{8} O CONSELHO

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Dimensão Shinê

   — Eu vou ter que dizer alguma coisa? – indagou Barton, nervoso. – E se eles quiserem que eu use minha aura?

    — Relaxe, vai ficar tudo bem. – Sauly o acalmou com a mão em seu ombro. – Só fale se eles perguntarem algo. E ninguém vai pedir para você usar seu poder lá dentro. E nem pense em fazer isso, é proibido! – Ela deixou claro, com o dedo indicador erguido.

    Estavam os dois caminhando pelos sinuosos corredores do prédio Cúpula, a cede do governo máximo de Shinê, onde se encontrava o Conselho das Auras, composto pelos mais influentes representantes dos portadores de aura e humanos. Toda vez que Barton se lembrava dessas palavras, ditas pela Arcana, seu nervosismo aumentava.

    Aquela audiência serviria para apresentá-lo oficialmente aos governantes dos países de Shinê e também seria o início da discussão sobre o envio das tropas para lutar em Híon. A Arcana havia deixado evidente a importância de causar uma boa impressão no membros do conselho. Passe confiança, ela dissera, eles precisam entender que você é a última esperança daquele povo. Barton tinha apenas balançado a cabeça, tentando concordar.

    Foi um pouco difícil para ele entender que Sauly, apesar de ser uma Arcana, não tomava todas as decisões ali. O conselho, na verdade, tinha até mais força de decisão que ela própria. Segundo ela, aquele modo de governo era o melhor para todos, sem a centralização. Porém, Barton tinha percebido algo a mais em seu tom de voz, um certo afastamento deliberado de seu lugar como Arcana.

    — ...E mantenha sua postura ereta. Está me ouvindo, Barton? – Sauly o chamou.

    Ele passou o dedo pela gola apertada de seu uniforme branco, preparado especialmente para aquela ocasião.

    — Sim. Entendi – disse, erguendo o queixo.

    Apesar de toda aquela pompa e dos protocolos de comportamento dos quais não se lembrava nem da metade, se sentia no corredor de uma prisão, sendo guiado para sua sela fria, onde ficaria largado para o resto da vida. E os soldados Áureos que os acompanhavam de todos os lados não ajudavam em nada para amenizar aquela sensação horrível.

    Queria que Lia estivesse aqui. Ela saberia lidar com isso tudo bem melhor do que eu, lamentou. Mas ela não estava. Lia tinha que ficar quieta para que pudesse se curar e era ele quem tinha que tomar as rédeas da situação agora. Estufou o peito e alargou os passos para chegar logo e acabar com isso. Passe confiança.

    De frente para um par de portas altas de madeira, com detalhes em ouro seu coração acelerou apesar da determinação. Quando os soldados a abriram, ele respirou fundo e acompanhou Sauly salão a dentro.

    Era enorme! Barton não resistiu ao ímpeto de erguer a cabeça e olhar para o teto abobadado e transparente, que o permitia ver o céu azul acima dele. Um lustre de tamanho exagerado flutuava sem muito uso durante o dia além de servir como ornamento. O salão parecia um estádio, em formato circular com as paredes apoiadas em pilares de madeira rústica, como troncos de sequoias antigas, um detalhe que contrastava com a modernidade tecnológica do lado de fora.

    Barton deu-se conta de que estava parecendo uma criança deslumbrada, com a cabeça erguida e o queixo caído com tudo o que via. Recuperou a concentração e a pose de antes, para fitar as pessoas à sua frente. Tinha bem mais gente do que esperava. Pensava que encontraria apenas os cinco membros do conselho, mas estava diante de dezenas de pessoas de aspecto sério. Entretanto, ele podia facilmente distinguir os conselheiros: eram os que se destacavam nos assentos dos patamares mais elevados da "arquibancada".

    O murmurinho que se espalhava e ecoava pelo grande espaço, sessou assim que Barton chegou no centro do salão e tomou seu lugar em um púlpito circular. Sauly o deixou ali e seguiu para sua luxuosa cadeira à frente de todos os conselheiros. Barton sentiu-se sufocado com todos aqueles olhares estranhos sobre ele. A gola do uniforme voltou a incomodá-lo, mas dessa vez ele resistiu a vontade de enfiar o dedo para afrouxá-la. Respirou fundo novamente e suas narinas se encheram com um perfume suave e doce, natural. Vinha dos pilares de árvores? Ele distraiu-se por um instante e esqueceu do que Sauly o dissera para fazer assim que estivesse a postos.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now