{25} O MAPA DO VÉU

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Kraj estava caído em um chão fofo. Seu corpo todo doía. A viagem pelo túnel havia sido muito pior que as outras. E como nas outras, não fazia ideia de quanto tempo havia passado durante a travessia. Dias, semanas, meses... anos. Tudo era uma possibilidade. Controlar o fluxo durante a viagem era impossível, por tanto não sabia ao certo onde tinha ido parar; esperava que fosse na subdimensão certa.

Sem se mexer, abriu os olhos, esperando encontrar outro cenário desolado, cinza e de ar pesado. Ou pior: a completa escuridão de outra camada profunda como a que servia de prisão para Niharb.

Contundo, quando levantou as pálpebras viu, com surpresa, a luz brilhante do sol da tarde. Como estava de peito para cima, tinha visão do céu azul emoldurado por copas altas de árvores de troncos grossos.

Com um gemido de esforço, girou o corpo exaurido para ficar de bruços. Descobriu então que estava caído sobre um colchão macio de folhas secas, que estalaram sob seu peso quando se mexeu. Fitou em volta e viu-se cercado de árvores antigas até onde a vista podia alcançar.

O ar era fresco, o clima ameno. Ouviu o canto tranquilo de pássaros ao longe, enquanto suas narinas se enchiam com o cheiro de terra e folhas úmidas pela chuva recente.

Reuniu forças para ficar de pé, usando como apoio o tronco de uma árvore próxima. Pelo o que conhecia das camadas do Mundo Não Físico, esta deveria ser a última antes de alcançar o outro lado do Véu. No entanto, ninguém tinha mergulhado tão fundo para confirmar o que os livros antigos diziam, nem mesmo Kraj sabia que lugar era aquele. Não importava, entretanto. Seu único objetivo era encontrar o túnel que, ele esperava, o levaria até Shinê.

Soltou seu apoio de madeira e deu alguns passos sobre a cama de folhas mortas em uma direção certa. Podia sentir a energia do túnel fraca, estava muito longe da passagem. Novamente desejou que Umbra estivesse com ele para planarem graciosamente sobre a floresta.

Kraj andou por alguns poucos minutos antes de seu corpo pesar e o obrigar a sentar-se contra o troco de outra árvore. Como havia imaginado a luta contra o Rei Condenado e o tempo que passou na prisão da fera abissal custaram muito caro para sua aura que esforçava-se para mantê-lo vivo no mundo dos espíritos. A pressão naquela camada não era nem de longe tão esmagadora como as últimas que Kraj visitara; chegava até a ser acalentadora. Ainda assim era um ambiente onde só espíritos habitavam e, se caso seu poder fraquejasse e ele perdesse a proteção, sufocaria em pouco tempo.

- Não posso falhar agora - murmurou, procurando forças para ficar de pé novamente.

Ouviu então o vento farfalhar as plantas em volta. Não teria dado muita importância àquilo, teria até agradecido o frescor que a brisa trazia. Mas aquele não era um sopro comum pois estava repleto de aura. Aura Nahin.

Ignorando as dores musculares, Kraj ergueu-se com agilidade e desembainhou Mahiban, que agora era apenas uma espada comum já que ele não podia usar sua aura enfraquecida para alimentá-la. Estava sérios apuros. Como lutaria com um Nahin naquele estado deplorável em que se encontrava?

Viu sua situação só piorar quando sentiu mais auras cercando-o por todas os lados, já eram dezenas e outras mais se aproximavam. Kraj não via ninguém, apenas o vento se movia de lado a outro, dançando em volta dele, zombeteiro. Foi então que deu-se conta do obvio, que de tão cansado não tinha percebido: estava no Mundo Não Físico, Áureos não podiam chegar ali facilmente. Nahins não são os únicos que carregam a aura verde, lembrou-se.

- Apareçam - gritou para o vento. - Não precisam se esconder, não vou lhes fazer mal. - O farfalhar diminuiu, mas não parou. - Não sou inimigo, estou apenas de passagem.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now