{35} SOPRO DE LÂMINA

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A sala do trono no Castelo da Fúria era ampla, não muito requintada, como Shans preferia, mas grande o suficiente para o Imperador se sentir confortável.

A maior parte da fortaleza ficava dentro da montanha, mas não aquela sala, o ponto mais alto da construção, projetada para a fora das rochas. Altas colunas de pedra bruta sustentavam o teto. As paredes curvadas e irregulares terminavam de repente em uma abertura comprida, como um perigoso mirante de onde era possível ver Valindra lá embaixo, a floresta morta além dela e as estradas cinzentas distantes.

O trono de Shans ficava de costas para aquela paisagem desolada, para que quem entrasse o visse sentando ali e emoldurado pelas terras que lhe pertenciam. As tochas fincadas na parede estavam fracas e exigiam ser trocadas, quase não iluminavam mais a mesa retangular no centro do salão, tomada por mapas de guerra.

Quando Denis chutou uma das pesadas portas e invadiu o salão seguido pelo pequeno grupo de rebeldes, encontrou o Imperador acomodado em sua suntuosa cadeira, a única coisa ali com algum requinte, com entalhes cuidadosos na madeira. O barbudo já os esperava, vestia apenas parte inferior da armadura, mantendo o peito e os braços nus. Denis logo viu que aquilo não era um bom sinal.

- Só isso? - indagou o Imperador com desdém, contando os invasores. - Apenas seis?

Os outros Áureos haviam se espalhado pela fortaleza para dar fim aos últimos soldados que não tinham ficado presos no corredor, não muitos e em algumas horas - se tudo corresse bem - toda a fortaleza teria sido tomada. Entretanto, nada daquilo adiantaria se Shans não caísse, era preciso cortar a cabeça da serpente.

- Acabou, Shans! - Allan usou um tom autoritário. - Sua fortaleza caiu. Renda-se!

Shans não tinham nenhuma intenção de se render, e nem os rebeldes tinham intenção de mantê-lo prisioneiro. Allan só achou que seria intimidador mostrar que estavam no controle da situação.

- Como vocês são irritantes. - O Imperador ficou de pé. Os Áureos se preparam para a luta, mas ele só caminhou em volta de seu trono. - Como entraram? Quantos espiões haviam aqui dentro? - Sorriu. - Criaram coragem para me atacar por que Kraj desapareceu, é isso? Acham que sem ele aqui vocês podem se rebelar?

- Nós nunca deixamos de nos rebelar - Isis se impôs. - Já está mais do que na hora de fazermos justiça.

- Justiça? - Ele ergueu o braço forte para apontar para a Nahin do ar. - Vocês não sabem a sorte que tiveram. Só estão vivos graças a Kraj. Se dependesse de mim eu teria exterminado todos os Áureos há muito tempo. E logo dependerá. Eu tomarei o lugar do Mestre das Sombras e vocês todos cairão.

- Vamos ver se consegue fazer isso sem a cabeça! - A impulsividade característica dos Niffj aflorou em Denis e ele partiu para cima do Imperador com velocidade impressionante.

Shans ergueu o punho e o atingiu no rosto com um soco poderoso, o barulho foi como o de um touro atingindo uma parede de aço. Denis foi lançado de volta como uma bola que vai e volta. Seu corpo arrastou-se no chão, raspando a armadura escarlate na rocha. Mesmo com toda sua resistência, um fio de sangue escorreu de seu lábio inferior.

- Que droga, Denis, não seja precipitado! - Allan o repreendeu, ajudando-o a ficar de pé.

- Foi mal - desculpou-se. - É que ele fala muita besteira.

- Vocês me fizeram um grande favor vindo aqui hoje. - Shans os encarava com um olhar negro. - Vou despedaçá-los um por um e expor os pedaços para que todos vejam que a resistência Áurea não é nada perante mim.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now