2 - O Encontro part. 2

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- Espere! - Olhei para ela novamente. - Onde mora? Estou de carro e o motorista pode conduzi-la sem problemas.

"Motorista??? Digo pra essa riquinha que moro no morro? Será que ela desfaz o negócio se souber?"
- Não se preocupe com isso! - dei as costas e fui embora

Continuei andando em direção ao ponto de ônibus e senti um misto de sentimentos contraditórios. Alegria pela grana que iria ganhar, raiva pelo orgulho que senti na voz da garota e ao mesmo tempo um espanto pela forma como sei que ela mexeu comigo. Achei-a linda e...por que me comportei como uma boba diante dela? Não sei, não entendi.

"Ah, Emma! Você tem mais o que pensar para perder tempo com aquela baixinha!"

♧♧♧♧♧♧

Sexta-feira chegou e o dia estava lindo. Saí do laboratório às 17:00h, como sempre. Estava pensando nos serviços que me aguardavam em casa e senti cansaço por antecipação. Caminhei até o ponto de ônibus e vi um amontoado de gente no bloco A. Parecia trote. Ouvi várias vozes e, de repente, alguém falou a palavra "gringa". Senti uma coisa estranha e me misturei no meio do pessoal para ver o que seria aquilo.

Regina estava no meio de uma roda de rapazes que prendiam minúsculos pedaços de grafite entre os dentes. Eles queriam que ela tirasse os grafite da boca de cada um usando seus dentes.

Outros caras gritavam como bichos e umas garotas zombavam dela, que chorava, nitidamente com medo. Aquilo mexeu comigo e me encheu de ódio. Agi como que por instinto. Coloquei-me no centro da roda a seu lado.

- Chega dessa palhaçada aqui! A garota não tá a fim disso e vocês estão extrapolando.

- Ih... Quem é essa aí? Advogada dos calouros? - perguntou um dos caras.

- Dá um tempo, Swan! Vaza daqui ou vai sobrar pra você também! - disse um que me conhecia.

Segurei uma das mãos de Regina, que tremia, e falei em seu ouvido: - Vem comigo.

Fomos saindo da roda e um cara me pegou pelo braço com agressividade.

- Qual é, vadia? - me olhava com fogo nos olhos pela fúria.
Desvencilhei-me com força e dei-lhe um soco certeiro no queixo que o derrubou no chão, grunhindo de dor.

- Se tem algum vagabundo aqui, é você, seu babaca. - olhei para todos - Acabou a palhaçada por hoje! Se vocês estiverem a fim, a gente vai na sala da diretoria e joga a merda no ventilador.

Todos ficaram meio sem saber o que fazer. Continuei segurando a mão de Regina e a levei até o banheiro do corredor entre os blocos A, B e C. Entramos e a levei até a pia.

- Está tudo bem agora, querida. - passei água em seu rosto que se encontrava manchado e vermelho pelas lágrimas - Não vai acontecer nada com você. Eles são apenas uns idiotas, mas não vão te fazer nenhum mal. - permaneci olhando para ela.

Lavou o próprio rosto com mais calma e me afastei. Olhei para minha mão esquerda. Estava dolorida.

- Você se arriscou por mim. Não sabe o quanto me sinto grata! - olhou-me com o rosto ainda molhado.

Fiquei perturbada com aquele olhar e pela proximidade. Afastei-me com a desculpa de pegar papel toalha e estendi para ela que pegou de forma tímida.

- Obrigada!

Regina enxugou o rosto e começou a se arrumar diante do espelho. Ela vestia um vestido parecido com o que usava no dia em que a conheci, só que era preto. Calçava sandálias de salto alto. Estava com uma mochila de um tom rosa bem claro. Vendo-a assim, parecia uma menina tão jovem, tão indefesa.

Além do TempoWhere stories live. Discover now