acenou com um sorriso para Mary e logo saiu com Sandra, nos dando privacidade. Sentamos no sofá e ficamos uns minutos ainda em silêncio, pois deveria ter sido muito doloroso para ela ter cavado seu passado e externá-lo assim, depois de tanto tempo, pois vi a dificuldade em como começar essa conversa. Ela então suspirou profundamente. 

- Se pudesse voltar ao passado...hoje sinto tanta vergonha por tudo que causei a minha mãe, a você e a mim mesma. - uma lágrima rola em seu rosto. 

- Mãe… 

- Não, Emma! Por favor, me deixe falar! Você precisa ouvir minha versão dessa...nem sei se devo chamar isso de história...tão marcada de fatos tristes. - limpou o rosto e suspirou. Bom...tudo que minha madrinha te contou é toda a verdade e não quero ter que voltar nessa parte. Só o que ela não sabia era que eu amava sim seu pai, e como o amava. Me tratava como uma princesa, não me deixava faltar nada. Claro que quando o conheci não esperava que me apaixonasse, minha intenção era sim seduzi-lo, tirar vantagem do seu status. Eu não me importava com o que falassem sobre minhas atitudes, afinal, quando se é jovem nunca vemos o errado, não é? - me olhou e abaixou a cabeça. - Ele era um homem bonito, atraente. E você tem muito dele. - sorriu de forma saudosa. - Trabalhava na agência de turismo do pai pra pagar a faculdade, fazia medicina. Hoje, com certeza, deve ter sua própria clínica. Mas não sei mais que isso. 

- Como ele se chama? - perguntei e a vi tensionar no mesmo instante. Levantou e foi até a janela. 

- Me perdoe, filha, mas mencionar o nome dele é trazer mais lembranças ruins. Como a que ele mostrou realmente quem era: um homem totalmente diferente do que era no começo. Era sim um esnobe, gostava de mostrar que tinha, mas nunca imaginei que seria capaz de fazer o que pretendia. Achei que ficaria contente por saber que teríamos um filho, que seríamos felizes, mas me enganei completamente. - ela fungou. Estava de costas para mim, mas sabia que chorava. - Ouvi ele em uma ligação com alguém do exterior. Negociava um alto valor para se livrar de você assim que nascesse. Já estaríamos em Nova Iorque quando isso acontecesse e quando tive noção dessa loucura surtei, entrei em seu escritório e discutimos feio. - virou e olhou em meus olhos. - Eu nunca deixaria que tirassem você de mim, Emma. Nunca! - disse com propriedade. - Ele tentou me convencer de todas as maneiras possíveis de que seria melhor assim, que não queria ter filhos, que "isso só interferiria em sua vida" e então o xinguei de todos os nomes que imaginar. Ele me bateu e me ameaçou, consegui agredi-lo e fugir antes que acontecesse o pior. Depois disso estava decidida a processá-lo, mas ele ameaçou a mim e minha madrinha. Disse que você sofreria as consequência se eu levasse isso a fundo. Então, quando você nasceu, tomei uma das piores decisões da minha vida: te entregar a um orfanato.

Tive muito medo, era jovem e ainda tinha 19 anos, não tinha condições de me criar, imagina criar você? Tive medo de que ele cumprisse com suas ameaças e foi por isso que fiz o que fiz. E você cresceu pensando que eu não a amava, filha. Eu quis tanto te dar um futuro, mas nunca conseguiria. Foi quando procurei mamãe e disse onde você estava e sumi da vida de vocês até então. E o resto da história você já sabe. 

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