{56} O ÚLTIMO ADEUS?

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Naquela mesma tarde Barton foi até a casa de Morá. Encontrou-a na sala regando cuidadosamente um plantinha florida. Quando entrou sentiu o mesmo cheiro de ervas que da primeira vez. Aquilo, de algum modo, o acalmou. Só era a segunda vez que entrava ali e já se sentia em casa. Era impressionante como tudo mudava com um pouco de sol e calor.

- Oi - disse ele, batendo na porta aberta com o nó dedo. - Posso entrar?

- Claro, Sr. Aton. Entre - ela respondeu ainda borrifando água na planta.

Barton entrou e colocou as mãos nos bolsos, olhando em volta com mais calma. Estava tudo tão limpo e arrumado que ele tinha medo de perturbar aquela ordem só com sua presença ali.

- Vejo que está bem melhor - comentou ela, dando uma leve olhada no rapaz, sem parar seu trabalho. - Você dormiu muito, mais do que qualquer Áureo de que eu tenha ouvido falar.

- Acho que eu estava mais para morto do que adormecido. Estou bem agora. - Ele suspirou e coçou o pescoço. - Olha, Morá, eu queria dizer que...

- Veio aqui se desculpar pela espada? - Ela colocou o regador sobre a mesa e virou-se para Barton com um sorriso tenro. Estava tão cheia de vida quanto a plantas que a cercavam. - Barton, aquela espada era importante para mim. O único motivo de eu tê-la confiado a você é porque era o que Mahkari teria feito. Não me arrependo. Eu disse pra você trazê-la de volta e você trouxe.

Ela caminhou até o baú no canto da sala e tirou de lá um embrulho de tecido cujo conteúdo tilintava. Morá o desenrolou sobre a mesa e revelou os dois pedaços da Assassina das Sombras como duas relíquias antigas e preciosas. A bainha tinha sido perdida na batalha e Barton se ressentiu ainda mais por isso.

- Talvez tenha concerto - falou ele, constrangido. - Se acharmos um bom ferreiro...

- Não quero concertá-la. - Ela tocou as marcas na lâmina com as pontas dos dedos. - É um pedaço da história agora. Vou deixá-la como está, colocar em um caixa de vidro. Pôr na parede, quem sabe. Não vou devolvê-la ao baú.

- Pra falar a verdade, quando você me deu essa espada antes de partimos, eu tinha quase certeza de que nunca voltaria.

Morá o olhou nos olhos.

- Eu nunca duvidei.

Barton conseguiu sorrir, mas logo voltou a ficar sério quando outra questão surgiu em sua mente, talvez o motivo real de ter ido ali.

- Morá, por que nunca me contou sobre minha mãe? Sobre ela ser uma Nahin?

Ela não pareceu surpresa com a pergunta. Puxou uma cadeira, sentou-se e pediu a Barton que fizesse o mesmo.

- Tália me pediu para guardar segredo - ela confessou com o olhar no passado, na noite em que Tália tinha chegado a Orm. - Só seu pai e eu sabíamos sobre isso e ela queria que continuasse assim. Quando ela ficou sabendo que estava grávida eu fui a primeira pessoa para quem ela contou, antes mesmo de Hedd. Ela estava muito feliz, Barton, mas também tinha medo. Medo de que você nascesse Áureo como ela e que fosse descoberto quando completasse dez anos, sem saber esconder sua natureza. Mesmo depois que ela morreu e você cresceu sem mostrar sinais de aura, eu preferi manter a promessa que fiz e não contar nada. Achei que fosse ser doloroso para você. Depois daquele dia você criou uma repulsa tão forte contra os Áureos que tive receio que começasse a odiar sua mãe também.

Ele nunca teria feito isso. Jamais seria capaz de sentir ódio por alguém de novo, e, com certeza, não por sua mãe. Até mesmo Hedd teria seu perdão. Depois do que fizera na gruta em Shinê, ter destroçado a imagem de seu pai projetada de sua alma, permitiu-se lavar o coração do peso do abandono do pai. Onde quer que ele estivesse, se ainda estivesse vivo, que soubesse que ainda tinha um filho.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now