{51} UMA ÚLTIMA FLECHA

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Barton achou que o mundo tivesse explodido diante de seus olhos. Achou que não seria capaz de enxergar de novo. Mas a luz cessou, regrediu. Ele se preparou para ver o corpo de Dim coberto de sangue, com o peito perfurado pelo próprio irmão. Tirou o braço da frente do rosto e deparou-se apenas com Nayrú segurando sua longa arma contra o piso. Sauly estava ajoelhada diante dele, aos prantos. Dim havia sumido. Não só seu corpo, mas também sua aura enfraquecida. Dele restou apenas as correntes que o prenderam por décadas e uma mancha escura, como se o próprio sol o tivesse desintegrado.

- Você o matou! - esbravejou a Arcana. - Matou seu próprio irmão!

Um barulho estridente fez estremecer as paredes do calabouço. Algo ainda mais forte do que Barton ouvira naquela manhã em Shinê. Ele e Lia se encolheram, com as mãos nos ouvidos, cientes de que lá fora, no céu, a abertura aumentava. Um dos Arcanos não existia mais.

- Era necessário - falou Nayrú sem qualquer sinal de arrependimento na face. - Eu precisava do poder dele. Não vou aceitar desaparecer.

- Você se tornou um monstro. - Sauly ficou de pé, sua expressão era uma máscara de fúria. Faíscas brancas estalaram ao redor da Arcana.

- Barton, é melhor ficarmos longe - aconselhou Lia, dando andando de costas. - Afaste-se, Barton.

Ele não relutou em obedecer, deu espaço para Sauly e sua ira. As faíscas se transformaram em raios brancos que passeavam pelo corpo da mulher e queimavam o chão ao seus pés. Outro flash luminoso e nas mãos da Arcana surgiu um arco prateado, detalhadamente ornamentado com desenhos que imitavam raios de sol. A corda metálica era tão fina e brilhante que parecia capaz de cortar ao mais leve toque. Porém o dedo de Sauly não se feriu quando puxou-a para trás, mirando Nayrú, e uma flecha de luz materializou-se na arma.

- Você não é mais meu irmão - proferiu a Arcana, os olhos faiscando. Ela soltou a flecha que viajou tão rápido quanto um raio.

Nayrú defendeu-se com sua lança e desviou a luz para o alto. O teto explodiu em milhões de pedaços de rocha e madeira, expondo o cômodo metros acima. Lia e Barton se jogaram no chão para evitar os escombros, os dois teriam sido esmagados se Barton não tivesse parado as pedras em pleno ar usando seu poder Nahin.

- Sauly! - berrou ele. - O que está fazendo? Vai nos enterrar aqui!

Ela não parecia ouvir, disparou outra flecha. Um rombo na parede cuspiu terra e poeira para todos os lados. Lia ficou perto de Barton e puxou-o para a saída antes que esta fosse bloqueada.

- Vem! - gritou ela.

- Então vai tentar me matar agora? - esbravejou Nayrú, em posição de batalha. - Você o ignorou por todos esses anos e agora quer se vingar porque eu o libertei?

- Você piorou tudo. Destruiu o equilíbrio!

Outro disparo de luz e um pequeno terremoto demoliu metade de uma parede. As pedras que caíam do alto pareciam evitar os dois Arcanos. Enquanto isso, Lia e Barton alcançaram a porta e pararam no corredor, vendo e ouvindo a luta à distância.

- Ele matou Dim - falou Barton como que para convencer a si próprio. - Um Arcano morreu, Lia. Achei que eles não podiam morrer...

- Não podiam ser mortos por pessoas como nós. Eles... - ela começou hesitou - Aquelas armas, são as mesmas usadas contra as feras abissais, a lança, o arco e Dim possuía o cetro.

- Sauly disse que os yomei nasceram para substituir os Arcanos. - Ele olhou Lia no fundos dos olhos cor de mel. - Não pode ser, pode?

Lia respirou fundo.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Onde as histórias ganham vida. Descobre agora