{21} RASTREADA

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Lia despertou no quartinho de Anakias. Acordou gritando e se debatendo, seu rosto molhado de suor e lágrimas.

- Lia, calma! - o Aceta tentou contê-la, mas ela era forte demais. - Lia, está tudo bem. Já passou!

Ela caiu da poltrona e ficou olhando para o chão, respirando pesadamente. Seu corpo todo tremia, mas parecia estar se acalmando. Anakias continuou a tranquilizá-la:

- Você está bem, foi só uma lembrança. Você está segura.

Ele ajudou-a a ficar de pé e ela sentou-se novamente. Lia não parava de encarar as palmas das mãos, como se ainda pudesse ver o sangue que as manchava. O aceta chamou-a duas vezes, ela não respondeu, ele, então, segurou seu rosto e fez com o que Lia o visse.

- Você vai ter que ser forte - falou. - Eu sei que parece do que tudo aconteceu de novo, mas é só uma lembrança. Você recorda o que me pediu antes?

Lia assentiu.

- Eu pedi para... me fazer lembrar - respondeu com a voz fraca.

- Isso. Dê um tempo a você mesma para voltar a essa realidade. Quer um copo com água?

Ela assentiu de novamente. Anakias encheu um copo com água de uma jarra que já tinha preparado antes. Lia bebeu apenas a metade e dispensou o resto. Secou o rosto com o dorso das mãos e respirou fundo várias vezes, olhando em volta como se só agora tinha percebido onde estava.

- Eu preciso ir - disse ela, inclinando o corpo para ficar de pé.

- De jeito nenhum - Anakias segurou-a pelos ombros. - Não vou deixar que saia nesse estado. Fique um pouco até se acalmar.

Sem presença para argumentar, ela concordou. Tentou relaxar, mas as imagens dos corpo e do sangue voltavam à sua mente como flashes. Ela lembrava do que tinha feito àquela gente e sempre tinha se culpado por isso. Mas reviver tudo tão vividamente fora mais traumático do que pensara.

- Pelo Véu, o que foi que eu fiz? - perguntou-se escondendo o rosto entre as mãos. - Por quê, Anakias? Por que ele fez aquilo comigo? Por que me enganou?

- Foi por isso que quis voltar? Queria respostas para essa pergunta?

Ela ergueu a cabeça para fitá-los com os olhos marejados.

- Eu queria saber por que ele me amava... - respondeu contendo o choro. - Ele sempre me disse que me amava e eu nunca soube por quê. Não lembrava dos dias que passei na estalagem, nem do dia na... cachoeira.

Anakias expirou, arrumou seus cachos brancos para trás e sentou-se ao lado dela.

- A poção que ele te deu deve ter feito você ter esquecido isso com o tempo, ou, quem sabe, você mesma escolheu esquecer.
- Eu?

- Sim. Com defesa. Para tornar as coisas mais fáceis pra você - ele explicou. Anakias tinha visto as memórias de Lia. Sabia como eram aterrorizantes e entendia o motivo de parte daquelas memórias terem sido enterradas pelo subconsciente da Niffj.

- Eu lembro das vidas que tirei, mas não lembrava de... Erik.

Dizer aquele nome de novo era muito estranho, quase errado. Ele me enganou!, pensou como se tivesse acabado de redescobrir aquilo.

- Então, tem sua resposta? - Anakias perguntou calmamente. - Sabe agora por que ele te ama?

- Ele não me ama. Foi tudo uma ilusão.

Ela quis sentir raiva de Kraj, de Erik, mas não conseguiu. Por algum motivo, agora que se lembrava de tudo, a única vontade que sentia era de resolver as coisas com ele, tirar tudo à limpo. Naquele momento a culpa que sentia pela guerra que viria só aumentou.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Där berättelser lever. Upptäck nu