𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂

{38} COMPLICAÇÕES

Dimensão Shinê

Lia acordou sobressaltada, esperneando como se algo frio esgueirasse por baixo dos lençóis. Levantou-se rápido, com o rosto suado, procurando pelo quarto escuro. A cama de Barton estava vazia, as cobertas jogadas no chão. Tinha algo errado com o Véu, ela podia sentir.

- Barton? - chamou-o caminhando até a sala. Nem se quer tinha vestido as calças, estava apenas com um short curto e sutiã, como gostava de dormir. - Barton você está aí?

Ela estava meio atordoada e não soube dizer se a causa era o despertar repentino ou a sensação estranha que sentia. Barton estava em pé de frente para a imensa janela, olhando para as luzes inquietas da cidade lá embaixo. Também tinha acabado de sair da cama.

- Você também sentiu? - Lia perguntou, indo até a janela.

- O que foi isso? - Ele falava baixo como se tivesse medo de atrair atenção de alguma coisa para aquele quarto. - É tão...

- Estranho - Lia completou. - É o Véu, está deformado.

- E o Véu tem forma? - Barton finalmente virou-se para ela e viu seu rosto suado e o cabelo loiro despenteado pelo travesseiro.

- Você é um Áureo agora, Barton. Deve conseguir sentir o Véu, seu poder vem de lá.
- Eu tenho esse poder a pouco mais de dois meses - deu de ombros - todas essas sensações são novas pra mim. Só que essa é que mais me incomoda.

- Sauly deve saber o que está acontecendo. É melhor irmos vê-la amanhã bem cedo.

Barton assentiu. Tentou afastar a sensação incômoda e pensar em outra coisa e era fácil fazer isso quando Lia estava por perto.

- Sinto sua falta - revelou ele, dando as costas para a janela para fitá-la nos olhos, aqueles olhos que pareciam duas pequenas joias refletindo as luzes da cidade.

- Por quê? Estou com você, não estou? - Seu olhar evitou o dele.

- Você está aqui, mas sua mente não. Lia, desde do dia que chegou daquele passeio pela cidade, você está sempre distraída e calada. E não pense que não percebo que fica olhando para suas mãos como se tivesse algo nelas.

- Talvez tenha - ela murmurou encarando o chão.

- Você ainda o ama? - Barton foi direto ao ponto. Lia ergueu os olhos hesitantes para ele. - Kraj, você ainda sente alguma coisa por ele?

- Ficou louco, Barton?

- Eu não sou burro, Lia. Sei que já o amou, mesmo que ele tenha te enganado, ou sei lá o que aconteceu. Acha que eu não sei que o que você foi fazer na cidade tinha a ver como ele? Então, você ainda o ama?

Ela o fitou com um misto de confusão e medo. Tinha medo do que responderia. Não queria mentir para ele, mas também não queria mentir para si mesma.

- Eu preciso de tempo - pediu ela. - Por favor.

Barton engoliu em seco, não era a resposta que esperava ouvir. Antes que ele pudesse dizer algo, alguém esmurrou a porta.

- Bartolomeu Aton! - gritou uma voz do corredor. - Aton, por favor, abra a porta.

Movido pela urgência no tom daquela voz ele correu até a porta, pulando por cima da mesinha de centro. Quando abriu-a e deu de cara com três soldados Áureos em uniformes completos, seu cenhos franzidos indicavam que não estavam em sua melhor noite.

- O que aconteceu? - perguntou Barton.

- O conselho invocou uma reunião de emergência com a Arcana. - O homem alto e de ombro largos que dava a mensagem era um Niffj como indicava o uniforme vermelho escuro. - Você e a senhorita Elenor foram convocados. Vista o seu uniforme, tem um seleni aguardando-os. Sairemos em dez minutos.