{52} ANJO NEGRO

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Lia e Barton apenas correram. Correram sem olhar para trás, refazendo todo o caminho de volta até encontrarem um saída. Eles irromperam por um par de portas largas que os levou para outro amplo salão. Esse ainda mais opulento que qualquer outro lugar que tinham visto ali dentro, e Lia logo soube porquê.

- Estamos na sala do trono - falou ela ofegante. O teto era alto e piramidal e tinha uma acústica incrível.

Barton se virou para o trono luxuoso, acolchoado com tecido azul-noturno. Era ali que Kraj se sentava. Era dali que ele dava suas ordens e comandava as Sete Regiões. O rapaz ignorou a vontade de destruir aquele lugar e virou-se para as portas que os levariam para fora.

- Vamos, Lia, esse lugar me dá nojo.

Antes que pudessem tocar a porta, o chão tremeu e um estrondo terrível retumbou pelas paredes. Os intricados vitrais nas janelas altas se estilhaçaram todos ao mesmo tempo, derramando uma chuva de vidro sobre eles. Era como se o mundo estivesse se abrindo em um grito de fúria e dor. Lia, soube que Sauly tinha disparado a sua flecha, e aquele lugar viria abaixo muito em breve. Chutou as portas com força exagerada, esmigalhando-as tanto quanto os vitrais, e saiu para a esplanada ladeada de esculturas de quimeras mitológicas.

Do lado de fora, os dois ergueram a cabeça para olhar a coluna de luz que se erguia alto no céu, sua base partia do local exato onde antes estivera o calabouço de Dim, agora era um buraco coberto de poeira. Quando Barton achou que o barulho ensurdecedor nunca mais cessaria, o silêncio os rodeou. Até o barulho da luta feroz além das muralhas calou-se para acompanhar o evento.

A luz piscou antes de enfraquecer e sumir. Deixou para trás um furo entre as nuvens carregadas por onde era possível ver o céu azul que elas esconderam por décadas, mas a visão durou pouco pois a densa cobertura cinza logo se remontou.

- Sauly... - sussurrou Barton, procurando qualquer sinal de sua aura.

Então ele viu dois pontos brilhantes vindo ao chão em grande velocidade, como dois meteoros brancos mirando a terra. Tão próximos um do outro que se confundiam.

- Estão vindo para cá! - gritou Lia.

- São eles. - Barton exibia uma olhar estranho para o céu. - Estão vivos.

- Isso não é possível.

Os meteoros se aproximaram e passaram tão rápido que Lia mal conseguiu ver quando chocaram-se com o chão da esplanada, destruindo as estátuas no caminho, outras se partiram com o tremor do solo. Poeira subiu acompanhada do cheiro de terra queimada. Barton ouviu Lia gritar por seu nome em algum lugar em meio à confusão de sons e areia caindo. Mas ele estava concentrado em outra coisa: uma aura fraca oscilando alguns metros diante dele.

Com um gesto simples, Barton moveu correntes de ar que levaram a poeira para longe e permitiu que o cenário de destruição ficasse totalmente visível. Haviam duas crateras ferindo a beleza da esplanada. A mais distante ainda fumegava e estalava, a mais próxima, ele podia ver bem, guardava o corpo ferido de Sauly, sujo de areia escura e sangue... sangue que escapava de abdômen atravessado pela lança prateada de Nayrú.

- Não! - gritou ele e correu para o buraco. - Não. Sauly!

Pouco restava das roupas da Arcana, apenas algumas tiras de tecido resistiram ao calor intenso. Barton apoiou cuidadosamente a cabeça da mulher em seu colo, procurou por queimaduras em seu corpo, porém, o único ferimento que encontrou foi o que a arma arcana havia criado. Ele puxou a lança para fora o mais cuidadosamente que conseguiu com sua mão trêmula. Sauly reclamou com um gemido e entreabriu os olhos.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now